As minhas viagens de metro #1


«Quando alguém diz que quer ir, já foi» (Daniel Oliveira, A Persistência da Memória)


A vida é como uma viagem de metro: partimos sempre de um ponto, um lugar, específico e saímos onde e quando mais nos convém.

Até as pessoas que vemos são passageiras, pois tão depressa nos acompanham uma viagem inteira como, na seguinte, nos abandonam quase que uma paragem depois. Quando não é mesmo uma paragem depois. Esta efemeridade do que nos parece familiar não passa disso mesmo: algo fugaz que se dissipa assim que se fecham as portas e o metro arranca. E depressa nos vemos desprovidos de um olhar que reconhecemos em todas as nossas idas, por vezes, para lugar nenhum, mas, ao mesmo tempo, para algum lugar. Depois disso talvez não a encontremos mais e a nossa memória se esqueça. E mesmo que isso aconteça nunca nos pesará no coração.

É tal e qual como as pessoas que entram na nossa vida. A diferença é que as que encontramos no metro não nos têm qualquer ligação, enquanto que as outras, as que entram muitas vezes sem validar a viagem, estabelecem laços e prometem acompanhar-nos até ao fim da linha. E da vida. O único problema é que se não as voltarmos a encontrar o nosso coração não será tão forte para nunca mais se lembrar. Acabará por se revestir em feridas até aceitar que a porta se fechou e prosseguimos a viagem em carruagens diferentes. Em veículos diferentes. Que nunca se cruzarão. Por mais longa que seja a distância a percorrer.

Talvez devesse existir uma multa para quem apanha a nossa boleia clandestinamente, mexendo com os nossos sentimentos, quando, claramente, só queriam sair na paragem seguinte. Sem nós. E não na última, como nos fizeram acreditar. Se houvesse o mesmo tipo de regras, era provável que não sofrêssemos tanto e evitássemos esperanças ilusórias, histórias curtas com finais nada emocionais e um enorme sentimento de perda. 

Quando um metro nos falha é grave, por tudo aquilo que implica. Mas depressa vem outro para nos amparar e permitir que ainda consigamos chegar à escola, ao trabalho ou a um encontro a horas decentes, sem causar muitos danos colaterais. Quando nos falha uma pessoa é ainda pior. Ficámos sem norte. E sem chão. E não há mais nenhuma que a possa substituir.

M, 08.10.2013

Comentários

  1. Meu Deus, como concordo com as tuas palavras!

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  2. Que texto bonito! :)

    Já volteeeei! :p Ainda não escrevi o texto sobre a praxe, mas está quase :p

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  3. r: Muito obrigada pelo feedback querida.
    Sim, vou arriscar :p

    «O único problema é que se não as voltarmos a encontrar o nosso coração não será tão forte para nunca mais se lembrar. Acabará por se revestir em feridas até aceitar que a porta se fechou e prosseguimos a viagem em carruagens diferentes. Em veículos diferentes. Que nunca se cruzarão. Por mais longa que seja a distância a percorrer.»
    Esta parte do teu texto diz-me imenso. E é tão verdade!!!

    Beijinhos querida ***

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  4. Veja esta tua história de metro, como uma das minhas histórias num autocarro :)
    Que lindoo Andreia ♥
    sabia que não nos ias desiludir *-*

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  5. Ora essa! não tens nada que agradecer ♥
    é verdade! e é através dessas coisas que vais escrevendo que te vamos conhecendo e ao darmos as nossas opiniões conhece-nos um pouquinho mais também :3

    ahahah, também faço o mesmo! há fotos que lhes fica bem o preto e branco, mas sou mais fã de fotografias com cor :) e faço como tu, duplico para ficar com as preto e branco e a cores também!

    óhhhhhh, que amorosa *-* MUITO OBRIGADAA! É por ler coisas dessas que apetece estar aqui, acredita :D obrigadaa!

    beijinho grande, grande ♥

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  6. Que lindo!!! Ai, não me canso de 'te' ler :)
    beijinho enorme

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  7. não tens NADAAAAA que agradecer :)

    pois é .. também gosto de cá vir por isso! e já viste?! descobri que andas e tudo na mesma faculdade que uma amiga minha *.* hihi

    também gosto muito do efeito sépia, há fotografias que fica mesmo bem aquele amarelo indefinido!

    obrigada querida, a sério! és uma fofinhaaa ♥ gosto muito de ti *
    ps. hoje mal vim aqui reparei no "aviso" que tens no blog, logo em cima e realmente faz-me perceber que as pessoas que mais coisas têm para fazer, mais tempo arranjam para tudo e mais alguma coisa :)

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  8. Que lindo o texto, adorei os últimos dois parágrafos.
    Beijinhos

    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  9. que grandes verdades aqui disseste. gostei bastante.

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  10. De nada, é a verdade :)

    R: A serio? haha. A minha esteticista quando vou lá também usa a de chocolate. Prefiro esta que a cera rosa que ela usa.

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  11. não precisas :)

    que fofinhaa, é bom saber <3
    Acredito nisso.. espero que tudo te corra bem esta semana, principalmente o exame :) num instante tás aqui outra vez a escrever coisas para nós :p ♥

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  12. Adorei o teu texto especialmente a comparação que fizeste entre o metro e a nossa vida, fantástico!

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  13. "Quando nos falha uma pessoa é ainda pior. Ficámos sem norte. E sem chão. E não há mais nenhuma que a possa substituir." é verdade. Adorei Andreia, é sempre um prazer vir aqui e ler o que escreves! beijinho grande!

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  14. amei o texto uma grande verdade :D
    beijinhos

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  15. Nice :)

    NEW POST...

    http://www.gagcloud.com/2014/02/booties-from-sammydress.html

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  16. É verdade e esse tipo de perdas traz sempre sentimentos com os quais é difícil de lidar. Mas acho que ainda não há nenhuma solução para tal.

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  17. Mas felizmente, até as memórias começam a escassear.

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  18. Claro que te seguiria, quero acompanhar a tua bela escrita :)

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  19. É assim que acabar os posts sobre Barcelona :p

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  20. Olá ! Gosto do estilo do blogue. Não desmoralizes, as tuas palavras têm o dom de aquecer o coração. A vida é um jogo arriscado em que cada peça que apostamos nunca temos a certeza do seu futuro. Como a música do It's my Life do Bon Jovi diz : "Tens de fazer as tuas próprias regras. É melhor estar atento enquanto chamam por ti. Não te rendas, não desmoralizes e não desistas." . Vamos sempre sentir a dor da perda, mas se queres continuar a viver, tens que consecutivamente arranjar alternativas que distraem e acalmem a mágoa.

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  21. Já me faltou o metro, o comboio, o autocarro. Já me faltaram as pessoas. Aprendi, com tudo isso, que a única coisa que não pode faltar a mim mesma, sou eu.

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  22. Obrigada ;)
    Tens muito jeito para a escrita gosto imenso de ler aquilo que rediges.

    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  23. Muito bom o que escreves. A vida é mesmo uma viagem, onde nós somos os passageiros que temos o dever de tirar o maior proveito desta viagem que ninguem sabe quando acaba, mas sabemos que um dia termina e connosco apenas vão as memórias, as histórias, as marcas que na viagem criaste e para sempre guradas te no teu coração como uma recordação... Um beijinho

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  24. Nossa, você fez da viagem de metrô uma metáfora pra vida. Adorei isso! Olha, não tem verdade mais plena [ou talvez tenha] do a que diz: "tu se torna responsável por aquilo que cativa". O único problema aqui é quando somos tão distraídos que não nos damos conta de que cativamos alguém.

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  25. Ohh muito obrigada pela tua opinião querida, foi muito bom ter lido o que achaste acerca de mim!

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  26. "A vida é como uma viagem de metro: partimos sempre de um ponto, um lugar, específico e saímos onde e quando mais nos convém." Adorei! :)))

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  27. Este comentário foi removido pelo autor.

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  28. Andreia!!
    Que texto belíssimo!
    Logo vi pela foto que vc era uma princesa!
    Enquanto lia, lembrei de várias situações em meus metros. E em especial, a situação em que conheci uma pessoa muito especial, e que depois nunca mais vi. Reflexões gigantes, e aprendizados com as pessoas que entram e saem, nos acompanham e nos deixam, ou chegam de repente dando um toque de amor às nossas vidas.
    Que sejamos sempre motoristas dos nossos metros!
    Beijo grande, princesinha!

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