li, mas passa (I)

Fotografia da minha autoria



Os livros não se tornam todos memoráveis e há alguns sobre os quais não tenho assim tanto para partilhar, ao ponto de justificar uma publicação independente. Assim, apesar de me dar alento escrever sobre as narrativas que leio, para também garantir que neste blogue não há só espaço para reviews literárias e que tenho margem para explorar outros conteúdos, decidi ir compilando as histórias que li, mas cujo enredo acabará por passar.


 a criada, freida mcfadden

A curiosidade levou a melhor e entrei, finalmente, no universo de Freida McFadden.

A Criada acompanha a vida de Millie quando consegue emprego em casa de Nina Winchester, enquanto interna, e rapidamente percebemos que existem muitos pontos suspeitos, que não encaixam com lógica. Consigo entender o fenómeno, porque a escrita é fluída, cinematográfica e com elementos que nos intrigam, mas não me arrebatou. Creio que entretém e que nos deixa a pensar sobre a verdadeira essência das pessoas, mas a energia de filme macabro da Fox Life não me deixou a suspirar pelos próximos.

Pode ser uma excelente opção, ainda assim, para quando queremos histórias descomplicadas, que nos permitam desligar.


 murdle #1, g. t. karber

As minhas séries de eleição, tirando FRIENDS, situam-se sempre na onda dos policiais. Como frequentadora assídua da escola de Mentes Criminosas, CSI Miami, Castle, S.W.A.T. e, mais recentemente, The Rookie, preservo o fascínio por desvendar crimes, por isso, não resisti ao livro de G. T. Karber.

Murdle #1 reúne 100 mistérios para resolver, divididos por quatro graus de dificuldade. Diverti-me muito a testar a lógica e a solucionar as propostas, tanto sozinha como acompanhada, e acredito que o segredo é ir resolvendo devagar, poucos casos de cada vez, até porque, dentro de cada nível, acaba por seguir tudo a mesma linha. Estive desde novembro de 2024 até julho deste ano na companhia deste exemplar e foi ótimo para quando a cabeça precisava de divagar.


 desconhecidos num casamento, alison espach

A premissa deste livro intrigou-me logo, afinal, temos um hotel reservado para um casamento e uma protagonista que consegue um quarto para se suicidar. Ao manifestar a sua intenção à noiva, esta fará tudo para que não lhe estraguem a festa.

O início é promissor, mas a concretização não funcionou comigo, porque não gostei da abordagem que a autora teve em certos temas. Honestamente, acho que lhe faltaram consciência e sensibilidade a retratar a saúde mental. Até achei alguns pontos interessantes, mas, de um modo geral, senti que escalou tudo demasiado rápido e que houve muitas ligações forçadas. Não esperava que me mudasse a vida, apenas queria que existisse um pouco mais de cuidado.


 contos da sétima esfera, mário de carvalho

Contos da Sétima Esfera é o livro de estreia de Mário de Carvalho e a sua compilação de textos veio «quebrar o cânone literário da época, revelando um universo ficcional único que a cada linha sugere que na literatura há espaço para o insólito». Assim, reunindo «deuses, homens, anjos, demónios», orbitamos em narrativas que oscilam entre o fantástico e o maravilhoso, entre o que se pensa ser o início e o fim de tudo.

A estranheza talvez tenha sido o principal fator para não me conseguir relacionar em pleno com os contos. Embora a escrita seja maravilhosa e nos desperte curiosidade por aquilo que é descrito, confesso que as duas primeiras partes não funcionaram para mim, a terceira já me conquistou um pouco mais, talvez por se aproximar de um tom mais quotidiano, de cenários que consigo compreender melhor e, inclusive, imaginar.

O livro é um exercício de escrita interessante, porque explora lendas, mitos, situações caricatas, mas sinto que nenhum dos contos ficará bem comigo.


 nome de mãe, vários autores

Nome de Mãe é uma antologia focada na figura materna, quer pela sua presença, quer pela sua ausência «na vida de todos». Deste modo, compilando textos de escritores de língua portuguesa, é uma obra que pretende «acolher e expand[ir] a multiplicidade de papéis que a figura materna desempenha desde sempre», enquanto elemento de uma sociedade e enquanto ser individual. Escolhendo cenários públicos e/ou levando-nos até um ambiente intimista/privado, também visitaremos «o imaginário dos seus filhos».

Feliz ou infelizmente, é uma obra sobre a qual não posso comentar a fundo, para não comprometer a experiência de leitura. Não obstante, é curioso como, começando na mesma casa de partida, criaram universos tão distintos, explorando camadas muito particulares. Por outro lado, é possível encontrar assuntos transversais, como a dor, a memória, os papéis que desempenham quase em simultâneo, o que poderia ter sido.

Nem sempre a mãe é a voz, por vezes é a construção dos outros, é aquilo que guardam e que partilham com quem os rodeia. E acho que foi por isso que senti que alguns dos contos se desviavam do propósito central - ou eu é que estava à espera de encontrar a figura materna sempre no lugar de protagonista. Naturalmente, não fui arrebatada por todos os textos, mas destaco os do Hugo Gonçalves, do Ricardo Adolfo e do Ondjaki.


 conta-me, escuridão, mafalda santos

Conta-me, Escuridão promete desassossegar, uma vez que reúne personagens capazes de invadir os nossos sonhos: «desde trigémeas assassinas, a entidades assustadoras, passando por bruxas malévolas e magia», não há qualquer traço de esperança que nos salve. No desenrolar destes oito textos, que não vieram para encantar, nem para nos fazer rir, sinto que fica clara a mestria da autora para criar universos surpreendentes.

Confesso, no entanto, que não fiquei apaixonada pelo livro, talvez por estar à espera de um traço mais aterrorizador, que me deixasse no limbo entre estar segura e sentir o coração a falhar uma batida. Acho fascinante a capacidade que a Mafalda Santos tem de nos levar a acreditar em cenários improváveis, ainda assim, senti que o processo criativo me impactou mais do que a concretização. A ideia está lá, mas faltou-me algo.

Há, aqui, várias formas de escuridão, «demónios que desafiam as nossas crenças» e, se calhar, a maior valência deste livro é o que se esconde nas suas entrelinhas, na dor, no luto, no desespero, nas promessas que fazemos quando estamos prestes a sucumbir. Com elementos transversais entre os contos - ou ideias que se repetem em surdina -, gostei particularmente d’ O Mal Por Detrás da Montanha e do Vida Eterna, sobretudo, pela coerência entre as situações e pelo equilíbrio entre diferentes estados de espírito.


 doidos por livros, emily henry

Este livro transporta-nos para o mundo editorial através de Nora, que adora a sua profissão e Nova Iorque, e Charlie, «com o dom de publicar bestsellers» e que é o inimigo número um de Nora. Eles conheceram-se num almoço desastroso, portanto, a primeira impressão não contribuiu para apaziguar a inimizade entre ambos, mas o destino fará das suas. Em simultâneo, conhecemos Libby, a irmã da protagonista, que lhe propõe uma viagem familiar a Sunshine Falls.

Longe da confusão da cidade, achei deliciosa a crítica aos clichés recorrendo a todos os que existem. Sinto que essa abordagem trouxe um lado mais cómico ao livro, complementado pelos diálogos bem construídos e engraçados das personagens. Dei por mim a rir-me com certas passagens e a ficar rendida à sátira, à ironia que povoa estas páginas.

Notei uma evolução bastante positiva na escrita e gostei que não tivesse criado duas personagens antagónicas: tê-las construído com tantos pontos comuns ajudou a que a narrativa se tornasse mais madura e credível. Ainda assim, creio que a estrela desta história é a relação de Nora e de Libby, por isso, gostava que tivesse sido mais explorada. Compreendo que o objetivo seja dar destaque à relação amorosa, mas acho que havia margem para desenvolver o vínculo de irmãs.


 o espião português, nuno nepomuceno

O Espião Português alicerça-nos a um universo de espionagem, jogo duplo e mentiras, no qual vemos colidir o trabalho de duas organizações, uma semigovernamental e uma «formada por mercenários», que procuram obter vantagem num «estudo secreto sobre uma arma de nova geração». Entre estes extremos, está André Marques-Smith, diretor do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que assume uma identidade paralela enquanto agente secreto, conhecido como Freelancer. No decorrer da operação mais recente da equipa, é confrontado por uma verdade dura.

A premissa intriga e, para primeiro livro, sinto que é um trabalho competente. Uma vez que fiz o percurso inverso, ou seja, que comecei pela Saga Afonso Catalão, achei curioso constatar que o primeiro volume desta trilogia é já uma porta entreaberta para temas que me parecem centrais para o autor. Além disso, tem uma escrita fluída, com um toque cinematográfico. Não obstante, senti fragilidades no ritmo da narrativa, porque se perdeu em descrições pouco relevantes para o entendimento da história.

Outro aspeto que me deixou reticente foi a constante repetição acerca da aparência das personagens, como se existisse uma necessidade profunda de as tornar perfeitas, como se o valor de cada uma delas estivesse dependente dessas características. Numa situação em que é preciso seduzir o inimigo, consigo entender que nos forneça essa informação, até porque há um contexto, fora isso, para mim, só cria ruído, porque não é isso que procuro compreender. Interessa-me muito mais aquilo que farão perante circunstâncias que fogem ao seu controlo e que as confrontam com os seus valores.

1 Comments

  1. Já li a criada e o segredo da criada. Achei que a autora criou uma fórmula de narrativa que vende bem, no entanto, senti que a narrativa era repetitiva nos dois livros. Sinceramente não me parece que o hype e este excesso de publicação dos livros dela valha assim tanto a pena!

    Beijinho grande, minha querida!

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