Entrelinhas #13
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Imagem retirada do site Diogo Piçarra em Pessoa |
«A obra de Fernando Pessoa é um património valioso da cultura literária portuguesa. Lê-la, estudá-la e interpretá-la é um desafio exigente e aliciante, que te é lançado pelos teus docentes, durante o percurso escolar. Neste livro, Diogo Piçarra vai mais além e lança-te um repto diferente: uma abordagem ímpar à obra de Pessoa. Numa procura incessante de auto e heteroconhecimento, Diogo encontra-se em Pessoa, selecionando e reconstruindo 20 dos seus poemas, revisitando, igualmente, a sua heteronímia...».
O Diogo Piçarra é um artista. E não é segredo para ninguém que sou uma eterna admiradora do seu trabalho. Não só pela qualidade óbvia, mas principalmente por se colocar inteiro em todos os desafios a que se propõe. Associamo-lo à música. E automaticamente vêm-nos à lembrança temas que nos conquistam pelas mais diversas razões. As palavras são, a meu ver, um dos seus pontos fortes, o que rapidamente comprovamos ao ler as letras da sua autoria, por isso escusado será dizer que assim que soube que iria lançar um livro a minha vontade era apenas uma: comprá-lo e apreciá-lo, ciente de que ficaria, uma vez mais, rendida!
Diogo Piçarra em Pessoa é um projeto pedagógico que resulta «de várias experiências de implementação de projetos e participação em ações de sensibilização e de promoção da Língua e Literatura portuguesas, nas quais a obra de Fernando Pessoa assume um papel central». Desenvolvido em parceria com a Betweien, Spinoff da Universidade do Minho, destina-se a alunos do 7º ao 12º anos de escolaridade. E incluiu a edição do livro, a exibição de uma peça de teatro e a adaptação musical de poemas, que podem ser «apresentados e promovidos por escolas públicas e privadas, câmaras municipais, associações ou outras instituições de cariz educativo que trabalhem direta ou indiretamente com este público-alvo».
A ideia de base é, por si só, extraordinária. E acho mesmo relevante existirem iniciativas tão úteis como esta. Porque cativam. Porque tornam a nossa língua próxima. Porque criam e transformam leitores. E, por vezes, só precisam de um incentivo extra para que isso aconteça. Aliando a parte educativa à parte interpretativa, o resultado está muitíssimo bem conseguido! Foi a minha escolha para o primeiro livro de 2017. E não podia ter começado da melhor maneira.
Como facilmente percebemos pela sua sinopse, o Diogo reinventou-se e reconstruiu 20 poemas pessoanos. E a Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis fez corresponder os seus próprios heterónimos: Luna Thea, Ingenuo Garcia e Walter Ego. Todos eles com uma história peculiar e fascinante. À semelhança de Pessoa e dos seus heterónimos, também Diogo e os seus são bastante diferentes, mas igualmente misteriosos e interessantes. Confesso que me revi um pouco em todos. E não consigo decidir de qual é que gostei mais, precisamente por serem tão distintos.
É um livro extremamente interativo, que nos oferece a possibilidade de criarmos as nossas próprias versões dos poemas escolhidos, utilizando a mesma dinâmica criada pelo Diogo: nós correspondemos a Pessoa e para cada um dos heterónimos criamos os nossos. Importa, ainda, referir que todos os poemas são acompanhados por ilustrações, que auxiliam na interpretação dos mesmos. É um livro que se lê num sopro, pelo seu caráter didático e original. E por nos desafiar constantemente. E é exatamente dessa forma que termina: com um desafio!
«O meu coração de vidro», «O Guardador de Sonhos» e «Se sonho, então posso ser» são, seguramente, os meus três poemas favoritos. A escrita do Diogo Piçarra é comovente. Conquista-nos de imediato. E, na minha opinião, conseguiu captar a genialidade de Fernando Pessoa, reinventando-o com um enorme respeito e mestria. Acho, muito honestamente, que vou aceitar o convite presente em todo o livro e, tendo em conta aquilo que sou e as minhas limitações, ser Pessoa. E deixar nascer de mim outras três personalidades que, de alguma forma, me definam, ou sejam o oposto daquilo que sou. Porque todos nós somos muitas Pessoas.
Deixo-vos, agora, com excertos dos poemas que mencionei anteriormente:
O Meu Coração de Vidro:
«O meu coração partiu-se como um vidro.
Caiu com o teu toque excessivamente frio.
Caiu das tuas mãos descuidadas.
Caiu e nos mesmos pedaços se desfez quantas as vezes o lascaste.
Perdão? Impossível? Sei lá!
Tenho menos recordações do que tinha quando éramos só nós.
Sou apenas fragmentos de um passado impossível de colar (...)»
O Guardado de Sonhos:
«(...) Não tenho sonhos nem desejos
Ser poeta não é o que mais desejo
É a minha forma de caminhar sozinho.
E se desejo às vezes
Transformar-me num sapatinho
(Ou ser o chão que piso
Para poder chegar a qualquer parte
E ser toda a cidade ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo no meio desta multidão,
Ou quando um semáforo muda a sua luz para verde
E corro em silêncio pela estrada fora»
Se Sonho, Então Posso Ser:
«Não sei bem
Quantos dias levarei
A alcançar
O que sonhei.
Não sei o que está, enfim,
Guardado para mim.
Mas enquanto dura,
Esta minha amargura,
É o meu sonhar que a alma cura.
Apenas quero crer,
Que, se sonho, então posso ser».
Um excelente trabalho e também gosto bastante deste três poemas escolhidos pelo Diogo Piçarra.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar || Dedais de Francisco e Idalisa || Livros-Autografados
Fiquei bastante curiosa! =)
ResponderEliminarBeijinhos
Não fazia ideia da existência dessa obra. Estou curiosa.
ResponderEliminarNão acompanho muito esse artista
ResponderEliminarNão sou fã de Diogo Piçarra, mas amo Fernando Pessoa. E admiro que tenha pegado na sua obra :)
ResponderEliminarTambém gosto muito do trabalho que o Diogo tem vindo a desenvolver.
ResponderEliminarTem mesmo muito carisma e carácter.
Beijinhos,
http://gestoolharesorriso.blogs.sapo.pt/
Parece muito interessante. Não conheço muito de Fernando Pessoa, mas gosto muito do que conheço! E sobre Diogo, irei conhecer. Beijinhos!
ResponderEliminarhiperbolismos.blogspot.com
Confesso que não conhecia esse trabalho!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Ontem lembrei-me de ti quando ele cantou. Imaginei-te colada â TV
ResponderEliminarKis:)
Tenho de comprar o livro
ResponderEliminarhttp://retromaggie.blogspot.pt/
Gosto muito de Fernando Pessoa...por isso fiquei com alguma curiosidade em relação a este projeto :)
ResponderEliminarhttp://checkinonline.blogspot.pt/
Saudável, fácil e prático de fazer :D
ResponderEliminarOhn, sabes bem que não tens de quê!
Sério?! Lançou um livro?! Não fazia ideia mas fiquei mega curioso por ler :o
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