Entre Margens

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«A vida é feita de momentos colecionáveis»


O aproximar de mais um final de ano, mesmo quando não é feito de forma consciente, traz uma energia mais reflexiva. E talvez tenha sido essa a palavra de novembro. Foi um mês bastante caseiro, com aniversários especiais, girassóis e muito mimo. Seguindo à boleia de várias histórias, também me proporcionou uma parceria que me encheu as medidas e o abrir de portas ao novo membro da casa. Dezembro, estou pronta.


       MOMENTOS       

Parceria Book-a-Wish
O contacto já tinha sido feito em outubro, mas esta dinâmica concretizou-se no início deste mês. E foi com a maior honra que aceitei o desafio lançado pela Book-a-Wish, porque tem uma missão muito nobre. Portanto, contribuir para a causa, ainda que de um modo singelo, foi especial. Podem ler com mais detalhe aqui.


Adotar o Chip
O Chip foi aparecendo por cá e foi ficando. No entanto, tinha total liberdade para partir quando quisesse e para regressar, se assim lhe fizesse sentido. É uma ternura de gato, mas, tendo em conta que já tínhamos dois ao nosso cuidado, nunca o trouxemos para dentro de casa. Não sei se foi obra do destino, se foi um alinhar de astros ou apenas uma circunstância natural, o certo é que desapareceu durante vários dias [o que, nesta altura, não era normal] e apareceu ferrado na cauda. A precisar de tratamento e de mimo, seria impensável deixá-lo na rua. Por isso, há um novo membro cá em casa - que, no fundo, já era nosso, porque nos acolheu.


Outros apontamentos bonitos do mês: Receber as 12 capas icónicas da Tinta da China, embrulhar os primeiros presentes de Natal, jantar com os meus afilhados, ver a minha gémea a conquistar outro feito.


       LEITURAS       

📖 Águas Passadas, João Tordo
Alma Lusitana ◾ Braga

📖 Pranchas da Praxe, Flávio C. Almeida

📖 Lobos Sedentos da Respiração dos Dias, Ana Gil Campos

📖 A Lenda do Belo Soldado, Margarida Rebelo Pinto

📖 Viagem a Portugal, José Saramago
[livro e documentário]


Outras Leituras do Mês: 
Para Que Fique Bem Escurecido [Sandra Baldé], O Quarto de Giovanni [James Baldwin], Vertigens [Valentina Silva Ferreira], Levante-se o Réu Outra Vez [Rui Cardoso Martins] e O Bebedor de Horizontes [Mia Couto].


     FILMES, SÉRIES & PODCASTS     

A RTP lançou o projeto «Contado Por Mulheres», que reúne realizadoras de várias gerações «com um forte sentido narrativo». Para já, num total de cinco filmes, teremos a representação de obras literárias através do olhar destas mulheres. Vizinhas e A Traição do Padre Martinho foram os primeiros a sair e aconselho-os profundamente. O primeiro, por ser uma demonstração lindíssima de amizade; o segundo, pela forte noção de lealdade. Ainda assim, há muitas outras razões para assistirem a estes argumentos cheios de qualidade.

A Carolina Torres, para mim, é uma comunicadora nata, por esse motivo, tem sido muito interessante descobrir o seu podcast Verdade Seja Dita, que conta com a presença de ilustres convidados. Por outro lado, não posso deixar de destacar um dos mais recentes episódios do Livra-te - podcast da Rita da Nova e da Joana da Silva -, porque julgar um livro pela capa já é bastante usual, mas fazê-lo pelas primeiras frases é elevar a fasquia.


       À MESA       

Comi as primeiras castanhas do ano e descobri, finalmente, o delicioso bolo Floresta Negra, da Mercadona. O tamanho é bastante grande, por isso, aconselho esta opção para jantares de família/amigos, evitando o desperdício. Seja como for, creio que não se arrependerão, porque a combinação de sabores e texturas é ótima. Tive receio que fosse enjoativo, mas não é. Até a minha mãe, que não consegue comer mousse, adorou.

   


       ENTRE LINHAS       

Sou adepta assumida de sapatilhas e, atendendo a que é o meu calçado de eleição, durante todo o ano, prefiro investir um pouco mais e garantir que escolho com qualidade. Assim, aproveitando uma promoção da Vans, adquiri estes dois pares [um com plataforma], que primam pelo conforto. Não podia estar mais satisfeita.

   

Publicações na Gaveta
Visão | Na Primeira Pessoa: Martim Mariano


       JUKEBOX       

A surpresa: Dispersão [Janeiro]
Melhor Duo: A Lei da Recompensa [Teresinha Landeiro & Salvador Sobral]
As Favoritas: Orgulho Felino [Anaquim], A Note To The Industry [Hex]
A Diferentona: Barquinha [Expresso Transatlântico & Conan Osiris]
Artista Revelação: Mariana Reis


Álbuns: Casa Guilhermina [Ana Moura], Coral [The Gift], Ao Fundo da Rua [Nena], 
Volume I [Avalanche], Jony Driver [Papillon], Falas Mansas [BIÉ]


       GRATIDÃO       

«Foi então que se deu conta de que precisaria de ter ido ali para saber qual era o lugar certo»

Novembro terminou como começou: sereno, com muito aconchego, para desfrutar do silêncio e para estreitar laços com quem nos quer tanto [sendo recíproco esse cuidado]. Apesar disso, naturalmente, o meu ponto de gratidão prende-se com o Chip, tanto pela sua recuperação, como pelo facto de o termos acolhido.

      

      

      


Como foi o vosso mês?

Fotografia da minha autoria



«É preciso recomeçar a viagem. Sempre»


Viajar sem sair do lugar é uma modalidade que aprecio, sobretudo, quando não tenho a possibilidade de partir à descoberta. E gosto bastante de o fazer através do olhar minucioso do viajante, porque acredito que nos permite alcançar lugares intimistas e ter acesso a perspetivas que não conheceríamos de outra maneira, já que cada um de nós observa com propósitos distintos. Deste modo, foi um encanto embarcar nesta aventura.


VIAGEM A PORTUGAL: O LIVRO

A minha relação com Saramago sempre foi intermitente. Cruzámo-nos no secundário, pela mão do Memorial do Convento, numa altura em que a minha predisposição e a minha maturidade literária não estavam cimentadas. Portanto, não fui capaz de entender a mensagem para além do óbvio, nem de me desprender do grande obstáculo que era a pontuação. Apesar disso, lá no fundo, sabia que nos voltaríamos a encontrar.

«Não há limites para o silêncio. Debaixo destas pedras, o viajante retira-se do mundo»

Para continuar a cumprir esta previsão [depois de já ter lido História do Cerco de Lisboa, O Conto da Ilha Desconhecida e As Intermitências da Morte], apanhei boleia da obra Viagem a Portugal, desbravando o nosso país de Norte a Sul. Há um misto muito bonito entre aquilo que é a história do local e a perceção do autor; entre as memórias que se multiplicam e estabelecem pontes para outros recantos e as vivências da população. E é este dialeto que torna a leitura tão especial, porque recupera as emoções de momentos tão singulares.

«Afinal a resposta estava à beira da estrada por onde seguia»

Fiquei a conhecer novas paragens e recordei experiências que também vivi. Embora tenha noção do período temporal que nos separa e das metamorfoses que sofreram pelo meio, consegui encontrar um ponto comum entre nós - e alimentei a vontade de pegar na mochila e apenas ir. Portugal tem rotas mesmo inacreditáveis.

«É viagem o que está à vista e o que se esconde, é viagem o que se toca e o que se adivinha, 
é viagem o estrondo das águas caindo e esta subtil dormência que envolve os momentos»

Emocionei-me bastante com algumas partilhas, que não reproduzirei para não melindrar a leitura de quem quiser viajar por estas páginas. Mas também me ri com certas observações e apontamentos de ironia. Viagem a Portugal é um guia único, com uma abordagem muito própria. E, tal como a viagem que nunca termina, esta leitura seguirá pelo mesmo princípio: porque hei-de revisitá-la e perder-me em todas as suas trajetórias.


VIAGEM A PORTUGAL: O DOCUMENTÁRIO

A série homónima, baseada no livro de José Saramago, teve Fábio Porchat ao volante da aventura, tentando reproduzir os passos do Nobel da Literatura. Pessoalmente, creio que a escolha foi genial, uma vez que o humorista conseguiu equilibrar os elementos históricos com a leveza da descoberta, da curiosidade. Não obstante, com um toque claro de modernidade, também fomos encontrando críticas subtis à sociedade.

Senti, acima de tudo, que este documentário se fez de uma tremenda verdade e generosidade; de um genuíno interesse em entender este Portugal desconhecido, as suas gentes e tradições, elevando a paisagem e a arquitetura. Foram seis episódios com uma atenção constante ao detalhe e àquilo que sustenta a essência de cada lugar, por isso é que temos consciência do quanto é necessário voltar para «traçar caminhos novos».

Viagem a Portugal [disponível na plataforma da RTP Play] é um projeto que não só se enquadra nas comemorações do centenário do autor, como também «assinala a reedição desta obra», que contém imagens inéditas recolhidas por Saramago. Na companhia de Porchat, as suas palavras adquirem um novo sentido.

Com participações especiais, que trouxeram ainda mais brilho a este documentário, somos confrontados por uma misto de sensações. E, além disso, ficam as questões: o que pensaria o nosso Nobel dos tempos de hoje? Será que manteria a mesma opinião sobre os locais que visitou? Apesar de não descobrirmos as respostas, permanece a certeza de uma estrada cheia de experiências transformadoras - e inesquecíveis.

Fotografia da minha autoria



«Se não me deres a mão, eu tenho de ir»


A pluralidade da música - não é segredo para ninguém - fascina-me, sobretudo, pela possibilidade de interligar um trabalho colaborativo permanente, no qual se combinam vozes, visões e identidades distintas que conseguem encontrar um ponto comum e coexistir em harmonia. E é esse mesmo o dialeto da Avalanche.


O QUE É A AVALANCHE?

A Avalanche, tal como conseguimos perceber na apresentação disponível na página de Instagram, é «uma plataforma, um hub e uma nova casa para a colaboração». Assim, foi criada «por artistas, para artistas», de modo a incentivar parcerias entre músicos, filmmakers, fotógrafos, designers e todos aqueles que, com talento e competência, contribuem para que o produto final chegue ao público com a melhor qualidade possível.

Portanto, o propósito base passa sempre pela interação, culminando num processo documentado. Atendendo a que aprecio acompanhar todo o lado criativo e de bastidores, fiquei bastante entusiasmada com este projeto, pois acredito que espelha o que a arte tem de mais puro. Foi deste «ambiente fértil» que nasceu o Volume I


O VOLUME I

Dezoito artistas uniram esforços, alma e coração em sessões de escrita. Dessa dinâmica, reuniram as dez canções que figurariam no primeiro álbum, cujo véu foi sendo levantado através da partilha de alguns temas. Com uma linguagem camaleónica, envolve-nos numa diversidade reconfortante, descontraída e emocional, visto que nos permite explorar várias realidades e estados de espírito, numa viagem de [auto]descoberta.

Fui ouvindo as canções em separado, conforme foram saindo, desejosa que se multiplicassem nesta bela obra de arte. Considerando o todo, a verdade é que superaram as expectativas. Por isso, tenho-me sentido a viver neste Volume I, que traduz anseios, desejos e angústias; que tem a capacidade de ser colo e pista de dança. Feito de camadas, abriu as portas para que abraçássemos tudo aquilo que a vida tem em cada intervalo.

É difícil definir favoritos, mas foi este o pódio que ficou com o meu coração por inteiro - porém, faço a ressalva: o impacto de escutar a sequência narrativa, revestida em melodias cativantes, é muito mais marcante.

1. Corpo ao Mar [Left & Rita Onofre];
2. Neblina [Luar, Rita Onofre & Sara Cruz];
3. Contigo [Iolanda, Soluna & Luar]

Interligando os pontos, há uma história que espero que se venha a transformar noutros capítulos. Até lá, desfrutarei deste lar musical, que respira generosidade, criatividade e liberdade, num salto de fé sem limites.

Fotografia da minha autoria



«(...) denso e leve, violento e poético»

Avisos de Conteúdo: Morte, Luto, Bullying, Violação, Referência a Suicídio


As palavras parecem escassas para falar sobre a magnitude da obra de Aline Bei: tão pequena em tamanho e tão grande na essência. Isto porque há livros que nos doem e este é um exemplo perfeito dessa realidade.


UMA HISTÓRIA SOBRE PERDA

O Peso do Pássaro Morto narra a história de uma menina-mulher, dos oito aos 52 anos, cuja vida é amplamente marcada por situações de perda, de violência e de mágoa. No entanto, procura que a sua jornada não seja apenas sustentada neste ambiente desolador. Confesso que não estava nada preparada para um início tão intenso, com uma escrita peculiar, mas desarmou-me por completo - e marcou todo o ritmo da leitura.

«Chorei pensando que chorar assim deve
desmanchar o rosto da gente»

Fui avançando sempre apreensiva, atendendo a que paira uma certa instabilidade na trajetória da protagonista; atendendo a que permanece a sensação de a mesma não ter vivo, só sobrevivido a todos os contratempos. Em simultâneo, senti o peso da angústia, do fim, do caos e dos destroços emocionais, por ser um relato muito próximo, na primeira pessoa. Construído com frases curtas, num tom poético e íntimo, quase como se lhe faltasse o fôlego, a autora expõe tudo aquilo que necessitamos para compreender o contexto e o seu desnorte.

«além do nosso silêncio de sempre, eu já estava
acostumada,
mas não com essa coisa
brotando no peito parecido com
saudade só que menos,
era o feto
da saudade,
muito magro ainda, mas
com vida»

Este livro, por retratar temas como o bullying, a maternidade, o abuso sexual e a fragilidade do ser humano, é bastante triste e pesado; e, creio, será difícil ficarmos indiferentes à ação e à mensagem presente nas entrelinhas, porque é feito de honestidade e vulnerabilidade. E porque, ainda que atinja um extremo de dor, poderia ser a nossa história. Portanto, num permanente exercício de empatia, acabamos por refletir sobre os acontecimentos que nos marcam para sempre, influenciando o nosso futuro e as ligações que construímos.

«e desde que estamos juntos, parece que alguém
acelerou os relógios do mundo, penso que isso
é Amor»

No meio de tanto sofrimento, O Peso do Pássaro Morto consegue, por outro lado, ser uma narrativa de uma beleza singular, com apontamentos de esperança. Embora sejam mais os momentos dilacerantes, percebemos a importância de nos ancorarmos aos mais subtis pontos de luz e de abraçarmos um papel de cuidador.

Fotografia da minha autoria



«Eu gosto do conforto de um bom livro»


O tema para a última paragem, deste ano, do Alma Lusitana não foi uma escolha inocente, isto porque tive consideração pela época que se aproxima - e que é, como já referi várias vezes, uma das minhas favoritas. Ainda assim, não queria seguir o caminho mais óbvio, portanto, optei por explorar aquilo que a representa.

Natal, para mim, é sinónimo de conforto e intimidade, não só pela convivência reforçada com as nossas pessoas-casa, mas também por todo o ambiente luminoso, caloroso e aconchegante que encontramos pelas ruas de norte a sul de Portugal e pelas nossas habitações decoradas. Deste modo, procurei que esta viagem chegasse ao destino com histórias que, de alguma maneira, transmitissem a energia de um abraço apertado.

Queridos leitores, preparem os vossos marcadores, porque estamos prestes a partir para Óbidos. E a livraria O Bichinho de Conto, que tão gentilmente acedeu ao meu pedido, aliou-se à aventura, sugerindo nove livros intimistas/que confortam [sete infantis/juvenis, dois para adulto]. Em simultâneo, reuni mais 15 exemplares.


 SUGESTÕES O BICHINHO DE CONTO 

      

Daqui Ali, Isabel Minhós Martins: «Um bebé aqui. E tanta coisa do outro lado, a um passo, ali. Uma vontade começa então a crescer dentro do bebé: ir daqui, ali. Ali onde há bola, onde há pão, onde há música, onde há chão. Ali, onde mora a liberdade (pois então)».

Aqui é Um Bom Lugar, Ana Pessoa: «Num longo e vivo registo autobiográfico, Teresa Tristeza vai dando conta do seu mundo, daquilo que dentro de si fervilha e daquilo que sobre os outros vai pensando. Entre o outono e o verão, entre os 17 e os 18 anos, entre o final da sua passagem pela Escola Secundária e a entrada na Universidade, Teresa regista as emoções, os dilemas, as incertezas, as angústias e perplexidades próprias do crescimento. Verosímil e forte, a narrativa envolve o leitor que, com facilidade, se identificará não apenas com as vivências partilhadas em casa e na escola, mas também com a linguagem e o estilo, muito contemporâneos, que distinguem o relato».

O Meu Cavalo Indomável, David Machado: «Pensado como um elogio à imaginação, esta colectânea de quase uma centena de rimas de todas as formas e tamanhos está povoada por personagens exóticas, crianças desobedientes e imprevisíveis, animais irreverentes e ideias tão absurdas quanto divertidas».


      

Canções do Ar e das Coisas Altas, João Pedro Mésseder: «As palavras têm música, têm ritmo e entram nas canções, que servem para ouvir mas também para ler. Que bom é inventar uma melodia para as palavras e cantá-las. Nesses momentos parece que o coração humano se eleva no ar. Aí está como algo que é da terra, do corpo, se torna coisa alta. Como um avião, uma nuvem ou a lua - coisas que, se olharmos, também conseguimos ver no céu deste livro».

As Mais Belas Coisas do Mundo, Valter Hugo Mãe: «O meu avô perguntou quais seriam as mais belas coisas do mundo. Ele sorriu e quis saber se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa. A história de um menino que, dentro do abraço do avô, procura encontrar respostas para os mistérios da vida. O avô, que tem ar de caçador de tesouros, revela-lhe o maior de todos para curar a tristeza e a despedida: o encanto. Um conto profundamente comovente sobre a força dos afetos e da memória dos avós».

Não te Afastes, David Machado: «Após a morte do pai, Tomás acredita que, por sua causa, coisas más acontecem; e, para proteger a mãe e os amigos, decide deixar o lugar onde viveu toda a sua vida. Mas o país é apanhado por um furacão e, de um dia para o outro, o rapaz vê-se no meio de ruínas e inundações, perdido e desesperado. É, porém, no meio da tragédia que encontrará o mais inesperado dos amigos».


      

O Dicionário do Menino Andersen, Gonçalo M. Tavares: «Gonçalo M. Tavares encontrou-se com Andersen (ainda menino) para criar um novo dicionário. Depois de o lermos, o nosso olhar sobre coisas aparentemente tão banais como um armário, uma cadeira, uma escova de dentes ou um submarino mudará para sempre. O menino Andersen era um grande inventor e não andava nada satisfeito com as definições que lia no dicionário. Por isso decidiu começar a escrever, ele mesmo, um dicionário novo».

Breves Notas Sobre o Medo, Gonçalo M. Tavares: «À beira de um precipício, de cabeça para baixo, pelo seu mais ilustre professor agarrado somente pelos pés, eis que o aprendiz repete, assustado, a lição».

As Doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe: «A "fera branca" quase exterminou os povos originários do Brasil. Ao longo de séculos, os brancos mataram aqueles que não podiam escravizar. A dada altura, em fuga, muitos negros encontraram ao acaso os povos de peles vermelhas e tantas vezes o entendimento e a paz aconteceram. O autor cria para a Literatura actual duas figuras inesquecíveis: Honra e Meio da Noite».


 O QUE VOU LER 


O Apocalipse dos Trabalhadores, Valter Hugo Mãe: «Este é o romance mais divertido de Valter Hugo Mãe, feito da história sempre trágica de duas empregadas de limpeza e carpideiras profissionais que, entre cansaços e desilusões, encontram ainda motivos de esperança. Cada uma ao seu modo, descobrem caminhos nada óbvios para a felicidade, explicando uma inteligência que radica mais na emoção do que na prudência envergonhada do bom senso. O retrato mais genuíno de Portugal é, ao mesmo tempo, um sinal de força e de confiança para que, um dia, o país se encontre com a generosidade que define tanto o seu próprio povo».


 OUTRAS SUGESTÕES 

      

Agora e na Hora da Nossa Morte, Susana Moreira Marques: «Susana Moreira Marques viajou até às aldeias de Trás-os-Montes para encontrar pessoas com pouco tempo de vida, familiares em vigília e o vazio deixado pelos que morrem. Numa paisagem marcada por grandes distâncias, onde Portugal acaba e é esquecido, num tempo de fim e perante a nossa mortalidade, começamos a perceber o que é importante».

Idiotas Úteis e Inúteis, Ricardo Araújo Pereira: «Idiotas Úteis e Inúteis reúne mais de cem crónicas humorísticas que RAP escreveu originalmente para o jornal brasileiro de maior tiragem, a Folha de S. Paulo. Da vida política brasileira à cirurgia cosmética facial de Rambo, da etiqueta respiratória sob pandemia ao teorema dos macacos infinitos, da higiene pessoal de James Bond ao cabeleireiro de Medusa, da infância Fortnite ao politicamente correcto, este volume percorre os temas caros ao comediante e o seu modo muito particular de observar o mundo».

Para Que Fique Bem Escurecido, Sandra Baldé: «Conta a história da Kadijatou. Para os conhecidos Kadija. Uma mulher negra e guineense que nasceu e viveu toda a sua vida em solo europeu. É um conto de autoficção com espaço suficiente para esmiuçar algumas das questões que só nós, mulheres negras em países maioritariamente brancos entendemos: a dismorfia corporal, as microagressões, o colorismo, a hipersexualização e a dessexualização. Mas não se enganem, este não é um livro onde apenas se expõem dores e violências. São cartas de amor para todas as meninas que assim como a Kadi precisam voltar para casa para entender o tamanho da sua potência».


      

As Estradas São Para Ir, Márcia: «Numa altura em que ficou sem poder cantar, devido a um problema numa corda vocal, Márcia encontrou, no meio do seu silêncio, um outro som precioso: a poesia. Este livro é um encontro íntimo com esta voz interna de Márcia. Um conjunto de poemas, de pensamentos soltos...».

Vem à Quinta-Feira, Filipa Leal: «No seu mais recente livro de poesia Filipa Leal fala-nos, com uma voz muito própria, de problemas e sobressaltos, dos dramas da sua geração mas também dos tumultos por que passaram as anteriores».

Tudo São Histórias de Amor, Dulce Maria Cardoso: «Uma velha que em clausura depende do que o seu cão fiel lhe recolhe, uma mulher que mata a sua alma gémea, nós que nos tornamos cúmplices num autocarro em noite de temporal, um rio que devolve os ecos de duas crianças a quem aguarda um terrível milagre, uma ilha onde congeminam os faroleiros e suas zelosas esposas, um assassino a salvo na biblioteca, uma menina desaparecida, uma mulher intrigada pelo homem desconhecido. Um destino chamado amor».


      

Os Livros Que Devoraram o Meu Pai, Afonso Cruz: «Vivaldo Bonfim é um escriturário entediado que leva romances e novelas para a repartição de finanças onde está empregado. Um dia, enquanto finge trabalhar, perde-se na leitura e desaparece deste mundo. Esta é a sua verdadeira história — contada na primeira pessoa pelo filho, Elias Bonfim, que irá à procura do seu pai, percorrendo clássicos da literatura cheios de assassinos, paixões devastadoras, feras e outros perigos feitos de letras».

Como é Linda a Puta da Vida, Miguel Esteves Cardoso: «Estas tuas crónicas já me haviam passado pela vida quando estiveram nos jornais, depois, mais ainda quando saíram coligidas. Voltar a elas é começar por voltar à tua história com a Maria João».

Vertigens, Valentina Silva Ferreira: «Em finais dos anos 70, no Caniço, uma cidade costeira na ilha da Madeira, todos conhecem Ana Clara, a estranha rapariga que não fala e que passa os dias à janela. Quando Anita Fontoura a vê, também ela presa na sua janela de solidão imposta pelo marido, desenvolve-se entre as duas vizinhas uma amizade inesperada».


      

Filho da Mãe, Hugo Gonçalves: «Perto de fazer quarenta anos, Hugo Gonçalves recebeu o testamento do avô materno dentro de um saco de plástico. Iniciava-se nesse dia uma viagem, geográfica e pela memória, adiada há décadas. O primeiro e principal destino: a tarde em que recebeu a notícia da morte da mãe, a 13 de Março de 1985, quando regressava da escola primária».

Aquário, Capicua: «Capicua dá ao leitor uma caixa de bombons em forma de livro. Crónicas, pequenos textos, poemas e algumas letras, para rir, chorar e acenar com a cabeça em jeito de concordância - às vezes, surpreendidos por não termos reparado no mundo como Capicua faz. Aquário é uma moldura, um recorte ou, se quisermos, uma janela para os mares interiores de Ana Matos Fernandes. Palavras fluidas, que disparam rascunhos de canções, críticas sociais, rasgos de esperança, amor e desabafos».

O Meu Coração Só Tem Uma Cor, Joana Marques: «Neste livro que parece um jogo, ilustrado pelo também portista Pedro Vieira, Joana Marques vai do primeiro ao nonagésimo segundo minuto - aquele em que os jogos se decidem a favor dos dragões - jogando sempre à Porto».


   

Balada Para Sophie, Filipe Melo & Juan Cavia: «A vida de Julien Dubois, pianista de sucesso, confunde-se com a história da Europa do século XX. Desencantado e misantropo, vive a reforma numa velha mansão, com um gato e uma governanta por companhia. Um dia, é visitado por uma jovem jornalista que o incita a contar a sua verdadeira história. Nas paredes da casa, saturadas de fumo de cigarro e de velhas memórias, ressoa a confissão de uma vida feita de rivalidade, desamor e arrependimento».

O Momento em Que nos Perdemos, Maria José Núncio: «Maria dos Remédios tinha cinco anos quando perdeu a família nas cheias de 1967. Pais, irmãos, avós, tios e primos, todos foram levados pelo rio de água e lama em que se transformou o periférico bairro da Urmeira. No dia do enterro da mãe, em 1974, Toni, prestes a completar dezanove anos, foi expulso da sua casa em Campo de Ourique. o pai, membro conservador da burguesia lisboeta, recusava-se a ter um filho homossexual».


 CONSIDERAÇÕES 

📖 Podem ler em qualquer género e formato;
📖 O tema pode ser explorado de inúmeras maneiras: selecionando os vossos autores favoritos, abraçando histórias que se passem em épocas e/ou locais que vos encham as medidas, priorizando obras que abordem assuntos mais delicados e na primeira pessoa, por exemplo. Optem por aquela que vos fizer mais sentido;
📖 A lista anterior é um mero guia de apoio, caso estejam sem ideias para as vossas leituras, mas podem ler outra obra do vosso agrado, desde que, naturalmente, respeite o tema central e seja de um autor português;
📖 Não há prazos, obrigações, nem meses fixos. E podem ler mais do que um livro;
📖 Utilizem a hashtag #almalusitana_asgavetas para que consiga acompanhar o que estão a ler.


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads. Se quiserem aderir, encontro-vos aqui

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O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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