ALMA LUSITANA:
LIVROS INTIMISTAS/QUE CONFORTAM

Fotografia da minha autoria



«Eu gosto do conforto de um bom livro»


O tema para a última paragem, deste ano, do Alma Lusitana não foi uma escolha inocente, isto porque tive consideração pela época que se aproxima - e que é, como já referi várias vezes, uma das minhas favoritas. Ainda assim, não queria seguir o caminho mais óbvio, portanto, optei por explorar aquilo que a representa.

Natal, para mim, é sinónimo de conforto e intimidade, não só pela convivência reforçada com as nossas pessoas-casa, mas também por todo o ambiente luminoso, caloroso e aconchegante que encontramos pelas ruas de norte a sul de Portugal e pelas nossas habitações decoradas. Deste modo, procurei que esta viagem chegasse ao destino com histórias que, de alguma maneira, transmitissem a energia de um abraço apertado.

Queridos leitores, preparem os vossos marcadores, porque estamos prestes a partir para Óbidos. E a livraria O Bichinho de Conto, que tão gentilmente acedeu ao meu pedido, aliou-se à aventura, sugerindo nove livros intimistas/que confortam [sete infantis/juvenis, dois para adulto]. Em simultâneo, reuni mais 15 exemplares.


 SUGESTÕES O BICHINHO DE CONTO 

      

Daqui Ali, Isabel Minhós Martins: «Um bebé aqui. E tanta coisa do outro lado, a um passo, ali. Uma vontade começa então a crescer dentro do bebé: ir daqui, ali. Ali onde há bola, onde há pão, onde há música, onde há chão. Ali, onde mora a liberdade (pois então)».

Aqui é Um Bom Lugar, Ana Pessoa: «Num longo e vivo registo autobiográfico, Teresa Tristeza vai dando conta do seu mundo, daquilo que dentro de si fervilha e daquilo que sobre os outros vai pensando. Entre o outono e o verão, entre os 17 e os 18 anos, entre o final da sua passagem pela Escola Secundária e a entrada na Universidade, Teresa regista as emoções, os dilemas, as incertezas, as angústias e perplexidades próprias do crescimento. Verosímil e forte, a narrativa envolve o leitor que, com facilidade, se identificará não apenas com as vivências partilhadas em casa e na escola, mas também com a linguagem e o estilo, muito contemporâneos, que distinguem o relato».

O Meu Cavalo Indomável, David Machado: «Pensado como um elogio à imaginação, esta colectânea de quase uma centena de rimas de todas as formas e tamanhos está povoada por personagens exóticas, crianças desobedientes e imprevisíveis, animais irreverentes e ideias tão absurdas quanto divertidas».


      

Canções do Ar e das Coisas Altas, João Pedro Mésseder: «As palavras têm música, têm ritmo e entram nas canções, que servem para ouvir mas também para ler. Que bom é inventar uma melodia para as palavras e cantá-las. Nesses momentos parece que o coração humano se eleva no ar. Aí está como algo que é da terra, do corpo, se torna coisa alta. Como um avião, uma nuvem ou a lua - coisas que, se olharmos, também conseguimos ver no céu deste livro».

As Mais Belas Coisas do Mundo, Valter Hugo Mãe: «O meu avô perguntou quais seriam as mais belas coisas do mundo. Ele sorriu e quis saber se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa. A história de um menino que, dentro do abraço do avô, procura encontrar respostas para os mistérios da vida. O avô, que tem ar de caçador de tesouros, revela-lhe o maior de todos para curar a tristeza e a despedida: o encanto. Um conto profundamente comovente sobre a força dos afetos e da memória dos avós».

Não te Afastes, David Machado: «Após a morte do pai, Tomás acredita que, por sua causa, coisas más acontecem; e, para proteger a mãe e os amigos, decide deixar o lugar onde viveu toda a sua vida. Mas o país é apanhado por um furacão e, de um dia para o outro, o rapaz vê-se no meio de ruínas e inundações, perdido e desesperado. É, porém, no meio da tragédia que encontrará o mais inesperado dos amigos».


      

O Dicionário do Menino Andersen, Gonçalo M. Tavares: «Gonçalo M. Tavares encontrou-se com Andersen (ainda menino) para criar um novo dicionário. Depois de o lermos, o nosso olhar sobre coisas aparentemente tão banais como um armário, uma cadeira, uma escova de dentes ou um submarino mudará para sempre. O menino Andersen era um grande inventor e não andava nada satisfeito com as definições que lia no dicionário. Por isso decidiu começar a escrever, ele mesmo, um dicionário novo».

Breves Notas Sobre o Medo, Gonçalo M. Tavares: «À beira de um precipício, de cabeça para baixo, pelo seu mais ilustre professor agarrado somente pelos pés, eis que o aprendiz repete, assustado, a lição».

As Doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe: «A "fera branca" quase exterminou os povos originários do Brasil. Ao longo de séculos, os brancos mataram aqueles que não podiam escravizar. A dada altura, em fuga, muitos negros encontraram ao acaso os povos de peles vermelhas e tantas vezes o entendimento e a paz aconteceram. O autor cria para a Literatura actual duas figuras inesquecíveis: Honra e Meio da Noite».


 O QUE VOU LER 


O Apocalipse dos Trabalhadores, Valter Hugo Mãe: «Este é o romance mais divertido de Valter Hugo Mãe, feito da história sempre trágica de duas empregadas de limpeza e carpideiras profissionais que, entre cansaços e desilusões, encontram ainda motivos de esperança. Cada uma ao seu modo, descobrem caminhos nada óbvios para a felicidade, explicando uma inteligência que radica mais na emoção do que na prudência envergonhada do bom senso. O retrato mais genuíno de Portugal é, ao mesmo tempo, um sinal de força e de confiança para que, um dia, o país se encontre com a generosidade que define tanto o seu próprio povo».


 OUTRAS SUGESTÕES 

      

Agora e na Hora da Nossa Morte, Susana Moreira Marques: «Susana Moreira Marques viajou até às aldeias de Trás-os-Montes para encontrar pessoas com pouco tempo de vida, familiares em vigília e o vazio deixado pelos que morrem. Numa paisagem marcada por grandes distâncias, onde Portugal acaba e é esquecido, num tempo de fim e perante a nossa mortalidade, começamos a perceber o que é importante».

Idiotas Úteis e Inúteis, Ricardo Araújo Pereira: «Idiotas Úteis e Inúteis reúne mais de cem crónicas humorísticas que RAP escreveu originalmente para o jornal brasileiro de maior tiragem, a Folha de S. Paulo. Da vida política brasileira à cirurgia cosmética facial de Rambo, da etiqueta respiratória sob pandemia ao teorema dos macacos infinitos, da higiene pessoal de James Bond ao cabeleireiro de Medusa, da infância Fortnite ao politicamente correcto, este volume percorre os temas caros ao comediante e o seu modo muito particular de observar o mundo».

Para Que Fique Bem Escurecido, Sandra Baldé: «Conta a história da Kadijatou. Para os conhecidos Kadija. Uma mulher negra e guineense que nasceu e viveu toda a sua vida em solo europeu. É um conto de autoficção com espaço suficiente para esmiuçar algumas das questões que só nós, mulheres negras em países maioritariamente brancos entendemos: a dismorfia corporal, as microagressões, o colorismo, a hipersexualização e a dessexualização. Mas não se enganem, este não é um livro onde apenas se expõem dores e violências. São cartas de amor para todas as meninas que assim como a Kadi precisam voltar para casa para entender o tamanho da sua potência».


      

As Estradas São Para Ir, Márcia: «Numa altura em que ficou sem poder cantar, devido a um problema numa corda vocal, Márcia encontrou, no meio do seu silêncio, um outro som precioso: a poesia. Este livro é um encontro íntimo com esta voz interna de Márcia. Um conjunto de poemas, de pensamentos soltos...».

Vem à Quinta-Feira, Filipa Leal: «No seu mais recente livro de poesia Filipa Leal fala-nos, com uma voz muito própria, de problemas e sobressaltos, dos dramas da sua geração mas também dos tumultos por que passaram as anteriores».

Tudo São Histórias de Amor, Dulce Maria Cardoso: «Uma velha que em clausura depende do que o seu cão fiel lhe recolhe, uma mulher que mata a sua alma gémea, nós que nos tornamos cúmplices num autocarro em noite de temporal, um rio que devolve os ecos de duas crianças a quem aguarda um terrível milagre, uma ilha onde congeminam os faroleiros e suas zelosas esposas, um assassino a salvo na biblioteca, uma menina desaparecida, uma mulher intrigada pelo homem desconhecido. Um destino chamado amor».


      

Os Livros Que Devoraram o Meu Pai, Afonso Cruz: «Vivaldo Bonfim é um escriturário entediado que leva romances e novelas para a repartição de finanças onde está empregado. Um dia, enquanto finge trabalhar, perde-se na leitura e desaparece deste mundo. Esta é a sua verdadeira história — contada na primeira pessoa pelo filho, Elias Bonfim, que irá à procura do seu pai, percorrendo clássicos da literatura cheios de assassinos, paixões devastadoras, feras e outros perigos feitos de letras».

Como é Linda a Puta da Vida, Miguel Esteves Cardoso: «Estas tuas crónicas já me haviam passado pela vida quando estiveram nos jornais, depois, mais ainda quando saíram coligidas. Voltar a elas é começar por voltar à tua história com a Maria João».

Vertigens, Valentina Silva Ferreira: «Em finais dos anos 70, no Caniço, uma cidade costeira na ilha da Madeira, todos conhecem Ana Clara, a estranha rapariga que não fala e que passa os dias à janela. Quando Anita Fontoura a vê, também ela presa na sua janela de solidão imposta pelo marido, desenvolve-se entre as duas vizinhas uma amizade inesperada».


      

Filho da Mãe, Hugo Gonçalves: «Perto de fazer quarenta anos, Hugo Gonçalves recebeu o testamento do avô materno dentro de um saco de plástico. Iniciava-se nesse dia uma viagem, geográfica e pela memória, adiada há décadas. O primeiro e principal destino: a tarde em que recebeu a notícia da morte da mãe, a 13 de Março de 1985, quando regressava da escola primária».

Aquário, Capicua: «Capicua dá ao leitor uma caixa de bombons em forma de livro. Crónicas, pequenos textos, poemas e algumas letras, para rir, chorar e acenar com a cabeça em jeito de concordância - às vezes, surpreendidos por não termos reparado no mundo como Capicua faz. Aquário é uma moldura, um recorte ou, se quisermos, uma janela para os mares interiores de Ana Matos Fernandes. Palavras fluidas, que disparam rascunhos de canções, críticas sociais, rasgos de esperança, amor e desabafos».

O Meu Coração Só Tem Uma Cor, Joana Marques: «Neste livro que parece um jogo, ilustrado pelo também portista Pedro Vieira, Joana Marques vai do primeiro ao nonagésimo segundo minuto - aquele em que os jogos se decidem a favor dos dragões - jogando sempre à Porto».


   

Balada Para Sophie, Filipe Melo & Juan Cavia: «A vida de Julien Dubois, pianista de sucesso, confunde-se com a história da Europa do século XX. Desencantado e misantropo, vive a reforma numa velha mansão, com um gato e uma governanta por companhia. Um dia, é visitado por uma jovem jornalista que o incita a contar a sua verdadeira história. Nas paredes da casa, saturadas de fumo de cigarro e de velhas memórias, ressoa a confissão de uma vida feita de rivalidade, desamor e arrependimento».

O Momento em Que nos Perdemos, Maria José Núncio: «Maria dos Remédios tinha cinco anos quando perdeu a família nas cheias de 1967. Pais, irmãos, avós, tios e primos, todos foram levados pelo rio de água e lama em que se transformou o periférico bairro da Urmeira. No dia do enterro da mãe, em 1974, Toni, prestes a completar dezanove anos, foi expulso da sua casa em Campo de Ourique. o pai, membro conservador da burguesia lisboeta, recusava-se a ter um filho homossexual».


 CONSIDERAÇÕES 

📖 Podem ler em qualquer género e formato;
📖 O tema pode ser explorado de inúmeras maneiras: selecionando os vossos autores favoritos, abraçando histórias que se passem em épocas e/ou locais que vos encham as medidas, priorizando obras que abordem assuntos mais delicados e na primeira pessoa, por exemplo. Optem por aquela que vos fizer mais sentido;
📖 A lista anterior é um mero guia de apoio, caso estejam sem ideias para as vossas leituras, mas podem ler outra obra do vosso agrado, desde que, naturalmente, respeite o tema central e seja de um autor português;
📖 Não há prazos, obrigações, nem meses fixos. E podem ler mais do que um livro;
📖 Utilizem a hashtag #almalusitana_asgavetas para que consiga acompanhar o que estão a ler.


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads. Se quiserem aderir, encontro-vos aqui

Comentários

  1. Que boa forma de acabar o ano, com um livro intimista. Ainda não me decidi quanto à minha escolha, tenho que ir à estante ver os livros. Mas talvez opte por João Tordo ou pelo José Luís Peixoto.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Senti que era mesmo a melhor forma de terminar esta viagem :)
      Será uma excelente escolha

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  2. Ler um qualquer livro é RESPIRAR cultura.
    .
    Cumprimentos poéticos.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  3. Que são sempre umas boas sugestões para conhecer, acho que ainda não tinha ouvido falar de alguns
    Beijinhos
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    Tem Post Novos Diariamente

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  4. Queridamiga

    Vir até aqui é simultaneamente um refrigério e uma tristeza. Explico: Duas coisa intelectualmente me preenchem a vida; escrever e ler. Desde que me conheço assim acontece e por tal motivo aos 81 anos tenho uma biblioteca apreciável (com mais de três mil livros). Aos nove anos comerciei a ler o Júlio Verne e o Emilio Salgarii e aos onze o grande Eça, o Camilo, p Victor Hugo e outros. O Camões de principia fui obrigado a ler "Os Lusíadas" (censurado) e só depois adorei o seu sonetos. Do Pessoa e seus alter egos continuo a ser um fiel admirador. Portanto a avalanche de obras que indicas para mim é um tormento; gostava de chegar todas - mas o meu prazo de validade...

    Posto isto só me rest informar-te que já escrevi (além de jornais, revistas, blogues, etc., três livros.
    Agora espero que te vingues: vai até à NOSSA TRAVESSA (http://attravessadoferreir.blogspot.pt) e se quiseres deixa lá´um comentário
    Beijos & queijos
    Henrique
    .

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    1. Uau, isso é um número impressionante! E que bela jornada literária a sua :)
      Pois, percebo, o tempo parece sempre escasso para a quantidade de obras que ainda pretendemos descobrir.
      Muito obrigada pela visita, Henrique

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