CAIXA MÁGICA ||
PRINCÍPIO, MEIO E FIM

Fotografia da minha autoria



«Há beleza no erro»


As histórias, por norma, apresentam um ciclo de três etapas que nos é bastante familiar. No entanto, o processo que lhes dá forma e as permite transitar para a seguinte pode conter inúmeras alternativas e desfechos. É isso que as enriquece e que as distingue, até porque podemos partir todos da mesma premissa, mas a meta terá sempre um formato distinto, dependendo de quem a constrói. Ainda assim, para que seja contada, necessita de desenlaçar um Princípio, um Meio e um Fim.


O PRINCÍPIO

A nova aposta televisiva da SIC junta quatro nomes talentosíssimos - Bruno Nogueira, Salvador Martinha, Nuno Markl e Filipe Melo -, naquele que é, para mim, um dos conceitos mais geniais a que já assisti: pela originalidade, pela liberdade de criação, pela ousadia, pelo despropósito de alguns pensamentos e, claro, por dar palco a profissionais que admiro e que têm a capacidade inspiradora de pensar fora da caixa, sem se levarem demasiado a sério. Além disso, quando vemos amigos a divertirem-se, é percetível que, desse contexto, só pode resultar um projeto aliciante - embora esteja a dividir opiniões.

O conceito do programa tem tanto de simples, como de complexo. Porém, atendendo às suas características, esta odisseia criativa entusiasma, na mesma medida em que nos incita a analisar a ação de mente aberta.


O MEIO

O mais fascinante deste projeto é o facto de termos acesso aos bastidores, ao processo de escrita e de construção de um guião. E é neste ponto que a magia acontece. Porque tem regras muito específicas.

⌛ Numa sala, aparentemente, vazia, têm acesso a um computador e a duas horas para escreverem o texto. Nem mais um segundo. Portanto, se alguma frase ficar a meio, estiver mal escrita e/ou não fizer sentido tem de ficar tal como está. E isso terá consequências na parte final.

⌛ Durante esta etapa, existem obstáculos surpresa, impostos pela produção, para desconcentrarem os autores e tornarem tudo desafiante.

Naturalmente, só assistimos aos melhores momentos dessas duas horas, mas são suficientemente elucidativos da dinâmica do grupo e da maneira como reagem perante cenários de pressão e de total imprevisibilidade. Em simultâneo, é fabuloso ver as ideias a surgir e a serem discutidas; e ver em que direção dispara a imaginação dos intervenientes e o impacto que a comunicação e o desespero assumem no mesmo compasso.

Com muito humor e um equilíbrio inteligente entre as portas que nos abrem e o que apenas visualizamos em cena, há uma linha que une cada etapa do processo. Mas as várias sequências narrativas que ficam em suspenso alimentam a surpresa do espectador. Porque transmitem-nos a sensação de sabermos o que acontecerá, para logo sermos desarmados.


O FIM

O guião é escrito para ser representado - e essa é a última fase. Apesar da caminhada parecer caótica, o objetivo é claro: todas as semanas, cinco amigos reúnem-se para jantar. A primeira frase é sempre a mesma em cada episódio, contudo, depois disso, o que nos espera é uma versão diferente dessa refeição, que não se assemelha à anterior.

Lembram-se quando, parágrafos antes, mencionei que a forma como as coisas são escritas têm consequências na concretização das cenas? Pois bem, é que os atores terão de dialogar tal e qual como aparece no texto. Ou seja, se, por lapso, a palavra estiver mal escrita, di-la-ão dessa forma, sem possibilidade de correção [SPOILER ALERT: no primeiro episódio, esqueceram-se de escrever a resposta de uma das personagens e, no decorrer da ação, isso ficou evidente]. É, também, por isto que o formato é tão estimulante e singular, porque cada detalhe tem peso.


PRINCÍPIO, MEIO E FIM

O programa é exibido aos domingos e eu não podia estar mais rendida, porque transborda inovação. Mesmo que exista estupidez, a gargalhada é garantida e impulsiona a curiosidade para compreendermos o antes, quase como se fizéssemos parte da equipa e do próprio conceito. Assistiria, de bom grado, às duas horas de criação [e penso que já seja possível na OPTO], pois é um privilégio acompanhar o método de trabalho de artistas por quem tenho a maior consideração. É pela cultura que evoluímos e Princípio, Meio e Fim é um pedaço de arte.

Comentários

  1. Ainda não tomei atenção a este programa, ainda não me atraiu. Tenho que lhe dar uma oportunidade.

    Beijinho grande, minha querida!

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  2. Eu tenho gostado muito do programa (e praticamente não vejo televisão) mas confesso que nenhum dos dois últimos superou o primeiro episódio, para mim. No segundo queria que tivessem seguido a ideia do Markl de fazer uma sessão espírita... As distrações da produção têm sido muito boas (adorei o senhor a comer marisco).

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    1. O primeiro também teve o peso de ser uma autêntica novidade, acho que será sempre o mais especial :)
      Sim, também gostava que tivessem ido por aí.
      Rio-me tanto com o que a produção inventa para os distrair ahahah

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  3. Acreditas que nunca vi? Já vi que tenho que ir espreitar! :)

    www.amarcadamarta.pt

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  4. O meu Rui aprova e eu tambem :) Está mesmo muito bom :) De ressalvar que so conseguimos ver aqui no UK por causa do site tvstory... ja que as televisoes portuguesas se esquecem de nos, pobre emigrantes :(

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  5. Tudo na vida tem um principio, meio e fim. Confesso que não vi o programa mas, acredito, que seja fascinante de assistir.
    .
    Uma semana feliz. Cumprimentos poéticos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  6. Sinto que este programa é bom, fiquei com vontade de conhecer, mas preciso ver se encontro uma alternativa para poder assistir, mas gostei do seu post.

    Arthur Claro (Instagram: @radiobagaralho)
    http://www.arthur-claro.blogspot.com

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  7. Ainda não vi nenhum.
    Estou muito curiosa, até porque, já li, opiniões muito contraditórias.
    Boa semana

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    1. Parece que não há hipótese de meio termo: ou se ama ou se odeia :p ahahah

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  8. Ainda não vi o 3º episódio mas vi os anteriores. A ideia é boa, apenas não tenho a certeza se a parte em que eles escrevem o guião é genuinamente improviso ou algo do género que o Bruno Nogueira criou em "O Último a Sair" onde o que parecia improvisação era ensaiado, pelo menos em parte.
    Vou continuar a ver.
    beijinhos
    Coisas de Feltro

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    1. Aquilo que eu sinto é que, se calhar, eles partem todos com algumas ideias e, depois, quando se juntam, vão disparando. Mas não sei. Independentemente disso, acho que o conceito está genial :)

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  9. Eu não vi. Não sou apreciadora do humor do BN. Só de me lembrar o mau gosto da publicidade em que ele pintava pessoas, não lembra a ninguém, achei até indigno!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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  10. Confesso nunca me deu para assistir, mas tenho de ver se o faço
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  11. Ainda não vi, mas a "coisas de feltro" levanta uma boa questão.

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    1. Pessoalmente, acredito que se juntem com ideias, mas, o restante, seja completo improviso. Seja como for, está incrível

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  12. Já tinha ouvido falar no programa, mas como não vejo muita televisão nem sabia do que se tratava! Fiquei curiosa, vou espreitar :)

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  13. Já ouvi falar, mas confesso que não me cativa muito.

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