a árvore mais sozinha do mundo, mariana salomão carrara
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Fotografia da minha autora |
A afirmação pode ser forte, mas sinto que estão reunidas todas as condições para a partilhar com o mundo: ao segundo livro, Mariana Salomão Carrara escalou para o grupo de escritoras favoritas, porque é absolutamente perfeita a forma como constrói os seus enredos. Talvez seja um pouco frenético habitar a sua cabeça, mas quero ler tudo o que escrever.
narradores peculiares
A Árvore Mais Sozinha do Mundo acompanha uma família que trabalha numa roça do Sul do Brasil: Carlos, o pai, Guerlinda, a mãe, e Alice, Maria e Pedro, os filhos. Neste drama familiar, que nos entrelaça às condições laborais precárias, às dificuldades económicas e à dinâmica tão particular da plantação e venda de tabaco, são os narradores que nos fazem sentir cada camada como se lhes pertencêssemos.
A autora arrojou na forma como construiu a narrativa, até porque deu voz a quatro objetos próximos desta família: a árvore que se encontra no jardim, o espelho interior, a carrinha onde se deslocam e uma peça de roupa que os protege na altura da colheita. Esta escolha pode parecer estranha, ao início, mas achei-a brilhante, uma vez que nos permite ter acesso a fragmentos ocultos, abordagens e pensamentos que nos escapariam de outra forma. No fundo, estes objetos colocam em evidência tudo aquilo que as personagens poderiam esconder.
«As pessoas, quanto mais crescem, mais têm medo de tropeçar e cair de suas pequenas alturas. Eu não, já faz um tempo que fantasio minha queda, cresci tanto que acumulei vertigem»
Enquanto avançava na leitura, senti-me uma confidente dos narradores, senti que estava a descobrir segredos que me ajudariam a traçar o perfil dos protagonistas, sem filtros, o que me aproximou de cada um deles, ao mesmo tempo que me permitiu compreender determinadas posturas e decisões. Além disso, achei curioso que as vozes se complementassem, sem quebrarem o ritmo da narração e da identidade de cada objeto. Mariana Salomão Carrara teve uma atenção aos detalhes que me desarmou por completo e que me fez apaixonar por todos os pontos deste livro que continua a crescer em mim.
A Árvore Mais Sozinha do Mundo é feito de tristeza, de conformismo, de dor e de esperança. Alternando entre «desgraças-doenças-infortúnios» e «sonhos-desejos-vitórias», faz-nos pensar sobre o que se espera do futuro e sobre o essencial que fica na penumbra.
notas literárias
- Lido entre: 30 de junho e 3 de julho
- Desafio: Clube do Livra-te
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagens favoritas: Alice, Maria e Elvira
- Pontos fortes: As camadas da narrativa, o quanto consegue ser cru e melancólica; as vozes distintas
- Banda sonora: A Árvore, Cassete Pirata | Familiar, Nils Frahm | Near Light, Ólafur Arnalds | Winter Bird, Aurora | As Curvas da Estrada de Santos, Roberto Carlos
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2 Comments
Parece uma sugestao excelente pois acabei de ler Nem Todas as Arvores Morrem de Pé *.*
ResponderEliminarFiquei com muita vontade de ler este livro, parece ser incrível.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!