30 ANTES DOS 30 ◾ LIVRO DO DESASSOSSEGO

julho 12, 2022

Fotografia da minha autoria

«Obra-prima póstuma, retrato da cidade de Lisboa e do seu retratista»

Avisos de Conteúdo: Referência a Morte, Assassinato, Suicídio

A alma humana divide-se por várias personalidades - que o diga Fernando Pessoa, que, através dos seus heterónimos, explorou as inúmeras realidades e perspetivas que habitam numa única pessoa. Assim, abraçando a leitura de «um dos maiores feitos literários do século XX», embarquei numa viagem singular.

«A minha vida é tão triste, e eu nem penso em chorá-la;

as minhas horas tão falsas, e eu nem sonho o gesto de parti-las»

Livro do Desassossego é para ser descoberto devagar, para desfrutar das entrelinhas que cada um dos seus pensamentos guarda e transmite. Porque são tantas as hipóteses, são tantas as premissas, que nos sentimos a cruzar rotas diversas. E, na urgência de as percorrermos a todas, podemos perder-nos. Ainda assim, é fascinante perceber a quantidade de fragmentos que tornam esta prosa poética tão complexa e relacional.

«A vida só nos não persegue quando nos entregamos a ela»

O início, confesso, causou-me alguma estranheza, muito por culpa da concordância gramatical. No entanto, quando me familiarizei com a abordagem, tornou-se mais intuitivo acompanhar os devaneios do[s] seu[s] narrador[es]; tornou-se mais fácil absorver o caos que habita esta obra, que retrata a condição humana.

«(...) mas só no amor ou no conflito tomamos verdadeira consciência

de que os outros têm sobretudo alma, como nós para nós»

Este Livro do Desassossego ora deixou-me a mergulhar na imensidão dos seus pensamentos, ora deixou-me com vontade de o manter pousado na secretária, esperando por uma ocasião melhor. Mas foi graças à sua energia desassossegada que reforcei o quanto a vida é feita de sonhos, de desilusões e de um certo desamparo que nos vai amparando os passos. Creio que a leitura foi mais célere na segunda parte, talvez por me rever mais na sua voz. Independentemente dessa questão, é uma narrativa que nos incentiva a olhar para dentro, como se não nos pertencêssemos. Hei-de regressar a este diário e perder-me nas suas deambulações.

«Povoamos sonhos, somos sombras errando através de florestas impossíveis,

em que as árvores são casas, costumes, ideias, ideias e filosofias»

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