rosa, sónia balacó

Fotografia da minha autoria


O término de Constelação deixou-me com a certeza de que não demoraria a regressar à poesia de Sónia Balacó: não só porque já tinha o seu segundo livro à espera na estante, mas também porque fiquei presa à simplicidade, ao despojo, à proximidade dos versos.


 entre a juventude e a idade adulta

Rosa compila textos escritos entre os 18 e os 30 anos, numa espécie de «despedida da juventude e [de] grito de liberdade». Contrariamente à obra que antecede esta, há mais entradas em prosa e achei curioso que a autora tenha explicado, em entrevista, que o livro se chama Rosa «porque era para ser prosa e o P caiu». Creio que esta imagem é um reflexo da atenção atribuída aos detalhes - e à poesia presente nos acasos da vida.

Outro aspeto que me deslumbrou - e que vi ser corroborado na mesma entrevista - foi o facto de encontrarmos expressões rasuradas, quase como se estivesse a censurá-las. A particularidade dessa decisão é que nunca o chega a fazer em pleno, visto que somos capazes de ler o que estava escrito. A poeta deu-lhes forma, através das palavras, numa altura em que descobria o mundo, não aos 40, quando as editou, por isso, há coisas nas quais já não se revê. Não obstante, esses universos coexistem e torna-se fascinante ver como os aceita e como permite que exista um diálogo entre o passado e o presente.

«Não sei de onde é que vêm estas coisas. Saem-me coisas da ponta dos dedos, coisas que eu nunca pensei, coisas que eu desconhecia sentir»

Rosa é uma metamorfose que nos mostra a importância de nos libertarmos, de sermos quem somos, de termos pensamentos crítico, ao mesmo tempo que eleva a palavra, a necessidade de não nos encolhermos e a memória. Ao escrever sobre coisas que nem sabia que sentia, reforça a confiança nas suas diferentes versões, uma consequência do seu crescimento emocional. Rosa é terno, é sensível, é muito humano e, por essa razão, existem versos em que nos estamos a observar ao espelho, completamente vulneráveis.


 notas literárias
  • Lido a: 16 de junho
  • Formato de leitura: Físico
  • Género: Poesia
  • Poemas favoritos: Alquimia, A caminho de mim como poeta, Ao serviço, A minha coisa favorita
  • Pontos fortes: A pluralidade e a proximidade dos poemas, o crescimento
  • Banda sonora: Rosas, Kappa Jota & MUN | As Minhas Coisas Favoritas, Rita Redshoes | Na Minha Cabeça, Rita Rocha | O Teu Lugar, Márcia | de novo, Lour

2 Comments

  1. Deixaste-me mesmo curiosa com este livro.

    Vou guardar a sugestão.

    Beijinho grande, minha querida!

    ResponderEliminar