Entre Margens

Capitulo 2 (conclusão)
03.08.2014


(Freguesia de Aguim-Anadia-Peneireiro-Vendas da Pedreira-Malaposta-Avelãs de Caminho)

Tantos cabritos que se vêem nos campos, dá vontade de trazer um para casa. São tão adoráveis.
Ao final do dia, para passar o tempo, há quem esteja a jogar à pinhata. A diversão está mesmo nas coisas mais simples. Fiquei com vontade de pedir ao meu pai para parar o carro, assim ia jogar com aquele grupo

(Águeda)

É inevitável, começa a dar kizomba desperto logo. E improviso uma dança qualquer possível de ser executada dentro do carro. Volta e meia o meu pai acompanha-me na cantoria e na coreografia. E a minha mãe observa-nos, rindo e comentado «tal pai, tal filha». 

(Albergaria a Nova-Branca-Curval-Pinheiro da Bemposta-Oliveira de Azeméis-São João da Madeira-Airas-Arcozelo-Freguesia de Caldas de S. Jorge-Caldas de S. Jorge)

Durante três anos fiz o caminho de casa até às Caldas de S. Jorge, para vir às termas por causa do meu problema no nariz e na traqueia. Passava aqui as manhãs, durante catorze dias, fazendo uma sequência de quatro tratamentos, que variavam entre inalações nasais e nebulizações. É impressionante como tudo me parece igual, apesar de não vir aqui há tanto tempo. No meu último ano já apanhei as remodelações das termas, agora está um edifício completamente renovado, mas continua a ter o mesmo toque familiar. 

20h08: Paramos no parque que há mais a baixo das termas para jantar. Acompanham-nos?
Está um espaço agradável, com uma ponte que nos permite seguir caminhos pedestres. É pena hoje estar frio e já ser tarde, mas pode ser um programa bastante interessante para um sábado/domingo à tarde (ou mesmo de manhã). Tem um café e gaivotas para andar na água. Já não me lembrava do coreto, mas agora que o vi sei que continua belo. 

20h48: É tempo de rumar à última paragem: casa

(Vila de Mozelos-Picoto-Vendas de Grijó-Vila de Argoncilhe-Seixezelo-Feiteira-Gaia)

21h17: Chegamos a casa. Lar, doce lar. É hora de fechar o caderno porque a viagem chegou ao fim, mas já se começa a pensar na próxima.

Capítulo 2 (continuação)
03.08.2014


(Valdonas-Freguesia de Junceira-Carril-Outeiro-Freguesia da Serra-Pai de Aviz-Serra)

O coreto da Serra, pintado de azul e com duas partes, é completamente distinto de todos os outros. Não consegui fotografar, mas memorizei-lhe os traços e a beleza.

(Cepos-Carqueijal-Vendas do Rijo-Ventoso-Bodegão-Ferreira do Zêzere-Casais-Freixo-Ceras-Calçadas de Areias-Venda dos Tremoços-Pereiro-Tojal-Alvaiázere-Venda dos Olivais-Freguesia de Rêgo da Murta-Carvalhal de Pussos-Barqueiro-Carvalhal-Vendas de Maria-Venda Nova-Freguesia do Chão de Couce-Ansião-Portelanos-Concelho de Penela-Venda dos Moinhos-Serradas de Freixiosa-São Simão-Casais da Cabra-Pastor-Senhora da Glória-Rosas-Ponte do Espinhal)

Viemos à procura do Castelo da Penela. Não sei porque, mas adoro visitar castelos. Se calhar, noutra vida qualquer, fui rainha/princesa/criada em algum. 

17h23: Chegamos ao topo, vamos agora ver o seu interior. 
Não é muito grande, o que permite visitá-lo rapidamente. Como gosto de observar os pormenores deixei-me andar devagar. Fotografei, perdi-me na paisagem verde pintalgada pelo branco das casas, vi Penela no seu todo e pisei o ponto mais alto do castelo, bem junto à nossa bandeira. 
Tem uma planta irregular e as muralhas variam de altura. Para além das torres, vim depois a saber os nomes daquilo que se pode visitar: o Portão Principal (Brecha das Desaparecidas), a Porta da Vila, a Porta da Traição, o Castelejo (Torre de Menagem), a Igreja de S. Miguel, o Espaço Museulógico - Arte Sacra, o Anfiteatro e o Quintal das Lapas. Além disso, podem ser vistas sepulturas cavadas nas rochas e objetos medievais. 
Tenho a sensação de que houve algum tipo de feira medieval por lá, isto por causa das decorações que por ainda permanecem expostas. Mas também é com tristeza que digo que me parece um pouco abandonado, mas posso estar a ser injusta. Gostava ainda de ver placas que nos permitissem saber para o que estamos a olhar, não só para sabermos os nomes, mas para que aquilo não seja um mero espaço, mas sim pedaços de pedra com história. Porque a têm e acho interessante sabe-la.
Não há-de ser a última vez que cá venho, fica garantido!

18h06: Estamos de volta à estrada, em direção a casa.

(Santo Amaro-Camarinha-Alfafar-Condeixa-a-Nova-Coimbra)

Atravessando a ponte, e olhando para o lado de fora da janela, fico saudosista por ver Coimbra ao longe. E eu sempre ouvi cantar que «Coimbra tem mais encanto na hora da despedida».

(Santa Luzia-Concelho da Mealhada-Mealhada)

Começo a sentir os olhos a fechar por causa de só ter dormido 3h30. E o cansaço da viagem também contribui para isso. Mas voltava a repetir tudo e acordava mais cedo se fosse necessário, porque é assim que sou feliz. 
A estrada vai mais cheia agora. E eu permaneço com o olhar de fora da janela observando a paisagem.



Continua... 
(qualquer dúvida não hesitem, deixem nos comentários ou mandem e-mail)

Capítulo 2 (continuação)
03.08.2014


Fátima é o Santuário, o Museu das Aparições, a Igreja nova e todos os seus recantos. Mas é, principalmente, as pessoas, a fé que as move. As promessas que fazem e que cumprem. Estive quase a desfazer-me em lágrimas por ver uma jovem a chorar enquanto dava voltas à capela das aparições de joelhos e com o filho ao colo. Não escondo, mexe comigo. E isto só nos mostra que ali não há idades e que estamos longe de conhecer as histórias de cada um.
Pela primeira vez, pelo menos que me lembre, e enquanto esperava que a minha mãe desse as suas cinco voltas a pé, vi a procissão sair. E tenho que realçar a simpatia de um senhor que pediu à mulher para se chegar mais para ele para que eu me pudesse juntar às grades para fotografar o momento. Acho que era Espanhol, mas aqui o que importa é o gesto, que sendo simples foi suficiente para que não mais me esquecesse. 
Antes de ir embora fui comprar mais um dedal para a minha coleção.

12h00: Hora de deixar o local que tantas vezes visito, com a promessa de voltar. Se correr bem em setembro venho trajada, se não em fevereiro voltamos a encontrar-nos. Agora vamos sem destino certo.

(Freguesia de Atouguia-Fontaínhas da Serra-Murtal-Mourã-Atouguia-S. Sebastião)

Ao longe, lá bem no alto, avista-se o Castelo de Ourém.

(Pinhel-Melroeira-Corredoura-Ourém)

A rotunda de Vila Nova de Ourém é toda catita. 

(Vale da Aveleira) 

12h26: Paragem rápida no Continente para comprar coisas de última hora para o piquenique. 
Júlio Magalhães, encontrei um livro teu a metade do preço. Finalmente vamos encontrar-nos literariamente este verão. 

12h48: De volta à estrada.

(Lagarinho-Alcaidaria-Freguesia de Alburitel-Alburitel)

Que paz olhar em meu redor e ver os terrenos planos e extensos, casas ao longe pintadas de branco e janelas azuis, o céu coberto de nuvens que mais parecem pedaços gigantes de algodão. Que bom que é fechar os olhos e sentir o cabelo a ondular por causa do vento e o sol a queimar-me a pele. Temos a estrada praticamente só para nós. E a sua imensidão leva-nos para um mundo a descobrir. 
Esta paisagem de árvores estrategicamente colocadas, com casas espalhadas nos seus intervalos, é um cenário de luxo para quem gosta de observar. Faltam-me as palavras para descrever com justiça e explicar o quanto é prazeroso ver as casas rurais perfeitamente desalinhadas. 

(Tomar)

É-me familiar a sua beleza, o seu jardim, o rio Nabão, o Infante Henrique que nos recebe, o Convento de Cristo que vejo ao longe, o Hospital de fachada deslumbrante, as Matas Nacionais, a Comissão de Iniciativa e Turismo, a igreja de Nossa Senhora da Conceição,...

13h24: Paramos para tirar fotografias ao Convento de Cristo e Castelo dos Templários. É esplendoroso e merece uma visita com mais calma. Tenho que voltar para o percorrer no seu todo. Por ter sido construído ao longo de vários séculos, esta fortaleza apresenta vários estilos arquitetónicos e tem imensos pontos de interesse. Fica-se mesmo fascinado com a sua beleza, o seu espaço envolvente, a sua dimensão e a vista que nos parece abraçar.

13h30: Voltamos a descer, desta vez para almoçar. O local escolhido é a Mata Nacional dos Sete Montes. São servidos?

14h30: Findo o almoço, vamos até ao centro de Tomar passear, tirar fotografias e carregar o coração com mais recordações.

A Mata Nacional dos Sete Montes é um espaço bastante agradável, com um jardim muito bonito, dois parques de merendas (pelo menos) muito asseados, parque infantil e dois caminhos pedestres que, confesso, não sei onde terminam. Um dia descubro.
Saímos rumo ao centro histórico, percorrendo as suas ruelas antigas, de calçada gasta e algumas cruzes da ordem dos templários. Entramos na igreja de São João Baptista e ao sair fui atraída pelo Fado de Gisela João, cujo CD tocava numa loja. A cantarolar, entrei até porque gosto de ver artesanato e porque pretendia comprar mais um dedal. Acabamos por ficar à conversa com a dona do estabelecimento, uma senhora extremamente simpática e atenciosa, e descobrimos que o marido é de S. João da Madeira. A Festa dos Tabuleiros também foi abordada. Para o ano, quem tiver oportunidade (e esperando enquadrar-me nesse grupo), passe por aqui de 4 a 13 de julho, altura da festa, sendo que o dia mais importante é o 12, porque é quando ocorre o cortejo. A única vez que a vi foi pela televisão e vale bem a pena. Prometo voltar!

16h05: Carro ligado, é hora de rumar a outras paragens.


Continua... 
(qualquer dúvida não hesitem, deixem nos comentários ou mandem e-mail)

Capitulo 2
Domingo, 03.08.2014


06h00: Toca o despertador. É cedo, ligo a televisão num qualquer canal de música e deixo que o corpo acorde, enquanto me começo a arranjar para sair. 

07h00: Aí vamos nós rumo a um destino certo, do qual vos falarei quando estivermos a chegar.

07h05: Carro ligado, que comece a viagem.

(Gaia-Carvalhos-Grijó-Picoto-Mozelos)

Tenho que visitar o Museu do Papel!

(Lourosa-S. João de Ver-S. João da Madeira-Oliveira de Azeméis-Pinhais da Bemposta-Curval-Branca-Albergaria a Nova-Albergaria a Velha-Águeda-Freguesia de Sangalhos-Anadia-Avelãs de Caminho-Malaposta-Vendas da Pedreira-Freguesia de Aguim-Peneireiro-Mealhada)

Contava-me a minha mãe que antigamente quando vinham à Mealhada comiam uma sande de leitão ao pequeno-almoço. Nunca o fiz, mas passo por cá todos os anos. Fico encantada com o jardim, que parece mais bonito sempre que cá venho, e com o Cine Teatro Messias. Este ano não paro, mas tenho que voltar, até porque também já tenho saudades de comer leitão. 

(Freguesia de Casal Comba-Santa Luzia-Freguesia de Barcouço)

Viemos com nevoeiro até agora. E a chuva parece que lhe veio fazer companhia.
Há músicas que nos fazem perder a compostura: começou a dar «O amor é mágico», dos Expensive Soul, na RFM e gerou-se a festa dentro do carro. Adoro a música!

(Coimbra) 

Cheira-me a infância! Paro cá todos os anos, desde que me lembro que sou gente, para tomar o pequeno-almoço quando vamos a Fátima. Coimbra é o Portugal dos Pequenitos, que tanto quero voltar a visitar; é a estação do comboio que me lembra o comboio do caloiro; é o verde dos jardins, as ruas estreitas e belas, cheias de encanto; é as escadas, as igrejas, a universidade, o mosteiro de Santa Clara, velhinho, mas imponente, que nos dá uma vista lindíssima da cidade. Coimbra é os guardas-chuvas de renda, as serenatas, a velha sé, o Polo II e uma infinidade de espaços para conhecer. Coimbra é um misto de saudade. De recordações que não esqueço. É o café onde para sempre - Padaria Pastelaria Pistrina. E mais um sítio onde me sinto em casa.

08h50: Chegamos, vamos tomar o pequeno-almoço. E verdade seja dita, a fome já se fazia sentir.

09h07: Está na hora de seguir viagem. Coimbra, se não nos encontrarmos antes, até para o ano! Atravessamos a ponte de Santa Clara e há mais mundo para percorrer.

(Cernache-Condeixa-Venda Nova-Freguesia de Tapéus-Concelho de Pombal-Arroteia-Galiana)

É hora de kizomba: «É melhor não duvidar» a tocar na RFM, o que é bom para exercitar o corpo.

(Relvão-Freguesia de Pelariga-Tinto-Venda da Cruz-Fontinha-Moncalva-Freguesia de Pombal-Pombal-Carrinhos-Freguesia de Vermoil-Matos da Ranha-Freguesia de Meirinhas-Meirinhas-Freguesia de Colmeias-Barracão-Freguesia de Milagres-Padrão)

Agora é a vez de «Não me toca» e acho que conseguem adivinhar o que acontece. Qualquer dia filmo as nossas viagens.

(Cardosos-Freguesia de Santa Catarina da Serra-Olivais-Quinta da Sardinha-Pedrome)

Há pessoas que julgam que a estrada é só para elas. Não fosse o meu pai atento e tínhamos um acidente por causa de um homem que decidiu arrancar do estacionamento sem olhar. Felizmente desviamo-nos a tempo e estamos bem.

(Loureira-Fátima)

Já vejo a rotunda e o hotel D. Gonçalo. Venho cá há tantos anos e sinto-me sempre bem ao fazê-lo pela paz e pela fé que me acompanha todos os dias. Nunca está pouca gente e mesmo que não lhes reconheça o rosto somos iguais pelo motivo que nos traz cá. 

10h37: Chegamos ao local pretendido: Fátima. Vou fazer a minha visita habitual. 



Continua... 
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Capitulo 1 (conclusão)
27.07.2014


Sempre com o olhar para lá da janela, vou acompanhando a viagem, mesmo que o nevoeiro insista em permanecer. Imaginando o que está para lá das montanhas, das moradias, das bombas de gasolina, dos prédios, dos restaurantes, das fábricas e do mar que não vejo, mas que sei existir naquele lugar. 

(Viana do Castelo-Darque)

Há feira ao domingo. E mais à frente do local onde esta se realiza acho sempre imensa graça à grandiosidade e decoração do Santoinho - Arraial Minhoto. Nunca comi lá, mas há alturas em que vem um cheiro a comida mesmo agradável. Um dia, quem sabe, talvez decida experimentar, mas não sei se não será necessário marcação. 

(Vila Nova de Anha-Chafé-S. Romão de Neiva-Antas-Concelho de Esposende-Belinho-S. Bartolomeu do Mar-Marinhas-Esposende-Gandra-Ofir-Fão)

Fascino-me sempre a ver os coretos, tão iguais em formato, mas tão diferentes em estética e, muito provavelmente, na história que guardam em segredo.

(Paredes (Apúlia)-Criaz (Apúlia)-Estela-Navais)

17h40: Hora de parar para tomar café. Enquanto espero observo o sol que por causa do nevoeiro parece ter dado lugar à lua cheia.
Navais deu-nos sorte, já que o meu pai comprou uma raspadinha de 1€ e saiu-nos 10€ de prémio.

17h45: seguimos viagem, sempre acompanhados pela praia, ao fundo, no nosso lado direito. 

(Póvoa do Varzim)

A praça de touros traz-me boas recordações, por ter sido o local onde o meu padrinho me traçou a capa pela primeira vez.

(Vila do Conde)

Tenho aqui pessoas que me dizem muito e as quais espero que permaneçam na minha vida para sempre. O aqueduto, a nau quinhentista, a alfândega régia, o centro de memória - museu e arquivo municipal, a casa José Régio, são locais por onde tantas vezes passei, ou vi ao longe, durante as seis terças-feiras de estágio, e não só. 

(Azurara-Árvore-Fajozes-Mindelo-Modivas-Vilar-Mosteiró-Vilar do Pinheiro-Maia-Guardeiras-Porto)

Ao passar ao Estádio do Dragão senti o coração pesado e apertado por não estar presente no jogo de apresentação aos adeptos. Estamos juntos, incondicionalmente, mesmo que não seja fisicamente. 

(Gaia)

19h06: Chegamos a casa. E a viagem termina por hoje. Fecho o caderno, mas já a pensar na próxima, para que o possa tornar a abrir.

Capitulo 1 (continuação)
27.07.2014


14h15: Ao fim de duas horas e dez dou por concluída a visita. Visitei a Feira de uma ponta à outra, sem deixar que falhasse uma barraca que fosse. Isto é um mundo que merece ser descoberto ao pormenor, talvez por isso goste tanto deste tipo de feiras. A representação de uma realidade que não vivemos, que nos transporta para um tempo antigo, mas que ali parecemos sentir na pele.

O centro histórico, por si só, já é lindíssimo, mas ver as suas ruas preenchidas pelos mais variados tipos de artesanato é extraordinário. Há de tudo: bijutaria, prendas, cristais, incensos, amuletos, produtos esotéricos, roupas medievais, cestarias, chás, licores, compotas, peles, óleos, crepes, gomas em formato XXL, animais, homens estátua e uma infindável oferta de petiscos e iguarias. A música é uma constante e mostram-nos que é tudo pensado ao pormenor: os trajes, a animação, a gastronomia, o acampamento medieval, os jogos, as práticas medievais. Não vi os espetáculos equestres e o teatro - que devem ter sido fantásticos -, mas dei de comer aos cavalos. Só me faltou pegar na águia, mas como faço questão de lá voltar tenho a certeza que numa próxima oportunidade não me faltará a coragem. 

É um espaço único e deslumbrante, carregado de magia. Trago o coração cheio, a máquina com 280 fotografias e recordações para juntar às que já tenho: uma caneca alusiva ao evento e um dedal de Caminha para acrescentar à coleção. Além disso, comprei um filtro de sonho (finalmente). Sou apaixonada pela história, pelo formato que têm e pela sensação de leveza e liberdade que transmitem.
Quero voltar. Descobrir ainda mais. E perder-me, novamente, de encanto. Agora é hora de ir embora, a barriga já dá sinal de que é preciso almoçar.

14h20: carro ligado, até à próxima!

(Caminha-Moledo-Vila Praia de Âncora)

Vamos procurando um bom sítio para fazermos o nosso piquenique por entre ruelas onde mal passa um carro, e nas quais acho que o meu pai é genuinamente feliz - se há uma ruela é certo que arranjará forma de ir por lá. Até agora não tivemos sucesso, por isso vou enganando a fome cantando Aurea e mostrando todos os meus dotes vocais inexistentes. Uma coisa é certa: nunca falta animação nas nossas viagens. 

(Afife-Carreço-Lugar de Montedor)

Mãe: Tinha uma placa a dizer «Moinhos de Vento».
Eu: Vira para os Moinhos que é lá que vamos arranjar lugar para piquenicar.

Seguindo as placas, fomos à procura dos mesmos, brincando com o facto de que íamos lá chegar e não ver um (já nos aconteceu).

Mãe: O teu pai já gosta de andar por ruelas, mas tu ainda lhe aguças essa vontade. 

E é no meio das nossas gargalhadas que percebo que a minha mãe não deixa de ter razão, talvez porque o meu pai me transmitiu esse gosto. Não sei, mas há qualquer coisa de aconchegante em percorrer uma ruela. 

(Moinhos de Montedor)

15h25: Finalmente vamos almoçar. Mas é por coisas como estas que adoro viajar com os meus pais: não temos horas para nada, por isso permitimo-nos almoçar tão tarde. Só temos horário para levantar, de resto vamos ao sabor do vento, conforme a viagem o exigir. 
Panados, rissóis de frango, bolinhos de bacalhau, frango, azeitonas pretas (uma verdadeira perdição), batatas fritas, pão, água, panaché, fruta e um docinho para a sobremesa. São servidos?

16h00: Acabamos o nosso almoço, onde contamos com a presença de um amigo de quatro patas. Claramente era um cão de rua, apelidei-o de farrusco. Talvez um dia que lá volte o reencontre para mais um almoço a quatro.

Foi mesmo ao lado dos moinhos que encontramos o local indicado para o nosso piquenique. 
Situados nas imediações do farol de Montedor, existem dois moinhos: o Moinho do Marinheiro, de velas trapezoidais de madeira, e o Moinho de Cima, de velas de pano. Ambos de pedra, com uma paisagem em redor que nos transmite tranquilidade. Faltou-me visitar o Moinho do Petisco e o Farol, mas ficará para outro dia.

16h15: Está na hora de ir embora, com a certeza de que vou muito mais completa.


Continua...
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Capitulo 1
Domingo, 27.07.2014


08h00: tocou o despertador com uma música qualquer que me fez levantar de imediato. Liguei a televisão para alternar entre os canais de música. Depois fui-me arranjar.

09h15: tudo pronto, é hora de ir à boleia do mundo. O dia começou cedo porque está na altura do primeiro piquenique do ano. Vamos com destino certo, mas quanto a ele falo-vos mais à frente. 
Sempre gostei de piqueniques. Da sensação de nos perdermos no meio da natureza, como se o mundo parasse de girar e ficássemos ali para o resto da vida. 
O rádio vai ligado na Cidade Fm, como sempre, desde há muitos anos. Lá fora vejo as estradas e as paisagens a correr, como se fossemos numa competição para vermos se não nos perdemos uma da outra. Sou genuinamente feliz a desfrutar destes passeios que me permitem conhecer o meu país. Começou a tocar «A Sky Full Of Stars», vou fechar o caderno e apreciar a viagem. Já nos voltamos a encontrar!

(Gaia-Porto-Maia-Castêlo da Maia-Areosa-Ribela-Freguesia de Muro-Serra-Lantemil-Trofa-Vila de Ribeirão-Ribeirão-Calendário-Famalicão-Brufe-Louro-Rio Covo-Midões-Várzea-Gamil-Freguesia de Feitos-Feitos-Freguesia de Palme-Forjães-Alvarães-Chafé-Vila Nova de Anha-Darque-Viana do Castelo)

11h25: Paramos em Viana para tomar café. Não seria a mesma coisa se não o fizéssemos, é paragem obrigatória. Quando se chega aqui, vê-se ao longe, lá bem no alto, o Monte de Santa Luzia, de uma graciosidade que nos faz perder a respiração. E quando lá subimos a paisagem que vemos ao nosso redor arrebata-nos o coração. Os barcos atracados na marina, que desde miúda me habituei a observar por força de passarmos constantemente por eles. Como é bom vê-los serenos, talvez com pequenas movimentações provocadas pelo vento. Seguros, bem presos, como se nos sussurrassem que ficarão para sempre ali à nossa espera. As ruas de Viana parecem pequenas telas pintadas a verdade, sempre belas e inconfundíveis. «Cada linha bordada conta uma história de amor», e ainda hoje guardo com carinho o traje à Vianeza que usei num carnaval longínquo.
Sabe bem perder-me por cá! Para a próxima tenho que andar no elevador de Santa Luzia, que tem uma fachada incrível. É só mais uma desculpa para cá voltar. E parar.

11h36: Estamos de volta à estrada, rumo ao destino escolhido, mas desta vez ao som da RFM. Vou o caminho todo a cantar, independentemente da estação e de não saber a letra. E há momentos em que o meu pai se junta a mim. Adoro passear com os meus pais - entendemo-nos bem e partilhamos este gosto imenso em conhecer. Espero fazê-lo por muito tempo.

(Carreço-Afife-Vila Praia de Âncora)

Depois de darmos um pequeno espetáculo artístico ao som da «Bo tem mel», são os Nickelback que agora tocam na rádio. E com eles trazem memórias de dias felizes. Enquanto olho pela janela, vou sentindo nostalgia por tudo aquilo que me recordo. Inconscientemente, sorrio e deixo que a música se funda com a paisagem e me deixe um pouco mais perto de tudo o que me faz bem.

(Moledo)

Mesmo que hoje o nevoeiro nos impeça de ver nitidamente, fico sempre encantada quando olho para o meu lado esquerdo e vejo a praia de Moledo. A beleza que impera, a tranquilidade que nos transmite, o cenário de sonho que nos deslumbra; e o Forte da Ínsua, com uma planta em estrela irregular e 5 baluartes e revelim, parece o local de um filme encantado. Um dia hei-de descer à praia e fotografar o máximo que conseguir. Perder-me de amores e contar-vos tudo. Pormenorizadamente.
Enquanto deixava que o meu olhar acompanhasse a paisagem a desaparecer, reparei que apanhamos interferência com a Antena 3. Mudei de estação, até porque a música era a «Rainha», do Dengaz. E foi ao som dela que comecei a ver o nosso destino a formar-se. Sempre familiar, mais ainda mais belo.

(Caminha)

12h05: Chegamos! O rio Minho, em todo o seu esplendor, faz-me sentir em casa. Atrevo-me a dizer que já conheço aquela paisagem de cor. E se fechar os olhos consigo imaginar cada traço do seu espaço. Em frente, mesmo que não pareça, temos a Galiza. Quase que nos apetece ir a nado até lá.
Ao longe já avisto a Feira Medieval, motivo pelo qual viemos até cá. É melhor guardar o caderno e pegar na máquina fotográfica. Assim que entrar vou sentir-me num mundo diferente, fascinante e surpreendente. É a primeira vez que a visito, mas por tudo o que me contaram espero o melhor. Já vos dou notícias.

Continua... 
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«Os mais simples detalhes em alguém faz você admira-la, pois é o que a torna especial».


O primeiro concerto nunca se esquece, precisamente pela condição em que se insere. A primeira vez que os vi ao vivo foi em Arouca, e ainda que não tenha sido em nome próprio, para mim, será sempre especial. Mas aquilo que se passou ontem à noite foi uma demonstração de genialidade, com clara tendência para ser cada vez melhor!

Em vinte e dois anos de vida, nunca fui tão cedo para um festival (ou algo do género), nem mesmo quando o Rui Veloso foi atuar à Serra do Pilar. Mal cheguei e saí do carro ouvi a voz do Eduardo a cantar a Cenário, e foi ao som dos Aurora que almocei. Às 14h já estava no recinto e por volta das 15h fui para perto do palco, só voltando a sair de lá no fim. A espera passa por várias fases, mas o friozinho na barriga aumenta à medida que a hora se aproxima. A expectativa é sempre elevada e vê-los entrar em palco é indescritível. Já esperava uma noite memorável. Foi muito mais do que isso. 

Prometi que um dia estaria na primeira fila e cumpri. E vi magia a acontecer mesmo à minha frente. Não há palavras suficientes para descrever o quanto foram (e são) brilhantes. Foram mesmo, de uma forma que não saberei definir por ser maior do que todas as palavras que conheço. A evolução é gigantesca: nas vozes, nos instrumentos, na presença em palco, no à vontade e na cumplicidade que se nota à distância. São quatro amigos a fazer a festa, felizes por vivenciarem algo que tanto gostam e que os realiza, e isso transparece para o público. Cantam com amor! Ainda no Factor X, a Carolina Torres afirmou que «vocês ficam todos muito bonitos a cantar, principalmente quando sorriem». Estou inteiramente de acordo. E fascina-me ver-vos sorrir com o olhar em cada música que interpretam. 

Eles nasceram para isto. O palco é o mundo deles, a casa que habitam sem filtros. Tratam-no por tu. E é essa segurança que nos conquista. Não há egos, tudo aquilo a que assistimos é a verdade que lhes sai do lado esquerdo do peito. É tão bom ver e sentir isso. Há muito trabalho que nós não presenciamos, mas que eles desenvolvem antes de chegarem ao concerto. E essa vontade que eles têm em trabalhar, em fazer acontecer, é mais uma das razões para ter tanto orgulho neles e no percurso que têm vindo a construir.

Entraram a «partir tudo» com a Chaga dos Ornatos Violeta e terminaram com aquela música que nos trará sempre um sentimento agridoce, por ter sido, a meu ver, a interpretação mais bonita de todo o programa, mas que acabou por corresponder à gala onde saíram do mesmo - Sete Mares, dos Sétima Legião. Pelo meio houve uma hora e meia de muita música portuguesa. Do que se faz de melhor no nosso país. E com os dois originais que são fantásticos (nunca me cansarei de o repetir) e que espero ouvir brevemente na rádio - e, quem sabe, a serem interpretados por outras pessoas num programa de televisão. 

Se nunca tive dúvidas de que são gigantes, ontem foi mais uma constatação desse facto. São tão genuínos, tão incríveis, tão fora de série que é impossível ficarmos indiferentes. Admiro pessoas que me emocionam, que tão depressa me põem a saltar como no segundo seguinte me deixam de lágrimas nos olhos. Cantei do início ao fim, por isso estou ligeiramente rouca, mas voltava a repetir tudo agora mesmo até ficar sem voz. Porque por eles valerá sempre a pena. 

Em Arouca não os vi no fim da atuação, mas ontem estava decidida a não sair da Gafanha da Nazaré enquanto isso não acontecesse. Nem que fosse só para vê-los a um dedo de distância. Recordo-me que há uns tempos me perguntaram se era «tão boa com as palavras ditas como sou nas escritas» e é em alturas como estas que sei que me ajeito muito melhor com as segundas. Sabem quando têm alguém que admiram à vossa frente e lhes querem dizer tudo o que pensam, mas as palavras não querem sair? Foi isso que me aconteceu! O máximo que consegui foi um «foi brutal» que disse ao Eduardo, mas que nem sei se ele ouviu e percebeu, de tão enroladas que me saíram. Seja como for, fica aqui registado que foi brutal. E inesquecível.

A humildade, o cuidado, a atenção, a paciência que têm com os fãs é delicioso de se ver. Sou atenta por natureza, por isso, enquanto esperava a minha oportunidade, fui reparando na reação que tinham com quem lhes falava. São incansáveis! Saí de lá feliz por sabe-los tão próximos de nós e tão disponíveis. É mais um ponto a favor. E o meu orgulho sempre a crescer.

Vim embora de coração cheio. E com um sonho realizado, que espero que se realize mais vezes, com mais tempo e sem que as palavras me falhem. Um dia dou-vos um abraço apertado, em jeito de agradecimento, por tudo aquilo que me fazem sentir. Obrigado, mesmo, pela simpatia, pela noite magnífica, por valorizarem tão bem a nossa língua e por corresponderem na integra à imagem que tenho vossa. A Gafanha da Nazaré veio a baixo e a culpa é vossa. Até a uma próxima oportunidade, que espero que seja para breve.

São os maiores!






Podem ver o resto dos vídeos do concerto no meu canal do youtube. Estão lá todos.

Alguém teve a oportunidade de ir? Contem-me tudo!

«Um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo», George Moore


Férias. Foi esse o motivo pelo qual me ausentei durante alguns dias do blog. Estava a precisar de sair da rotina, ir para um lugar onde me sentisse em casa, visitar algo novo, viver novas experiências, aproveitar e depois voltar de energias renovadas. 

Foram dias espetaculares e já tenho saudades, mas é bom estar de regresso a casa. Tenho tanto para vos contar! A rubrica «À boleia do mundo» está quase a começar. Talvez na terça a inicie e depois vão levar uma injeção de tudo aquilo que aconteceu nestes últimos dias.  

Vocês já foram de férias? Estão a pensar ir? Contem-me tudo!

«(...) O que é preciso ver é que Portugal está feito para que se tenha saudades dele. Propositadamente. Cientificamente. Tudo foi minuciosamente estudado para nos chatear de morte quando estamos cá e nos matar de saudades quando cá não estamos».


«Portugal, 

Estou há que séculos para te escrever. A primeira vez que dei por ti foi quando dei pela tua falta. Tinha 19 anos e estava na Inglaterra. De repente, deixei de me sentir um homem do mundo e percebi, com tristeza, que era apenas mais um dos teus desesperados pretendentes. 

Apaixonaste-me sem que eu desse por isso. Deve ter sido durante os meus primeiros 18 anos de vida, quando estava em Portugal e só queria sair de ti. Insinuaste-te. Não fui eu que te escolhi. Quando descobri que te amava, já era tarde de mais. 

Eu não queria ficar preso a ti; queria correr mundo. Passei a querer correr para ti - e foi para ti que corri, mal pude. 

Teria preferido chegar à conclusão que te amava por uma lenta acumulação de razões, emoções e vantagens. Mas foi ao contrário. Apaixonei-me de um dia para o outro, sem qualquer espécie de aviso, e desde esse dia, que remédio, lá fui acumulando, lentamente, as razões por que te amo, retirando-as uma a uma dentre todas as outras razões, para não te amar, ou não querer saber de ti. 

Custou-me justificar o meu amor por ti. És difícil. És muito bonito e és doce mas és pouco dado a retribuir o amor de quem te ama. Até dás a impressão que tanto te faz seres odiado como amado; que gostas de fingir que estás acima disso, olhando para os portugueses de agora como o céu olha para os passageiros nos aviões. 

Já que estava apaixonado, sem maneira de me livrar - nem sequer voltando para ti e vivendo contigo mais trinta anos - que remédio tinha eu senão começar a convencer-me que havia razões para te amar. 

Encontram-se sempre. E, a partir de certa altura, quando já são seis ou sete razões que se foram arranjando ao longo dos anos, deixamos de amaldiçoar este amor que nos prende a ti e, inevitavelmente, começamos a sentir-nos, muito estúpida e secretamente, vaidosos por te amarmos. Como se fôssemos nós que tivéssemos sido escolhidos. 

Digo nós mas falo por mim. Digo eu sabendo que não sou só eu, que nós somos muitos. Possivelmente todos. Tragicamente todos, um bocadinho. Se calhar estamos todos, de vez em quando, um bocadinho apaixonados por ti. 

A tua pergunta bocejada, de país farto de ser amado, amado de mais, aborrecido com tanto amor, apesar da merda que tens feito e da maneira como nos pagas, é sempre a mesma: «Diz-me lá, então, porque é que me amas...» 

Pois hoje vou-te dizer. Não me interessa nada a tua reacção. Estás a ver? Já comecei a mentir. É sinal que a minha carta de amor já começou. 

Amo-te, primeiro, por não seres outro país. Amo-te por seres Portugal e estares cheio de portugueses a falar português. Não há nenhum outro país, por muito bom ou bonito, onde isso aconteça. 

Mesmo que não achasse em ti senão defeitos e razões para deixar de te amar, preferia isso, mesmo deixando de te amar, a que não existisses. 

Se deixasses de existir, o meu olhar ficava de luto e nunca mais podia olhar para o resto do mundo com os olhos inteiramente abertos ou secos ou interessados. 

Para que continuasses a existir, mesmo fazendo cada vez mais merda, trocava imediatamente ir-me embora de ti e nunca mais poder voltar e nunca mais poder ver-te, e nunca mais encontrar um português ou uma portuguesa, e nunca mais poder ler ou ouvir a língua portuguesa. 

E olha que este é um desejo que muitas vezes tenho. 

Esta é a única verdadeira prova de amor: fazer tudo para que sobreviva quem se ama. Mesmo que nunca mais te víssemos, Portugal, saberíamos que continuavas a existir, que as nossas saudades teriam onde se agarrar. Por muito que mudasses, mal te deixássemos e nunca mais te víssemos, já não mudavas mais. 

Mesmo que não houvesse em ti um único pormenor que não houvesse nos restantes países do mundo, que são muitos; mesmo que houvesse um país escondido que fosse igualzinho a Portugal em todos os pormenores; mesmo assim eu amar-te-ia como se fosses o único país do mundo, diferente em tudo. 

Portanto, já viste, ó Portugal: não preciso de nenhuma razão para te amar. Amo-te sem razão. Amo-te às cegas, antes sequer de olhar para ti. Podes ser o pior país do mundo, ou o melhor, ou o mais monotonamente assim-assim. Não me interessa. Amo-te. Amo-te à mesma. Amo-te antes de falarmos nisso. 

Amo-te tanto que, quando perguntas porque é que eu te amo, não fico nervoso nem irritado. Não preciso de tentar dar uma razão convincente. Amo-te à mesma, fiques ou não convencido. 

E, mesmo que te aborreças de ouvir todas as razões que tenho para te amar, eu continuarei a dizê-las, porque gosto de dizê-las e porque, que diabo, também eu preciso, às vezes, de me lembrar e de me convencer do quanto eu te amo. 

Amo-te mesmo que sejas impossível de conhecer ou de descrever. Isto é muito importante. O Portugal que eu conheço e descrevo é apenas o Portugal que eu julgo, se calhar, conhecer (pouco) e descrever (mal). 

Cada pessoa apaixonada por ti está apaixonada por um Portugal diferente do meu. Até o meu Portugal é, conforme os climas, bastante diferente do meu - para não dizer estrangeiro. 

Por exemplo, uma das razões por que te amo é o teu clima. Acho que tens um bom clima. Mas não julgues que há muitos portugueses apaixonados por ti que concordam comigo. Esses julgam o teu clima dia a dia e hora a hora e gostam dele, quando muito, vinte por cento do ano. Em cada cinco horas do teu clima, gostam de uma e odeiam quatro. 

Pois eu amo-te sem saber sequer se o teu clima é bom ou mau. Não tenho a certeza, mas não interessa: amo-te mesmo ignorando tudo a teu respeito. Amo-te mesmo estando completamente enganado. A pessoa convencida sou eu. Quem está convencido que ama, quando fala do seu amor, não quer convencer ninguém. Quer declarar que ama. Se é bom ou mau nem secundário é. Fica noutro mundo, onde vivemos. 

Como vês, não preciso de razões para te amar. Mas tenho muitas. E boas. A primeira delas é secreta e embaraça-me confessá-la: amo-te, Portugal porque, não sei como e contra todas as provas e possibilidades, acho que és o melhor país do mundo. 

Pronto. Está dito. É uma vergonha pôr as coisas de uma maneira tão simples. Mas era isto que eu estava há que séculos para te dizer: amo-te, Portugal, por seres o melhor país do mundo. 

Como vês não sou o romântico que estava a fingir ser, que te ama sem precisar de razões para isso. Tenho uma razão muito interesseira para te amar: acho que és o melhor país do mundo. Por muito relativista que eu seja noutras coisas, acho mesmo que tive sorte de nascer aqui. Em ti. Aqui, entre nós. 

Desculpa. 

Mesmo assim, insistes em perguntar: que tens tu de tão especial, que os outros países não têm? 

Essa íntima vaidade, por exemplo. Tu não és orgulhoso. Mas, muito bem disfarçada, tens uma vaidade sem fim. Dizes-te feio e vestes-te mal mas, quando passas por um espelho, espreitas e achas-te giro. E se alguém te diz que és feio e estás mal vestido, não ficas ofendido - achas que aquela pessoa é obviamente estúpida e não tem olhos na cara. 

Ou, pelo menos, não tem o discernimento e o bom gosto necessários para apreciar a tua oblíqua mas inegável formosura. A tua beleza, estás convencido, está reservada para os apreciadores. A ralé passa ao lado e não vê: deixá-la passar. 

A tua vaidade é tanta que até te permites um grande desleixo. Sabes que, na terra onde nada plantaste, há-de crescer um jardim preguiçoso que um dia será selvagem e bonito, sem qualquer esforço teu. Deus e o tempo trabalham por tua conta. 

Sabes que a tinta fresca salta muito à vista e que é cansativa. Esperas, despreocupado, pela beleza que há-de vir com a passagem dos tempos. E a vaidade que sussurra, preguiçosamente, a quem insista em aproximar-se: «Sim, eu sei que sou uma casa bonita e não, não me lembro da última vez que fui pintada. Eu cá não preciso de me abonecar.» 

Graças ao desleixo que a tua vaidade consente, mudas menos do que os outros países. As pessoas acham que és conservador, que és contra a mudança. Mas não é isso. És vaidoso e preguiçoso porque achas que não precisas de grandes esforços ou mudanças: sabes que continuas encantador. 

O teu desleixo também é causa de muito sofrimento mas não é numa carta de amor que vou falar dele. Também tem consequências agradáveis. 

Por exemplo, dizes que queres ser um país de primeira categoria. Mas sabemos todos que não queres. Gostas de ser de segunda, como gostas de não ser de terceira. Gostas de ter países melhores do que tu, para visitar ou invocar, quando fazes aquela fita de lamentar que não seja possível teres tudo o que tens de bom, menos tudo o que tens de mau, trocado pelo melhor que houver nos outros países. 

Tu não queres nada a não ser que gostem de ti. E não estás disposto a fazer nada por isso. Nem é preciso serem muitos a gostar. Se calhar, até te bastava um. Aposto que é essa a impressão que consegues dar a cada um dos desgraçados, como eu, que estão apaixonados por ti. 

Eu poderia perder anos a fazer um cuidadoso retrato de ti. Por muito verosímil que fosse, davas uma olhadela e dizias com desdém, a fazer-te caro ao mesmo tempo: «Isso não sou eu. Isso é outro país qualquer que inventaste...» 

É a tua maneira, Portugal amado, de garantir que continuaremos a tentar retratar-te. Tanto te faz que o retrato seja feio ou bonito, desde que seja de ti. 

Quanto mais variados forem, mais gostas. Até tu, nas tuas paisagens, varias e hesitas tanto e recusas-te a decidir, como quem não tem pressa e, no fundo, não escolhe nem decide, porque quer tudo. 

Preferias ser amado por quem tem razões para te odiar? Isso sei eu. Paciência. Eu amo-te porque mereces. Eu amo-te pelas tuas qualidades. Preferias não tê-las. Para que o amor fosse mais puro, mais contraditório, mais injustificável. Mas tens qualidades. 
Desculpa lá dizer-te isto, Portugal, mas amar-te é uma coisa simples. 

Amo-te, aconteça o que acontecer. Amo-te por causa de ti. Não é apesar de ti. É por causa de ti. Não há outra razão. Nem podia haver uma razão mais simples. 

Por muito que te custe ouvir (apesar de eu saber que não só não te custa nada como gostas de ouvir), digo-te: é tão grande o meu amor por ti que até consigo amar-te sem dar por isso. 

Já viste? 

Miguel 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público' (10 Junho 2011)
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andreia morais

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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