DRAMAS LITERÁRIOS QUE NÃO
ME FAZEM CONFUSÃO

Fotografia da minha autoria



«Temos mesmo é de desfrutar da experiência»


Os leitores vão construindo a sua identidade livrólica, enquanto deambulam por páginas de enredos entusiasmantes. E eu fui traçando o meu percurso, descobrindo não só os registos que funcionam comigo, mas também aqueles rituais que permitem tornar a experiência mais íntima.

Sinto que sempre fui bastante descomplicada no que diz respeito à componente física dos livros, porque acredito que existem para serem vividos. E isso pode implicar dar asas a manias que, para alguns, são condenáveis. Embora tenha o maior respeito pelo objeto em si e por tudo aquilo que potencia, desprendo-me dessas «verdades absolutas», porque conservar este bem tão precioso vai muito além de comportamentos, aparentemente, desadequados para amantes da leitura.

O receio de danificar o livro é compreensível e natural, porém, sou apologista que devemos seguir a linha que nos deixa mais confortáveis e, sobretudo, que nos possibilita desfrutar do momento em pleno. E há poucas coisas na vida tão transformadoras como a simbiose perfeita entre nós e aquela história que amparamos nas mãos. Portanto, é válido querermos manter as obras imaculadas, da mesma maneira que é aceitável quando os leitores pretendem marcá-las. Porque, no fundo, é tudo uma questão de necessidade individual e de uma apropriação sentimental.

Umberco Eco afirmou que não devemos atribuir «crédito àqueles que dizem que os livros são intocáveis», visto que o «maior respeito é usá-los, não pô-los de lado». O que, em parte, faz todo o sentido e traduz a minha visão das circunstâncias. Por essa razão, apesar de optar por alternativas, há dramas - ou dilemas - literários que não me fazem confusão, porque cada pessoa encontra uma forma singular de tornar cada livro um pouco mais seu. E isso é um sinal de amor puro.


DRAMAS LITERÁRIOS QUE NÃO ME INCOMODAM


 Dobrar o canto da página 
[Sou team marcador de livro, pois acho que são mais práticos e dão outra personalidade ao exemplar. No entanto, aquele vinco pode dar algum charme à obra, porque mostra que foi manuseada]

 Dobrar a capa 
[Não sou a maior adepta desta prática, pela quebra da lombada. Mas se der mais jeito para ler, porque é que as pessoas se vão privar?]

 Comprar um livro pela capa 
[A imagem tem impacto e também conta uma história. Embora leia sempre a sinopse, faz-me zero confusão que alguém compre o exemplar por causa deste fator. Porque é mais um livro a circular e a ser lido]

 Escrever nos livros 
[Prefiro sempre ter o meu bullet journal por perto, até porque me concede mais espaço para desenvolver sensações e pensamentos - quer sobre a história, quer sobre uma citação em particular -, mas a verdade é que escrever nos livros pode ser uma passagem de testemunho incrível e um ato de carinho, pela ligação próxima]

 Sublinhar - a caneta ou a lápis 
[O que funciona melhor comigo é utilizar aquelas setas autocolantes, porque torna-se mais prático para encontrar excertos que me marcaram. Contudo, acho interessante voltar à obra e fazer essa descoberta]

 Comer/beber enquanto se lê 
[O cuidado de não sujar o livro é prioritário, mas há histórias que nos prendem de tal forma, que é inevitável combinar estas duas tarefas. E que bem que sabe petiscar na companhia de um livro]

 Deixar um livro a meio 
[Esta talvez seja a que tenho mais dificuldade em implementar, porque fico sempre a sentir que, ao fazê-lo, perderei o despertar da história. Mas estou a melhorar, pois cada leitura tem o seu momento]

 Emprestar livros 
[Seja quais forem, desde que sejam devolvidos, é ótimo existir esta partilha de livros e, depois, de experiências]

 Quando alguém afirma que não gosta de ler 
[Há pessoas que só não descobriram o seu livro certo, como era o meu caso, e é por isso que fazem esta afirmação. Contudo, há mesmo quem não retire qualquer prazer na leitura e temos de aprender a aceitá-lo. Porque existem representações culturais que não são para nós e cada um deve ter direito a explorar o que o apaixona. Sem culpas]

 Saber o final de um livro 
[Posso ouvir, mas não estou a visualizar, portanto, não tem impacto na minha leitura. Além disso, existe a distância temporal entre o saber e o momento em que farei a leitura, não comprometendo a experiência]


A jornada de um leitor pode ser feita de vários dilemas. No entanto, é a magia que envolve o doce embalo de uma leitura que deve prevalecer.

26 Comments

  1. Dos dramas que apontaste, não me importo de comer ou beber enquanto leio, adoro sublinhar frases, mas sempre a lápis. Não gosto de ver folhas dobradas, gosto da sensação de ir à estante buscar um livro e ele estar como se saísse da livraria. Costumo ir espreitar o final, mesmo que não perceba nada. Acho que nunca comprei um livro pela capa, leio quase sempre a sinopse.

    Beijinho grande, minha querida!:*

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    1. Entendo essa sensação. Há alturas em que também a privilegio, mas confesso que as dobras não me fazem confusão :)
      Por acaso, acho que nunca tive esse hábito

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  2. Estou contigo nas paginas dobradas, se der mais jeito porque nao? Por aqui é casa de ferreiros espeto de pao, quando quero um marcador, nunca está á mao :/ e tambem gosto de sublinhar partes importantes, pois nao me ajeito muito com os post-its fininhos :)

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    1. Eu sinto que não me ajeitaria, caso não utilizasse as setas autocolantes, porque perdia mais tempo a procurar as frases :)
      Acontecia-me o mesmo em relação aos marcadores, mas agora tenho-os numa caneca, na estante, para ser mais fácil ahah

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  3. Confesso que não gosto nada de ver livros sublinhados ou de escrever nos mesmos mas não me importo de os emprestar (desde que tenha a certeza que regressam :p)
    beijinhos

    www.amarcadamarta.pt

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    1. Acredito que a partilha nesse empréstimo é gratificante [quando devolvem, claro ahahah]

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  4. comer ou ler enquanto se lê também não me faz confusão, já sublinhar os livros a caneta faz-me muita, mas a lapis aceito bem :)

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    1. A caneta torna-se ainda mais visual e permanente, compreendo :)

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  5. Para mim os livros são intocáveis.
    Há mesmo amigos que não acreditam que eu tenha lido esses livros, porque continuam novos em folha.
    Outro dia, uma familiar dobrou o canto de uma página e eu quase a matei. Ela só me disse „mas o livro é meu“. Quando era adolescente, emprestei um livro à prima da minha melhor amiga. Recebi-o com uma nódoa de gordura. Deitei-o fora e nunca mais lhe emprestei um livro. Há quem diga, que eu gosto mais dos meus livros do que os meus familiares e amigos. Feitios!!!

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    1. Os meus percebem-se bem quando são lidos, porque ficam cheios de setas autocolantes :p
      Não posso deixar de concordar com a tua familiar, porque, de facto, se lhe dá mais jeito dobrar, é uma decisão que só a ela pode incomodar.
      Quando leio livros emprestados, tenho o maior cuidado. Porque não são meus e não sei até que ponto a pessoa está confortável com certos rituais, digamos assim. Portanto, estimo-o tanto ou mais do que os meus

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  6. Quando leio um livro nunca dobro uma página. Uso um separador, nem que seja de uma folha A4. Para mim, um livro é como um joia que guardo na alma e no coração.
    .
    Boa semana. Cumprimentos.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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    1. Também prefiro sempre usar marcador [seja ele qual for] :)

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  7. Também não me fazem confusão, gosto de marcar páginas ou de sublinhar, gosto de voltar mais tarde e de encontrar as partes que mais gostei!!
    xoxo

    marisasclosetblog.com

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    1. Acredito que revisitar os livros dessa forma acaba por ter outro toque :)

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  8. Das coisas que agora não gosto é ver um livro com riscos ou algo riscado, acho que depois se quiser dar para alguem ler, não vai ficar bastante bonito

    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  9. Confesso que não consigo riscar um livro (a não ser que seja de estudo), ou até mesmo dobrar a ponta!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

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  10. Trabalho com livros, talvez seja defeito de profissão, mas gosto de ver e ter os livros bem tratados.
    Boa semana

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    1. Também gosto de cuidar bem dos meus, mas acho que há certos comportamentos que não colocam isso em causa

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  11. Nunca tive o hábito de sublinhar frases, já dobrar as páginas faço-o muitas vezes!

    Isabel Sá  
    Brilhos da Moda

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  12. Por acaso não gosto de dobrar os cantos dos livros nem de escrever ou sublinhar, mesmo sendo a lápis. Uso post-its para marcar passagens de que gosto. Como e bebo sempre que leio um livro físico, sabe sempre bem um snack e claro que já me aconteceu sujar, mas tento ter o máximo de cuidado!! Em relação a deixar livros a meios, custa-me porque sinto que até ao final pode acontecer algo que me faça mudar de ideias em relação ao livro, então é-me muito difícil largar.

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    1. Também opto sempre pelos post-its, acho que é mais fácil para, depois, encontrar certas passagens :)
      «custa-me porque sinto que até ao final pode acontecer algo que me faça mudar de ideias em relação ao livro», sou tal e qual!

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