PORTUGUÊS NO FEMININO ||
AGORA E NA HORA DA NOSSA MORTE

Fotografia da minha autoria


Projeto literário: Português no Feminino

Avisos de Conteúdo: Morte, Doença Prolongada


A finitude do ser humano é uma consequência natural da sua existência. Ainda assim, existe um certo pudor em conversar sobre a morte, talvez por haver uma consciência palpável da ausência, da perda e do esquecimento que pode despoletar. E não se torna mais simples de gerir essa realidade por a acompanharmos de perto. Porém, ficamos com outra perspetiva da mesma, tal como no livro de Susana Moreira Marques.

«Mas não é a ideia de desconhecido que assusta: 
é a ideia de que não haja desconhecido; apenas o fim»

Agora e na Hora da Nossa Morte parece revelar-nos tudo, através deste título, mas deixa-nos ainda distantes no que concerne à viagem intensa e emocional que estamos prestes a abraçar. Desta forma, seguimos os passos da autora, até às aldeias de Trás-os-Montes, para nos encontrarmos com pessoas com pouco tempo de vida e cujos familiares permanecem em vigília. Além disso, este livro é a representação física de um projeto de cuidados paliativos domiciliários, lançado pela Fundação Calouste Gulbenkian, no Planalto Mirandês.

«Os nomes sobrevivem, mas nunca foram os nomes que nos fizeram únicos»

Folhear as páginas deste manuscrito, descobrindo a solidão, o medo e a negação, proporcionou-me uma experiência avassaladora, que intimida pelo poder que os mesmos conceitos exercem em protagonistas tão distintos. Por outro lado, é de uma sensibilidade e respeito que nos comove; que nos desperta uma vontade imensa de cuidar dos nossos e dos outros. E, sobretudo, predispõe-nos a empatizar com o sofrimento alheio, compreendendo que não há reações únicas e que todos nós construímos mecanismos para lidar com o luto.

«E depois, o amor, grande sobrevivente do desastre»

Tecendo um manto de memórias, vamos desconstruindo a maneira como a doença altera a dinâmica familiar, as inseguranças que se manifestam como uma consequência direta e a própria sensação de estar perto da despedida. Em simultâneo, tendo a narrativa dividida em três partes centrais, revisitamos as notas da viagem da Susana, escutamos - ainda que em silêncio - cinco testemunhos inesquecíveis e reconstruímos vivências mais intimistas. E é interessante como cada visão se complementa, potenciando um retrato espacial e social.

«(...) mas há neles a ideia de terem perdido para a história parte da sua identidade»

Agora e na Hora da Nossa Morte encaminha-nos para a noção da nossa mortalidade, centrando-nos naquilo que é imprescindível. Porque a vida há-de continuar - mas eu nunca serei capaz de traduzir o brilhantismo desta obra, que é tão humana e delicada. Assim como se perspetiva que seja o nosso respeito pelos demais.

«Ontem, quando cheguei a casa, ele não me reconheceu»


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Comentários

  1. Tenho que ler este livro, pois a premissa é muito interessante. Obrigada pela partilha.

    Beijinho grande, minha querida!

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  2. Nesta altura não tenho capacidade para ler um livro desses.


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Compreendo, é um livro que exige bastante de nós emocionalmente

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  3. Acredito que seja um livro super interessante de ler.
    .
    Cordiais cumprimentos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  4. Quero muito ler está sugestão pois vou me lembrar muito da minha madrinha que morreu de doença prolongada quando eu fiz 18 anos… 😢 muito muito obrigada por esta partilha 🧡

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  5. Que sim é mais uma boa sugestão para se conhecer, acho que ainda não tinha ouvido falar
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  6. Com o mundo como está esse tema seria muito pesado para mim!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. Compreendo perfeitamente! Tem, de facto, uma energia mais pesada

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  7. "Folhear as páginas deste manuscrito, descobrindo a solidão, o medo e a negação, proporcionou-me uma experiência avassaladora, que intimida pelo poder que os mesmos conceitos exercem em protagonistas tão distintos. Por outro lado, é de uma sensibilidade e respeito que nos comove; que nos desperta uma vontade imensa de cuidar dos nossos e dos outros. E, sobretudo, predispõe-nos a empatizar com o sofrimento alheio, compreendendo que não há reações únicas e que todos nós construímos mecanismos para lidar com o luto." gostei deste teu trecho e me pareceu bem interessante o livro!

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    1. Obrigada, Ulisses!
      Bem sei que sou suspeita, mas é mesmo. Porque não só nos ajuda a tornar o tema menos tabu [afinal, é o curso natural da vida], como também nos permite descobrir várias formas de lidar com o professo. E, depois, a própria abordagem da autora é muito interessante. Aconselho

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  8. adorei o enredo da historia do livro não conheço
    http://retromaggie.blogspot.com/

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  9. Não conhecia, obrigada pela partilha!

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  10. Querida Andreia neste momento ler esse livro...acho que me atirava mais para o fundo.
    Beijinhos

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    1. Não é o livro mais aconselhável, neste momento. Muita força, querida Amélia <3

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