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Fotografia da minha autoria |
A série Daqui Houve Resistência é baseada «em factos e personalidades reais sobre a resistência e a luta antifascista, centrada a Norte de Portugal, durante os treze anos que antecederam o 25 de abril de 1974». Assim, ao longo de cinco episódios, vimos retratada a oposição à ditadura nacional, sempre a partir de locais diferentes e a partir de «uma perspetiva descentralizada» desta luta.
Os episódios abordam temas específicos, mas, transversal a todos eles, temos «os sacrifícios e a coragem de operários, estudantes, militares e ativistas políticos», que, ao decidirem enfrentar a repressão do regime, foram sendo voz da mudança social e política, culminando na nossa tão desejada e imprescindível Revolução dos Cravos.
A resistência manifestou-se de formas distintas, através de rostos anónimos e de movimentos igualmente desconhecidos, «desde a clandestinidade política até às ações mais diretas», multiplicando-me por diversos pontos do país. Por isso, esta série também pretendia demonstrar que as transformações são fruto dessa pluralidade, nascida da urgência de resistir, de não sucumbir, de abrir caminho para a liberdade. Através de códigos inteligentes, planos que visavam uma oposição séria e inspirada na força do coletivo, foram desbravando a escuridão do presente.
episódio um: a crise académica
Alberto Martins é líder da Associação de Estudantes de Coimbra e a principal figura «responsável pelo início da crise que desafia diretamente o regime e as suas políticas educacionais». Em 1969, enquanto a Crise Académica escala de uma forma gritante, marcando um ponto de viragem no país, Rui Guimarães, um oficial militar, «trava uma luta interna», atendendo a que vê cadetes a serem castigados por se oporem à Guerra Colonial.
Neste episódio, para além de ser visível a tensão entre os estudantes e as forças armadas, sinto que ficamos muito alerta para as zonas cinzentas que nos habitam e que pairam na forma como lutamos pelos nossos ideais. Os protagonistas foram fazendo o que sabiam, defendendo os valores que lhes pareciam ser os mais corretos. Naturalmente, aparentam estar em pólos opostos desta batalha, mas acho que um dos aspetos mais valiosos deste argumento é mostrar-nos que talvez nem tudo seja o que aparenta, que talvez existam mais pontes a uni-los, a diferença reside, em grande parte, na maneira como decidiram manifestar e defender as suas crenças.
episódio dois: a luta armada
Casimiro Ribeiro deserta da Guerra Colonial, foge para França e junta-se à L.U.A.R. na luta contra a ditadura portuguesa. Como consequência, envolve-se em atividades clandestinas com o objetivo de financiar a luta armada e a sua vida acaba por ter um rumo diferente e, claro, mais perigoso. No regresso a Portugal, cruza-se com o agente Nogueira, o que coloca em causa a missão para derrubar o regime e a sua liberdade.
Este episódio destaca a miséria, a violência e a tortura. Além disso, ecoa uma questão pertinente: será que, perante privações e um obsceno jogo psicológico, teremos força suficiente para não ceder? No fim, existem perguntas a ficar sem resposta, mas torna-se evidente a linha que separa a segurança da instabilidade. Para que se liberte o povo, a prática nunca poderá ser meiga, por esse motivo, há riscos que são necessários.
episódio três: a oposição democrática
O grupo Democratas de Braga, ao qual pertenciam figuras ilustres como o professor e visionário cultural Santos Simões e o seu amigo inseparável Eduardo Ribeiro, marcou a resistência ao fascismo, entre os anos de 1965 e 1968. Por seu lado, em Guimarães, enquanto a atividade da PIDE se intensificava, a oposição também ia subindo de tom.
Este episódio centrou-se nas tensões políticas, nos sacrifícios pessoais e em todos os laços forjados na luta pela liberdade. Apesar do medo, continuaram firmes, a avançar pela mudança e achei mesmo interessante como procuraram combater a farsa sendo prudentes - por questões de segurança e mesmo para não comprometer a missão. Há mazelas que ficam para sempre e, ainda assim, a emoção dos presos a serem libertados parece colmatar qualquer trauma que se tente colar à pele dos vários sobreviventes.
episódio quatro: a luta operária
Os operários lideram uma luta por melhores condições de trabalho, o que aumenta a tensão nas fábricas têxteis de Guimarães. João Ribeiro e Lurdes Mesquita são dois dos rostos dessa indignação, dos sucessivos abusos laborais, da opressão e da urgência de reivindicar uma justiça social ampla. Assim, desencadeiam uma greve na fábrica, com vista à criação de um sindicado representativo das suas necessidades. O problema é que as manifestações serão fortemente reprimidas por diversas autoridades do regime.
Este episódio espelha a crescente onda de violência e de prisões, a total ausência de empatia pelo outro e as prioridades que permanecem trocadas. O ritmo de trabalho é tão frenético e descontrolado, que não existe qualquer garantia de segurança, mas as figuras que detêm o poder não estão preocupadas com esse aspeto, estão preocupadas com a obtenção de lucro, seja a que custo for. Ademais, apesar de todas as ameaças, os trabalhadores continuaram unidos, contando com o apoio da Liga Operária Católica, expondo a cobardia de quem se considera superior, mas que não passa de um peão.
episódio cinco: a revolução
Rui Guimarães enfrenta o Coronel Mendonça e assume o comando do Regimento da Infantaria 8. Em simultâneo, Casimiro Ribeiro vai resistindo à brutalidade da PIDE e Santos Simões participa na organização das bases para uma sociedade democrática.
Este episódio é o culminar de um objetivo maior: os presos políticos são libertados, as manifestações em Guimarães simbolizam o fim do fascismo e há um tom de esperança que não só contagia o povo, como também cobre as ruas com a Revolução dos Cravos. É, por isso, uma jornada emocional, que não nos deixará indiferentes àquele quadro.
Estes fragmentos independentes contam uma história comum. A partir de diferentes perspetivas, contactamos com diferentes rostos que impulsionaram uma mudança tão ambicionada. E é arrepiante ver como as ruas se enchem para gritar pela liberdade.
6 Comments
Vi esta serie de uma assentada só! Recomendo! lembrei-me tanto da minha mae e do meu querido avô paterno que tambem ele lutou contra a ditadura fascista! Tive calafrios ao ver o que estas pessoas passaram so para nos dar a Liberdade! Suspiro de alivio pelo meu avô nunca ter sido apanhado *.*
ResponderEliminarSão retratos impressionantes de uma luta que não podemos descurar
EliminarPreciso mesmo de ver esta série.
ResponderEliminarE de explorar a RTPPLAY.
Beijinho grande, minha querida!
Aconselho imenso a série e o catálogo, têm sugestões excelentes
EliminarParece ser uma série grandiosa e com muitos ensinamentos. Fiquei com vontade de assistir.
ResponderEliminarBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Aconselho imenso e cada vez mais!
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