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Fotografia da minha autoria |
O impulso para descobrir escritores nacionais está sempre presente. E em maio, uma vez que se comemora o dia do autor português, aproveito para construir uma lista de leituras que os privilegie. Alinhada neste espírito, recorri ao catálogo da BiblioLED para requisitar um livro de uma autora que estava no meu radar há algum tempo.
várias questões paralelas
Gula de Uma Rapariga Esquelética de Amor permite-nos conhecer Sara Branco Bizarro, uma pintora «que encostou os pincéis para escarafunchar uma trama de segredos que emergem da mente (ou da vida)». Neste limbo entre aquilo que parecem ser memórias e aquilo que podem ser interpretações livres do seu passado, percebemos que há uma certa necessidade de pintar retratos da sua infância para compreender o presente.
A protagonista leva-nos numa viagem frenética por lugares que tiveram impacto no seu crescimento, mas também por figuras que nunca esqueceu e que de alguma forma continuam a estar muito presentes na sua vida. Só que há um ponto em que passamos a duvidar da veracidade do seu discurso, da cronologia, das associações que parecem encaixar na perfeição. Insaciável, há uma urgência palpável para se desembaraçar da ingenuidade que ainda acredita manter e dos traumas que a moldaram para sempre.
A premissa afigurou-se vertiginosa, mas confesso que me perdi na cadência, nos seus floreados, nas alternâncias temporais. Acredito que a escrita tem potencial, e houve passagens que me fizeram rir e ficar apreensiva pela imprevisibilidade, contudo, sinto que se alicerçou a detalhes que não acrescentaram informação relevante ao enredo. E isso fez com que, por um lado, me afastasse da narrativa e, por outro, que sentisse que o tema central perdeu força, porque foi ofuscado por uma série de questões paralelas.
«Havia este desassossego permanente de sentir que a vida me fugia - culpava-me por não fazer nada para o calar -, uma gula perturbada não sei bem de quê e uma coisa que me doía por querer ir»
Em parte, consigo compreender a dinâmica que a autora assumiu, criando, aqui, uma estrutura um pouco peculiar, que pretende incorporar-nos nas oscilações da narradora e protagonista da história, mas gostava de ter encontrado uma coesão maior. É mesmo interessante a noção do que se constrói e destrói por amor e o retrato da mulher que carrega o fardo dessas antíteses, e entendo que, em cenários de violência e de trauma, não sejamos capazes de manter um fluxo de consciência linear, só gostava de ter tido mais espaço para compreender todas as dores e todas as perdas desta personagem.
Gula de Uma Rapariga Esquelética de Amor aborda temas como saúde mental, violência doméstica, luto e desigualdade de género. Abrindo portas para várias reflexões, creio que nos faz pensar no quanto somos moldados por situações às quais não deveríamos ter assistido, porque, sem as compreendermos, podem deixar-nos feridas profundas.
notas literárias
- Gatilhos: Violência doméstica, linguagem explícita
- Lido a: 1 de maio
- Formato de leitura: Digital
- Género: Romance
- Pontos fortes: Alguns apontamentos cómicos e sarcásticos na escrita e o tema
- Banda sonora: Nunca Me Esqueci de Ti, Rui Veloso | Ninguém, Raquel Martins
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gabriela relvas
gula de uma rapariga esquelética de amor
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livros de autores portugueses
4 Comments
Já quero ler! Fiquei mesmo curiosa.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Boas leituras, minha querida
EliminarNao quero, preciso de ler!
ResponderEliminarEspero que te proporcione uma melhor experiência :)
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