água viva, clarice lispector

Fotografia da minha autoria



O nome de Clarice Lispector, quando firmei a minha relação com a leitura, passou a povoar o meu imaginário, mas fui rejeitando a ideia de a ler porque, enquanto um dos nomes maiores da literatura brasileira, sentia que não teria competências suficientes para entender a mensagem. No entanto, a curiosidade foi aumentando e as novas edições da Companhia das Letras foram o gatilho que precisava para pôr de lado os meus receios.


 um livro onde parece caber o mundo inteiro

Água Viva não tem um enredo propriamente dito. Através de uma voz feminina, de quem nunca sabemos o nome, transitamos entre a inquietação e a letargia, entre a natureza e a humanidade, entre um espírito livre e uma alma amargurada. Esta personagem-narradora escreve uma carta a alguém e, para além de se colocar inteira nesse processo, desprende-se de qualquer máscara.

Sem estar certar de estar a conseguir acompanhar a dimensão das suas reflexões, senti-me logo presa às suas palavras, ao tom do seu discurso, como se estivesse num interminável fluxo de consciência. Em simultâneo, achei fascinante a sua capacidade para explorar temas distintos, encadeando-os como se fossem um só - ou várias ramificações do mesmo.

«Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa»

Em Água Viva, senti que esta mulher estava sempre no limiar da vertigem, por isso, sofri pelo momento em que se pudesse fragmentar. É tudo tão intenso, visceral, que quase podia explodir. Ao reivindicar o seu tempo e o seu espaço, ao escrever sobre arte e processos criativos, transgride inúmeras fórmulas, transmitindo a sensação de que neste livro cabe o mundo inteiro.


 notas literárias

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