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Fotografia da minha autoria |
O nome do Lhast foi pairando nas minhas playlists de um modo subtil. Temas como O Clima, que o junta ao Dillaz, ou Over, que o junta ao 11 LIT3S, foram o impulso que precisava para estar mais atenta às suas criações e tem sido interessante acompanhar o arco evolutivo, porque, acredito, há uma sonoridade que o distingue. Se não tinha qualquer dúvida em relação à excelência do seu trabalho na produção, vê-lo a assumir projetos em nome próprio, sem estar nos bastidores, foi a confirmação da versatilidade do seu talento.
antes de violetta
O álbum AMOR'FATI, onde continuo a regressar com regularidade, terá sempre um lugar especial, precisamente, por nos mostrar outra faceta do artista e por equilibrar as vicissitudes que pontuam o nosso destino, sempre de uma perspetiva intimista. Em ALK, sinto, chega com uma melodia mais cirúrgica, de quem está cada vez mais perto de saber o lugar que quer ocupar. Cold Summers & Warm Winters, em colaboração com Chaylan, por seu lado, trouxe duas certezas: uma viagem às profundezas de quem somos, interligada a um jogo de sombras e de luz, e uma ausência de pudor em continuar a explorar diferentes sonoridades.
Um aspeto curioso é que, apesar de terem registos distintos, há um fio condutor entre estes álbuns: os contrastes, a dualidade entre aquilo que precisamos e o que temos, a dicotomia entre terra firme e precipício, porque nós nunca somos uma só coisa. E há sempre várias brisas a embalar os nossos passos. Violetta, o trabalho mais recente de Lhast, bebe desta energia e fâ-lo com ainda mais maturidade e sagacidade.
violetta: o quente, o frio, a consagração
A atenção ao detalhe não passou despercebida nos álbuns anteriores, mas acredito que as subtilezas são mais evidentes em Violetta, a começar logo pelo título que nos remete para uma mistura entre cores primárias, para a tal dualidade de emoções que nos molda ao longo da vida, por vezes, em sucessivas sobreposições. Se em Evil estava «a sonhar a preto e branco», aqui há um espectro de tonalidades inesgotável, que coloca em evidência a nossa vulnerabilidade e, inclusive, os microclimas que nos habitam e que contam a nossa história.
Aguardei Violetta com expectativa e apaixonei-me ao primeiro acorde. Dividido em três atos, leva-nos numa travessia pelo desconhecido, pelos saltos de fé, pela turbulência de certas decisões, pela tentativa e pelo erro. E tudo culmina na certeza de que entrelaçamos estas pontas soltas porque fazem parte do nosso caminho. Com um tom ora delicado, ora intenso, aproxima-nos das suas vivências, das suas dores, dos seus sonhos.
Há uns dias, o Alexandre Guimarães partilhou uma história a dizer que «podia soar a alguém a querer fazer tudo ao mesmo tempo, mas ouve-se coragem e versatilidade» e eu não podia estar mais de acordo. Além disso, estas palavras remeteram-me para a entrevista que lhe fez no .wav, porque há um momento em que o Lhast refere que «quer produzir com pessoal que [o] entusiasme, fazer música que [o] entusiasme», que não tem barreiras. Por um lado, creio que isso é notório em Violetta e, por outro, acho que essa predisposição é uma das suas maiores valências, porque não o limita, porque lhe permite chegar a outras camadas da sua arte.
Não tenho qualquer competência para analisar o álbum de um prisma técnico, nem é essa a minha intenção. Emocionalmente falando, foi um dos trabalhos que mais me impactou até agora, porque tão depressa expõe feridas, como as apazigua; tão depressa é vulnerável, como sabe provocar e não ter qualquer filtro. Transpondo fronteiras geográficas e sentimentais, oscila entre a instabilidade de quem dança na tempestade e o conforto de quem chegou a casa e encontrou o seu lugar. Aquilo que o Lhast fez aqui compete numa liga superior e não vejo qualquer mentira no verso «eu estou muito acima da média». Que viagem extraordinária!
No que diz respeito a músicas favoritas, confesso que tive alguma dificuldade em definir o meu pódio, porque acho fascinante a maneira como se complementam, como os versos parecem conversar entre si. Há alturas em que parece que nos lê a alma e, noutras, que nos confronta com as nossas inseguranças, mas sem nos largar a mão, já que é um lugar que também conhece. Ainda assim, À Procura, Voltas e Sol conquistaram-me com facilidade, por falarem de sentimentos sem constrangimentos, mas não resisto à Só Para Mim, à Olé ou à Casa, por exemplo, por terem aquele toque de safadeza que nos desarma. Para aprofundar a experiência, ainda lançou o filme completo do álbum, que nos oferece uma componente visual de cada cenário cantado.
Violetta, parafraseando um dos temas que o compõem, tem inocência e maldade na dose certa. É leve, mas também é introspetivo. É generoso, honesto e enigmático e eu tenho estado a viver nas suas canções desde que saiu. Há uma viagem de autodescoberta incrível e acredito que seremos capazes de descobrir novas camadas a cada nova audição, porque as letras são feitas de subtilezas e porque o seu lado criativo abriu portas que ainda não tinham sido exploradas. O futuro pode ser incerto, no entanto, Violetta guia o caminho.
Violetta escalou muito rápido para a lista de favoritos do ano e de vida - e mal posso esperar para descobrir o álbum ao vivo. Lhast, se algum dia leres estas palavras, obrigada por esta obra de arte 💜
1 Comments
EXTRAORDINÁRIO! FANTÁSTICO! Adorei o artigo que você escreveu sobre o último lançamento do LHAST. Tanto o conteúdo (percurso do Lhast no cenário da música) como a forma (a arte de juntar palavras para emitir uma idéia) que você revelou no artigo é absolutamente fenomenal! Parabéns!
ResponderEliminarAssim como não consigo parar de ouvir o "Violetta" do Lhast que está também fenomenal, não consigo deixar de reler e reler o seu artigo, pela beleza da língua portuguesa e pela sua perspicácia, senão sabedoria em fazer uma narrativa do percurso do LHAST, realçando também a forma extraordinária que o LHAST tem, em por nas letras de suas músicas, todas as emoções que os humanos tem, de uma forma poética, porém extremamente real e actual. KEEP UP YOUR GOOD WORK!