Minutos com história IV


«Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação», Charles Chaplin


Há quinze dias estava em contagem decrescente para assistir a três momentos distintos que não mais esquecerei. Integrados nas festividades do S. João do Porto, os Concertos na Avenida permitiram-me ver ao vivo três dos artistas que mais admiro: Os Azeitonas, GNR e Ana Moura


Sexta-feira, vinte de junho de dois mil e catorze 

Nunca mais chegava à hora de sair de casa. Podia ser uma sexta qualquer. Só mais uma. Só mais um dia no calendário. Mas não era. Não para mim que sabia que estava a horas de ver uma das bandas que mais gosto. Era uma estreia absoluta ver Os Azeitonas atuar ao vivo e não podia estar mais entusiasmada. Admiro-lhes tudo: o talento, as músicas, a cumplicidade, a presença, a paixão. Presenciar isso era realizar um sonho antigo. E foi melhor do que aquilo que algum dia poderia imaginar.

Saí dos Aliados sem sentir os braços e as pernas. De tanto filmar. De tanto saltar. De tanto dançar. De tanto aplaudir. E saí igualmente com menos voz, até porque era impossível não acompanhá-los. A energia que têm em palco é mesmo fascinante e envolvente. Os meus pais, que foram os meus grandes companheiros nesta aventura de três dias, vieram radiantes - e ainda hoje a minha mãe me diz que foi o melhor concerto a que assistiu. Puseram uma avenida inteira a mexer e a cantar a uma só voz. Hoje ficam as memórias que nunca saberei reproduzir em palavras certas, mas que me aconchegarão sempre o coração quando as saudades se fizerem sentir. 

«Anda comigo ver os aviões» foi, talvez, a que mais impacto teve, também por todo o sucesso que fez. Parar para ouvir as pessoas ao meu lado e sentir que a música (seja ela qual for) é capaz de juntar tanta gente é indescritível. Arrepiei-me. Emocionei-me. E acho que é por isso que gosto tanto de música: por todas as sensações que nos faz viver. Não consegui conter as lágrimas quando cantaram «Nos Desenhos Animados», até porque retrata muito da nossa infância. Parece uma letra tão simples, mas, ao mesmo tempo, é tão cheia de significado. Foi impossível não saltar/dançar na «Ray-dee-oh», «Quem és tu miúda», «Dança, menina dança». E a «Tonto de ti» fala-nos mesmo ao coração.

Os Azeitonas são, para mim, uma das nossas melhores bandas. São todas as músicas que nos cantaram. Toda a energia com que nos envolveram. Toda a humildade e cumplicidade que passou de cima do palco para o público. E, por momentos, senti que nos levaram todos lá para cima porque em nenhum momento se esqueceram de interagir connosco. São estes gestos que fazem a diferença. Eles marcaram-na bem há muito tempo, porque são do que temos de melhor. 

O momento final em que fizeram «A Dança» foi memorável e só tenho pena de não ter conseguido filmar. A solo, a pares ou a trios brindaram-nos com passos muito peculiares e próprios, numa coreografia sentida no momento e que nos deixa perceber a boa disposição que se vive. Primeiro eles e depois nós. Sim, porque o público não escapou ao «O que é que estás a fazer pá? O que é que estás a fazer pá? Dança pá?». E dançamos. Todos juntos. E foi assim que nos despedimos, com a certeza de que ficaríamos a noite toda ali se eles continuassem connosco. 

Como o disse na altura, foi um concerto do caraças! E um privilégio enorme assistir a tão magnífico momento. Fica a promessa de que nos havemos de encontrar. Brevemente, espero.
 





Sábado, vinte e um de junho de dois mil e catorze

Cresci a ouvir GNR, por isso mesmo são das bandas mais antigas que ouço e das que mais gosto. Estava bastante curiosa por ouvi-los ao vivo e por presenciar toda a energia que ainda lhes reconheço, mesmo que os anos passem a voar. Também foi uma estreia, visto que nunca tinha ido a um concerto deles, e não podia ter saído dos Aliados mais satisfeita, sobretudo porque comprovei a opinião que adquiri com o passar do tempo.

O Rui Reininho é mesmo um espanto. Adoro a espontaneidade e o facto de não fingir ser algo que não é. Sem complexos, permite-se viver intensamente o que se passa em palco, brincar com determinadas situações, entreter quem o ouve. Está tão à vontade que sente tudo isto com outro espírito e é por isso que acho que o tempo, mesmo que passe, não passa pela banda. Continuam geniais e a arrumar a um canto algumas que aparecem de novo. É que não basta chegar, é preciso haver qualidade e vontade de trabalhar. Aquilo que os GNR são não surgiu do dia para a noite, foi preciso trabalho e muita dedicação, além de talento que, naturalmente, tem que existir. Quebraram barreiras ao longo do seu percurso e não me admira nada que continuem a fazê-lo até chegar o dia em que as luzes se apaguem e só fique a história. E que história! O legado que deixam na música portuguesa merece total respeito. E é um verdadeiro exemplo. Mas como eles continuarão cá por muito mais tempo ainda não é hora de pensar nas despedidas finais. E isso sentiu-se durante duas horas de concerto. 

Acompanhado pela enormíssima Isabel Silvestre, o que foi uma autentica surpresa, pois ninguém estava à espera, emocionaram-nos a todos quando cantaram a célebre «Pronúncia do Norte». Sente-se o coração a ficar pequenino e a pele completamente eriçada. O orgulho fica ainda maior por se fazer parte deste povo do Norte, que sente na alma cada palavra. Há músicas que nos marcam, para sempre, e esta é uma delas. Ouvir todas as outras que eu adoro, como «Sangue Oculto» ou mesmo «Ana Lee», é, novamente, um sonho tornado realidade. E que bom que isso é. Por tudo aquilo que representa. Daqui a uns anos, tenho a certeza, recordarei tudo isto, com a mesma emoção com que o vivi.  

Senti a minha adolescência ali, a um palmo de mim. Foi uma honra. Das grandes. Das que nunca se esquecem. Até breve!






Domingo, vinte e dois de junho de dois mil e catorze

Era o último! Não é possível, como é que o tempo passa tão depressa? Mas ainda ontem era quinta e estava a contar as horas para sexta à noite... Passa tudo demasiado rápido que chega a ser assustador. Mas a vida é mesmo assim: não para, faz-nos avançar e viver todos os dias novas experiências. Só que, verdade seja dita, há momentos em que gostávamos de parar o tempo, só para termos a sensação de que os podemos eternizar. 

Não é segredo para ninguém que Ana Moura é, sem qualquer dúvida, a fadista que mais admiro. Pela elegância com que canta. Pelo sorriso constante. Pela alma. Pelos fados. Pela simplicidade. Por tudo. Naturalmente, cada artista tem que se adaptar ao público que tem à sua frente e, principalmente, ao espaço onde atua. É completamente diferente cantar numa casa de fados, dar um concerto no coliseu ou atuar ao ar livre. Estar num palco improvisado com uma avenida inteira pela pela frente deve ser assustador, ainda para mais quando o tempo não está, de todo, para ajudar e com a agravante de haver jogo da seleção. É preciso cativar. E ela faz isso na perfeição. 

Cá em casa éramos dois de coração nas mãos (não era só eu que a queria ver, o meu pai também), a pensar que a chuva nos estragaria os planos. Mas arriscamos. E ainda bem. Porque nem a chuva que depois voltou conseguiu apagar a beleza de uma avenida inteira a cantar fado. A voz forte e ligeiramente rouca, que muitas vezes se conjugou com as nossas, ou que se calou para nos ouvir, fez tudo valer a pena. Sempre de sorriso no rosto, encheu o palco de vermelho vivo, com paixão, com alma e um talento inesgotável. 

Faltou-me «O que foi que aconteceu» e «Até ao fim do fim», mas ouvir da segunda fila todos os outros fados que cantou, com especial destaque para «Os Búzios» e «Desfado» compensou. E muito! É impossível falar deste momento sem mencionar os músicos. Que qualidade! Aquela guitarra portuguesa entoou diretamente nos nossos corações. E ver tocar bateria com martelos de S. João não é para qualquer um. Acredito que o trabalho fique mais facilitado quando se tem todo este apoio, pois permite que o artista brilhe ainda mais. Mas a generosidade partilhada entre todos naquele palco foi comovente. 

No fim, e porque todos juntos tem ainda mais encanto, cantamos a uma só voz «A Portuguesa», carregando no peito o orgulho que é ser-se português. Foi um momento mágico, assim como todos aqueles que se viveram desde que o concerto começou. As palavras ficarão sempre aquém, mas o coração recordará para sempre tudo isto!





Só partilhei três vídeos de cada um, uma vez que eram muitos para colocar nesta publicação. Mas podem ver todos os outros no meu canal do youtube. Podemos voltar atrás no tempo? Já estou a morrer de saudades! 

10 Comments

  1. Que fim-de-semana em grande :)

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  2. Um grande fim - de - semana, deve ter sido bem divertido :)
    Beijinhos
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  3. Olá Andreia!
    Ainda bem que conseguiste ir ver Os Azeitonas. Espero que os possas ver muitas mais vezes!
    É a minha banda favorita! Esse concerto foi o meu 19º deles.
    Estiveste com eles no final? Eles são muito simpáticos. :)
    Já fazes parte do clube de fãs? Vamos comemorar o aniversário no concerto em Freamunde, a 15 de Julho.
    Página: https://www.facebook.com/OsAzeitolas?fref=ts
    Grupo: https://www.facebook.com/groups/OsAzeitolas/

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  4. resp: sim, já estou a começar a perceber :p

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  5. Foi realmente momentos em grande... Ainda bem que te divertes...

    Bjxxx

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  6. Que excelente reportagem aqui fizeste :) Fiquei com imensa vontade de voltar atrás no tempo e fazer tudo por tudo para ir assistir a esses concertos!

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  7. Gostei tanto destes teus diários/resumos dos concertos :) Não desfazendo dos GNR e nem da Ana Moura que gosto bastante de ambos, eu adoro os azeitonas, as músicas, as letras são fantásticas ;)

    Beijinho

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