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Fotografia da minha autoria |
O universo dos livros é infinito. Embora possamos retomar assuntos já abordados, há sempre um novo prisma de onde podemos olhar, até porque amadurecemos ideias e a capacidade para interpretar detalhes - e alterar a nossa perceção sobre certos tópicos. Por isso, tendo em conta que Afonso Cruz é exímio na arte de escrever, achei precioso que trouxesse um segundo volume destas paixões que nos agregam enquanto leitores.
cruzar memórias, peripécias históricas e ideias
O Vício dos Livros II tem, para mim, uma funcionalidade dupla: por um lado, evidencia o processo criativo de nomes que vamos reconhecendo (mesmo ser os termos lido), os seus preciosismos e as visões que os distinguem no meio literário e, por outro, é uma fascinante carta de amor às palavras, ao livro enquanto objeto, ao prazer que é abri-lo e mergulhar numa infinidade de possibilidades, de dar um salto de fé no desconhecido.
O cruzamento de memórias, curiosidades, peripécias históricas, ideias e algum humor escancara sucessivas janelas para que possamos debater os mais distintos temas, que florescem neste vício que partilhamos com o autor. Incluindo, também, ilustrações, percebemos que existe, aqui, um diálogo intencional entre a parte visual e o texto, ao mesmo tempo que nos mostra que o ato de ler pode ser sempre mais profundo, que pode ter particularidades e camadas distintas para cada leitor - e todas elas válidas.
«Torno-a um lugar genérico, qualquer casa. Mas o lar é sempre singular. É feito daquilo que não se vê: os hábitos, os afectos, os silêncios e os ruídos íntimos que ali se repetem. Só as artes são capazes de descrever o lar, porque essa descrição é uma lacuna noutras áreas. A casa importa, mas é o lar que tem significado»
O primeiro volume já me tinha conquistado e este não ficou atrás. Honestamente, não vos sei dizer qual apreciei mais, uma vez que creio que se complementam na perfeição e que transmitem a sensação de haver continuidade. Ler Ou Não Ler, Eis a Questão, Um Livro Não, Linhas Vermelhas: Outra Vez a História da Separação do Autor e da Obra e Quer Queiramos, Quer Não, Somos Todos Poetas encaixam no grupo dos meus textos favoritos.
O Vício dos Livros II ensina, aguça a curiosidade e prova que é «possível compreender a vida através da literatura». É um livro precioso, no qual me senti sempre incluída, que me deixou a pensar na necessidade que temos de tornar a leitura mais apelativa, já que a gratificação não é imediata, na obra que deixa de ser do autor assim que é publicada, já que o leitor nasce e lhe atribui novos significados, na escrita enquanto manifesto de liberdade, no preconceito em relação a determinados ramos literários, na importância do silêncio e na solidão que parece ser imprescindível para os momentos de criação.
notas literárias
- Lido a: 27 de junho
- Formato de leitura: Físico
- Género: Não ficção
- Textos favoritos: Ler Ou Não Ler, Eis a Questão, Um Livro Não, Linhas Vermelhas: Outra Vez a História da Separação do Autor e da Obra e Quer Queiramos, Quer Não, Somos Todos Poetas
- Pontos fortes: As reflexões claras e sempre pertinentes e ser janela aberta para debate
- Banda sonora: I Don’t Want To Set The World On Fire, The Ink Spots | O Caminho é o Poema, O Gajo & José Anjos | Vício, Jimmy P, Gson & Filipe Ref | Capitão Romance, Ornatos Violeta & Gordon Gano
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