enquanto o fim não vem, mafalda santos

Fotografia da minha autoria


O entusiasmo para ler o livro que me faltava da Mafalda Santos — excluindo o infantil — não estava escrito, mas era quase palpável, porque acho absolutamente fascinante a forma como constrói as suas narrativas. E terminei a sentir que este é o meu favorito.


 uma permanente dúvida

Enquanto o Fim Não Vem divide-se em dois planos: por um lado, temos o inspetor Lobo a tentar solucionar o mistério que envolve a morte de Laura; por outro, temos Afonso, um escritor que apenas pretende que o permitam escrever aquilo que gosta. Pelo meio, ficamos presos a uma teia de incertezas, que nos fazem duvidar até da nossa sanidade.

É quando acreditamos ter entendido o desenrolar da narrativa que a autora nos vira do avesso e nos leva de regresso ao ponto de partida. Com uma construção frenética, que nos agarra desde a primeira páginas, as perguntas multiplicam-se e as pontas parecem não ter forma de serem atadas. E, ainda assim, o leitor acredita em todos os cenários criados, em todas as sequências, mesmo que tenha idealizado teorias contrárias, uma vez que todos os detalhes têm uma razão de ser — continuo a acreditar que essa é uma das maiores valências da escrita da Mafalda Santos. Além disso, acho-a exímia na arte do «mostrar e não contar», desafiando-nos a estabelecer ligações que não são óbvias.

«Já bastam os monstros invisíveis, que não podem ser apanhados»

Sem poder desvendar muito mais acerca da narrativa, achei interessantes as reflexões sobre escrita, processos de criação e bloqueios, da mesma maneira que adorei a forma como abordou a frustração, o luto, os reencontros e as subtilezas que nos influenciam. No final, fiquei com a sensação de que não percebi nada do que aconteceu, no melhor sentido possível, porque é um livro insano e incrível, que não parou de me surpreender.

Enquanto o Fim Não Vem deixa a porta aberta para inúmeras interpretações da história, até porque, enquanto esse fim não chegar, há uma infinidade de realidades atrás da cortina, impulsionando sombras e incertezas que nos desarmam a cada novo instante.


 notas literárias
  • Desafio: 5 autores para 2025
  • Gatilhos: Linguagem gráfica e explícita
  • Lido entre: 1 e 2 de outubro
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Policial e Thriller
  • Pontos fortes: A imprevisibilidade, a construção da história, a escrita e o ritmo
  • Banda sonora: O Mundo ao Contrário, Xutos & Pontapés | Come Together, The Beatles | Suite Bergamasque, L.75, 3. Clair de Lune, Claude Debussy & Alice Sara Ott | Fim da Canção, Ornatos Violeta

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