as coisas maravilhosas de julho

Fotografia da minha autoria


Julho, à semelhança de anos anteriores, revestiu-se de caos e de cansaço. Curiosamente, senti as duas primeiras semanas a passarem num sopro, mas as restantes avançaram em câmara lenta e acho que esta oscilação fez mossa na minha energia - em serviços mínimos, a suspirar por dias em que posso só existir.

Sair e regressar a casa com os fones a repetir o Violetta foi, sem qualquer margem para dúvidas, o aliado que precisava para manter a minha sanidade intacta e desligar sem ficar dormente. A música tem este poder reparador e a verdade é que há trabalhos que nos parecem ler a alma. Naturalmente, procurei intercalar com outros artistas, mas voltava sempre ao álbum do Lhast com a curiosidade de quem o escuta pela primeira vez.

É tempo de abrandar, mas não sem antes recordar o que este mês trouxe de maravilhoso.


as coisas maravilhosas de julho


 os fragmentos aleatórios

Um Espelho, Uma Década
O Diogo Piçarra celebrou os seus dez anos de carreira com um livro especial, «refletindo sobre os momentos mais marcantes da sua trajetória na música», sem deixar de fora os Fora da Bóia, os percalços, as rotas paralelas e todas as pessoas (da esfera profissional e pessoal) que contribuíram para que esta viagem, nem sempre fácil, se revestisse de conquistas extraordinárias. Cada passo dado foi com o objetivo de consolidar a sua arte, colhendo os frutos da bonança depois da tempestade. Mergulhar nestas páginas foi bastante emocional: não só porque o Diogo Piçarra é um dos meus artistas favoritos, mas também porque estive presente em vários destes momentos - os restantes vivi à distância, com o coração a transbordar de orgulho. Ainda assim, não deixou de ser surpreendente (re)descobrir determinadas passagens/fases, porque o tempo avança e vai dando lugar à novidade, mas existem marcos que merecem mesmo ser relembrados.


Buga Ramen
O meu roteiro gastronómico incluía provar ramen, embora não tivesse um sítio específico para me estrear. Depois de ouvirmos Júlio Machado Vaz no Rivoli, acabamos por ir ao Buga Ramen, nos Aliados, e acredito que acertamos em cheio: o espaço transporta-nos logo para um ambiente vibrante e cheio de cor e a comida é deliciosa. Para entrada, pedimos gyozas de frango (comia-as bem como prato principal, de tão incríveis que estavam) e, depois, eu optei pelo Ramen Teriyaki Chicken Shoyu (que não consegui acabar, porque o prato é mesmo bem servido). Hei-de regressar para me aventurar nas opções picantes.

      

Outros fragmentos aleatórios: A Rita e o Guilherme anunciaram nova tour de Terapia de Casal, o íman «Porto is all we need», terminar o Murdle #1, começar a usar o last.fm.


 as músicas e os álbuns



 as publicações

Escrever em cafés sempre foi uma das minhas atividades mais satisfatórias, porque gosto de resolver o caos interior com o barulho do mundo. Acho, até, que há uma certa poesia nesta trivialidade, na possibilidade de avançar umas linhas numa folha em branco, enquanto a mesa se reveste de chávenas vazias, há pedidos a serem gritados para trás do balcão e há uma aura frenética que nos abraça a todos.

Violetta, parafraseando um dos temas que o compõem, tem inocência e maldade na dose certa. É leve, mas também é introspetivo. É generoso, honesto e enigmático e eu tenho estado a viver nas suas canções desde que saiu. Há uma viagem de autodescoberta incrível e acredito que seremos capazes de descobrir novas camadas a cada nova audição, porque as letras são feitas de subtilezas e porque o seu lado criativo abriu portas que ainda não tinham sido exploradas. O futuro pode ser incerto, no entanto, Violetta guia o caminho.


 os livros

Os favoritos do mês
  • A Árvore Mais Sozinha do Mundo, Mariana Salomão Carrara;
  • Atmosfera, Taylor Jenkins Reid;
  • Lobos, Tânia Ganho.

Outros livros lidos: A Criada, Freida McFadden | Adrenalina, Filipa Leal | A Maldição, Lourenço Seruya | Murdle #1, G. T. Karber | Um Espelho, Uma Década, Diogo Piçarra | Doidos Por Livros, Emily Henry | Desconhecidos Num Casamento, Alison Espach.


 os momentos

Lançamento de Outonecer
O carisma de certas personalidades é fascinante e desarmante, em simultâneo. Nunca li Júlio Machado Vaz de forma integral, mas é um dos comunicadores que mais gosto de ouvir, ainda que nem sempre o consiga fazer com a regularidade devida. Acho que tem o equilíbrio perfeito entre a sapiência e o humor, num discurso que nunca segrega.

Outonecer é uma palavra com uma sonoridade que embala, que abraça, sem esconder a entoação melancólica. E só a sua cadência foi suficiente para despertar a curiosidade, portanto, antes de mergulhar nas memórias que nos reserva, fui ao Teatro Rivoli para assistir ao lançamento do livro, com apresentação de João Luís Barreto Guimarães.

Há oportunidades imperdíveis e esta era uma delas, até porque acredito mesmo que as partilhas de Júlio Machado Vaz nos engrandecem. E talvez seja impossível voltarmos ao nosso quotidiano sem nos sentirmos impactados, sem sentirmos que algo mudou: não necessariamente a grande escala, como se regressássemos virados do avesso, mas com a certeza de que nos alargou horizontes e mostrou a vida de outros patamares.

Confesso que me comovi com as palavras de João Luís Barreto Guimarães, porque trouxe uma carga intimista ao momento que antecedeu a conversa. É notória a sua admiração por Júlio Machado Vaz, mas também foi evidente a atenção que colocou na leitura da obra, permitindo-nos conhecê-la ainda antes de a lermos - sem, no entanto, condicionar a experiência de quem a for descobrir, como é o meu caso. E tudo fluiu neste registo familiar, ora profundo, ora cómico, sem que se notasse o tempo a passar.

Se for para outonecer assim, é um privilégio. Ficaria horas a ouvir Júlio Machado Vaz.


Palavras São Raízes com Madalena Sá Fernandes
O Município de Vila Nova de Gaia abraçou uma nova iniciativa cultural, Palavras São Raízes, que pretende promover conversas «com autores sobre a força e a liberdade da palavra, explorando a sua influência na literatura e na sociedade». Estes ciclos têm a curadoria de Marta Pais Oliveira e ocorrem na Biblioteca Municipal de Gaia, com o apoio da Livraria Velhotes. A convidada mais recente foi Madalena Sá Fernandes.

Estar presente em conversas com escritores é sempre estimulante. Enquanto pessoa que escreve e que ainda não perdeu o sonho de lá chegar, acredito que aprendemos imenso não só sobre a palavra em si, mas também sobre a forma como encaramos o processo, sobre a forma como nos permitimos explorar novos imaginários e criar. E acho que a Madalena Sá Fernandes é um excelente exemplo, porque não tem pudor em arriscar registos distintos, em brincar com associações e em cruzar mundos, de um modo leve, sem se levar tão a sério, mas assumindo o compromisso com a verdade.

A autora assume-se como distraída, no entanto, acho que tem o dom de resgatar os detalhes mais subtis e de os transformar em crónicas que nos marcam. Por outro lado, acredito que tem a audácia e a sensibilidade necessárias para se perder em narrativas que nos tiram o fôlego pela crueza - e crueldade - do tema, sem esquecer que somos falíveis e antagónicos, enquanto seres humanos. Senti isso, primeiro, com o Leme e, depois, com o Deriva, duas obras que nos mostram diferentes facetas da mesma autora.

A conversa, naturalmente, focou-se nos seus livros, mas teve espaço para a partilha de peripécias, para viagens ao Brasil, para inquietações, para formas de machismo e a permanente tentativa de silenciar as mulheres, para temas musicais e para o papel da literatura. Achei muito interessante que a autora não atribuísse à literatura a função de curar feridas expostas, mas que encontrasse nela um caminho para apaziguar as dores e para compreender que a mesma pessoa que fere também pode ser carinhosa.

Foi um encontro maravilhoso, conduzido pela, também escritora, Marta Pais Oliveira, que, com elegância e curiosidade, procurou bordar influências, memórias da infância e da adolescência e criações. Foi enriquecedor, espero reencontrá-las em breve.

   

Festas da Maia: Dillaz
As batidas e as letras incisivas ressoaram no Parque Central da Maia e encheu-me o coração olhar à minha volta e perceber que aquele recinto parecia transbordar. Ele merece-o e é a prova de que a cultura nacional tem nomes de máxima qualidade e de que há uma vontade e disponibilidade cada vez maiores para os acompanharmos. Se calhar, falo sem conhecimento de causa, mas creio que ficaríamos todos mais tempo a vê-lo em palco, a responder aos seus reptos e a cantar no mesmo compasso que ele - nem sempre fui capaz, porque não tenho alma de rapper, mas tentei dar o meu melhor.
Não houve Hennessy na mão às duas da manhã, mas, se o Dillaz diz Alô, nunca estamos ocupados. Que a vista para a ilha continue a ser uma maravilha, já sinto saudades! - experiência completa aqui.
      

Outros momentos do mês: revisitar o Museu do Carro Elétrico, voltar ao Zoo de Santo Inácio, matar saudades da minha gémea e da sobrinha de coração, o primeiro aniversário do elemento mais novo da família.
      

      

      

      

      

      

Agosto, sê gentil ✨
Vemo-nos em setembro!

1 Comments

  1. Julho foi um mês de recuperação. Em junho tive de fazer uma cirurgia inesperada, por isso, em julho fiquei em casa ainda a recuperar, apesar de ter estado a escrever.

    Boas férias, minha querida! Desfruta muito!

    Beijinho grande!

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