Entre Margens

Fotografia da minha autoria



«A vida é feita de momentos colecionáveis»


Março: mês de memórias, de saudade, de poesia e de celebração. Foram dias de equilíbrio, de alinhar ideias e de manifestar pequenas mudanças. E, aos poucos, fui-me despedindo dos 29, destes «vintes» que me trouxeram tanto. Mas fi-lo com muita calma, porque se houve algo que este mês mostrou foi a necessidade de desacelerar e de aproveitar a presença das pessoas. Porque o resto vem embalado no seu ritmo certo.


⚓ MOMENTOS
---------------------------

Dia da Mulher
O mundo vê-me enquanto mulher e eu ergo essa bandeira de coração a transbordar de orgulho. Porque, por mais que nos procurem calar, há um belo elo de sororidade que nos manterá de cabeça erguida, a lutar pelo lugar que merecemos. E porque, ao olhar à minha volta, tenho exemplos que corroboram a fibra que nos move. Celebrar esta data continua a ser crucial, portanto, quis homenagear mulheres que me inspiram, ciente que partilhei um número bastante reduzido, porque há muitos outros nomes que merecem destaque [ler aqui].


Casamento da Minha Prima
Uma cerimónia simples, intimista, focada no mais importante, e que proporcionou um dia bonito, a transbordar de amor. Por questões paralelas, também foi um impulsionador para que se deixassem algumas situações do passado no lugar onde têm de ficar. Que seja, agora, um novo capítulo ainda mais especial na história deles.

       

Dia Mundial da Poesia
É uma data que me diz muito, porque o meu peito pensa em verso. Porém, este ano, teve um toque diferente, pois tenho o meu manuscrito quase concluído. Não sei se há astros que se alinham, mas parece que sim.


Outros apontamentos bonitos do mês: passear pelo porto, tirar uma manhã para dançar, criar o desafio para o dia do livro português, ter conversas que me acrescentam e ver que será «Saudade, Saudade» a representar-nos na Eurovisão. Embora o meu coração estivesse a torcer pelos Os Quatro e Meia, acredito que a Maro levará a nossa essência longe, até porque a música partilha um dialeto que todos sentimos na pele.



📚 LEITURAS
---------------------------

Mami Geographic, Mami Pereira
Alma Lusitana ◾ Coimbra

O Momento em Que nos Perdemos, Maria José Núncio
Clube do Livra-te

Para Interromper o Amor, Mónica Marques
Clube do Livra-te


Outras Leituras do Mês
Escavadoras [Marta Pais Oliveira], A Breve Vida das Flores [Valérie Perrin], 
Cordão [Ana Freitas Reis], Myra [Maria Velho da Costa] e Americanah [Chimamanda Ngozi Adichie]



📺 FILMES & SÉRIES
---------------------------

Operação Maré Negra
A série luso-espanhola, com produção da RTP para a Amazon Prime Video, estreou, no passado dia 14 de março, no canal público. Baseada em factos reais e dividida em quatro episódios, foca-se na história do primeiro narco-submarino resgatado em águas europeias. Para além de ficarmos a conhecer as tormentas provenientes desta travessia, também impulsiona a uma reflexão sobre todos os limites que transpomos.

Tabu
Bruno Nogueira, Francisco Pombares e Guilherme Fonseca são os autores de um programa crucial no panorama televisivo português, porque veio para humanizar, abanar consciências e mostrar que não fazer humor com determinados assuntos também é uma forma de discriminação. Partir do princípio que alguém, por ter uma doença, por exemplo, não sabe rir da mesma é errado. E Tabu está a desconstruir esse preconceito.

Taskmaster
O conceito deste programa era desconhecido para mim, mas os meus sábados à noite conquistaram um novo brilho. Em traços gerais, o formato apresentado por Vasco Palmeirim e Nuno Markl, colocará à prova figuras públicas. Pelo que já consegui perceber, há um painel residente e, todas as semanas, contaremos com a presença de um convidado. Dois episódios vistos, já tenho uma opinião: que programa incrível!

Neste segmento, tenho, ainda, de destacar o regresso de The Good Doctor.



✏ PUBLICAÇÕES
---------------------------

Passaporte Livrólico ◾ Livraria de Santiago
A Livraria de Santiago, localizada no Largo de São Tiago do Castelo, ocupa o «templo iniciado no século XII» e que é um dos edifícios mais emblemáticos. Na Cerca Velha, a «igreja que se encontrava abandonada e em mau estado de conservação» renasceu com uma nova identidade, mas preservando «toda a arquitetura».


Manuscrito em Construção ◾ Os Medos e Contrapontos
O meu manuscrito em construção evolui, aproxima-se do final e de tudo o que ambicionei [mesmo quando o caminho permanecia turvo]. Mas quais serão, então, os medos que me impedem de dar o passo seguinte?


Quatro Regras que Sigo Antes de Comprar Livros Novos
A vontade de comprar livros nunca esmorece, porque a possibilidade de conhecer novas histórias é demasiado entusiasmante. Portanto, respeitando a minha essência de pessoa poupada, mas que abre uma exceção para estes pedaços de felicidade, perco-me de encantos pelos vários catálogos das livrarias - físicas ou online.


Dia do Livro Português 2022
À semelhança do ano anterior, não quis que o Dia do Livro Português caísse no esquecimento, já que procura «promover a importância do livro, do saber e da língua portuguesa». Atendendo a que, tal como mencionei nesta publicação, foi nesta data, em 1487, que se imprimiu o primeiro manuscrito no nosso país, fiz por estabelecer uma ponte entre o nosso belo idioma e as traduções que nos possibilitam alargar horizontes.




🍴 À MESA
---------------------------

BH Foz
No casamento da minha prima, fomos almoçar ao BH Foz. Não conhecia o restaurante, mas fiquei bastante encantada com o espaço. No menu, optei por experimentar o bacalhau com broa e gostei muito da confeção. Para finalizar, fui agraciada com uma mousse de chocolate com raspas de laranja. Que delícia!

       

Voltei ao Bibó Porto, para o nosso encontro mensal. Mas, desta vez, não fui para a Francesinha: escolhi o Bife Pimentas. E eu nem aprecio assim tanto bife, o que demonstra bem o quanto este prato é maravilhoso.

       



📌 ENTRE LINHAS
---------------------------

Poemas Riscados
A Filipa Santos Lopes escreve com o coração na ponta dos dedos. E há mesmo poesia nas suas palavras. Por isso, não poderia perder a oportunidade de subscrever os seus poemas riscados, nos quais partilhará «inquietações, sentimentos e verdades», até porque, segundo a própria, «quando não escrev[e], transborda». E eu acredito que nós só temos a ganhar com o facto de ter aberto esta espécie de diário virtual, para a lermos.

A miúda do que seja o amor já não espera que tudo seja amor
Crescer e termos uma consciência maior de quem somos permite-nos explorar outras perceções da realidade. E isso é maravilhoso, porque nos alarga horizontes e compreendemos que há várias maneiras de vivermos certos contextos. Neste texto em particular, a Sofia Costa Lima desconstrói aquilo que, para si, era o amor e como é que o observa agora. Fiquei encantada com esta publicação, até porque percebi que também cresci.



📌 JUKEBOX
---------------------------

A Surpresa: Corpo [Rita Onofre, Choro & Ned Flanger]
Melhor Duo: Eu Não [João Só & Bárbara Tinoco]
A Diferentona: O Primeiro Dia [Amaura, Papillon, Valas & Charlie Beats]
As Favoritas: Coração à Discrição [D'Alva] & Madrugada [Filipe Karlsson]
Artista Revelação: Madalena Nascimento


Álbuns: Travessia [Caio], Colados EP [Guanabara], Rosário [Beatriz Rosário], 
Chá Lá Lá [Miguel Araújo], Ilusão [Joana Almeirante], Carrossel [Meninos da Sacristia], Parte [Redoma], Primeira Parte de Um Assalto [Valter Lobo] e I Love You, Cristal [Golden Slumbers]



🎥 VÍDEOS & PODCASTS
---------------------------









✨ GRATIDÃO
---------------------------

«A luz do dia ainda quero ver»

Grata pelos dias bonitos de março. Por ter lido Myra. Por ter um álbum novo de Valter Lobo. E por todos os traços de primavera que se fizeram sentir ao longo deste mês, ainda que, por vezes, existissem dias cinzentos.


        

        

Abril, podes chegar. Sê gentil.


Como foi o vosso mês?

Fotografia da minha autoria



«Bem vindo a Mont-o-Ver!»

Avisos de Conteúdo: Alcoolismo, Doenças Terminais, 
Violência Doméstica, Morte, Assassinato


O ato de abrirmos um livro e, perante a sua história, sermos capazes de reconhecer as paisagens que o envolvem e as pessoas que o povoam, ainda que faça tudo parte de um plano ficcional, é extraordinário, porque nos aproxima, porque nos transmite uma certa sensação de segurança - mesmo que, a seguir, nos tire o tapete. Mas isso só é possível quando nos cruzamos com um bom contador de histórias, como Maria Isaac.


UM LUGAREJO CHAMADO MONT-O-VER

O Que Dizer das Flores permite-nos conhecer o quotidiano da particular vila de Mont-o-Ver, um lugarejo que nos faz recordar a essência do nosso Portugal rural, onde todos aparentam conhecer-se como a palma da sua mão e onde há sempre muitas opiniões sobre as peripécias e os acontecimentos que marcam os seus habitantes. A partir da intimidade que os vai interligando, embora exista tanto a separá-los, perceber-se que há uma energia distinta, como se estivessem comprometidos com um segredo maior do que qualquer um deles.

«Há sempre quem mantenha a esperança em coisas boas 
em tempos maus, e tente fazer o melhor com o que ainda lhe sobra»

A forma como a autora nos envolve no enredo é surpreendente, até porque fâ-lo através de um leque de personagens carismáticas. Há tanta verdade nos seus dilemas e interações, que eu senti-me parte do ambiente: como se me pertencessem os desaforos e os dramas. Compreendendo que cada interveniente ocupa um lugar muito específico na narrativa, abre-se um mundo de aparências que é necessário preservar.

«(...) e em coração carregado de otimismo, não resta espaço para medo»

Com um ritmo aliciante - e passagens com alguma poesia -, é uma história que nos mostra o peso do passado, dos juízos de valor, das coscuvilhices e dos silêncios que, por dentro, são tão audíveis e angustiantes.


SEGREDOS, FAMÍLIA E CRÍTICA SOCIAL

Este livro coloca em evidência o melhor e o pior do ser humano, com particular foco nas dinâmicas familiares desestruturadas, no impacto do alcoolismo, na violência doméstica e nas desigualdades sociais, ao mesmo tempo que recupera um acontecimento nefasto, que provocou tantos mal-entendidos. Na tentativa de encontrar as respostas que ficaram em suspenso, talvez a verdade venha despertar uma ferida ainda mais profunda.

«Vidas nunca devem comparadas, mas os contrastes 
fazem-nos pensar nas escolhas feitas e oportunidades perdidas»

O Que Dizer das Flores tem uma crítica social subtil, mas poderosa. Com uma escrita enigmática, que nos transporta para um contexto cheio de camadas, há uma travessia moral e sentimental bastante interessante. E, ainda que me tenha custado a despedida, sei que dificilmente me esquecerei das pessoas de Mont-o-Ver.

«As pessoas só querem ser desejadas, necessárias para a construção de uma coisa maior»


|| Disponibilidade ||

Wook: Livro | eBook
Bertrand: Livro | eBook

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥

Fotografia da minha autoria



«Auto-estima e bem-estar»


A escrita é terapêutica. É no seu regaço que expio medos, apontamentos de ansiedade e impulsos. E é, também, no seu enlace que revisito memórias e projeto sonhos. Quando harmonizo com esta forma de expressão, desligo-me do mundo e reencontro-me com os meus pensamentos em alvoroço. E sabendo que o tempo entra num estado de pausa, desacelerando a urgência de sentir tudo a correr, as emoções serenam.

Portanto, qualquer pretexto que estreite a minha convivência com as palavras merece todo o meu cuidado - e um abraço bem apertado. Por essa razão, e porque compreendi que necessitava de um estímulo adicional, resolvi arriscar e adquirir o Kit Blume Journaling, idealizado e desenvolvido pela Catarina Alves de Sousa.



O CONCEITO

O Blume Journaling é um desafio de escrita, composto por um baralho de 31 cartas. O objetivo passa por, através de tópicos distintos [e relacionados com várias áreas], potenciarmos o aumento da nossa auto-estima e bem-estar, até porque as tarefas escondidas em cada carta têm o propósito de nos mostrar que temos valor.

Há alturas em que nos sentimos assoberbados pelos contratempos ou por fases mais delicadas, o que dificulta o processo. Assim, encontrarmos mecanismos que nos coloquem na rota do amor próprio é precioso.


COMO UTILIZAR O KIT

Tal como a Catarina mencionou, não há uma ordem específica. Por isso, só temos de:

1. Baralhar as Cartas - e «confiar que o Universo as vai colocar na ordem» que fizer mais sentido para nós;

2. Tirar uma Carta por Dia - durante 31 dias, lendo o desafio no verso;

3. Escrever - juntamente com o baralho veio um caderno para respondermos a cada desafio. Embora não existam regras fixas nesse sentido, é fundamental sermos o mais honestos possível na nossa partilha, porque só assim poderemos validade as nossas emoções e, sobretudo, vivenciar esta experiência em pleno;

       

4. Relê e Reflete - para «interiorizarmos as mensagens positivas» que nos escrevemos, ainda para mais porque tendemos a praticar pouco o auto-elogio e é importante termos essa perspetiva e essa consciência;

5. Repete Sempre que Precisares - o processo de valorização pessoal é complexo e não se esgota no tempo. Portanto, se houver essa necessidade - ou vontade, visto que ultrapassamos sempre fases distintas, que nos fazem olhar para os mesmos tópicos de outra forma -, existe a possibilidade de repetirmos o desafio.


A MINHA EXPERIÊNCIA

Quando recebi o meu kit, a meio do mês de fevereiro, queria guardá-lo para ser iniciado no primeiro dia de março. Mas fiquei tão encantada com as cartas e tão entusiasmada com o propósito, que não fui capaz de adiar. No último dia do desafio, pousei a caneta consciente que tinha feito uma viagem emocional muito bonita.

Houve tarefas complicadas, porque me obrigaram a realizar uma travessia intimista, reconhecendo receios, recordando feridas e explorando esse lado do auto-elogio que não é tão frequente. No entanto, aprendi muitas coisas sobre mim, no decorrer destes 31 dias, pois compreendi que cheguei a um lugar bom, que me permite escrever sobre certos assuntos sem que me pesem como antes. E essa sensação de leveza é indescritível.


Claro que há retrocessos, porque existem momentos em que a nossa auto-estima vacila. Mas este baralho - e o exercício que potencia - pode não curar, porém, mostra-nos que temos armas para nos reerguermos.

Nesta jornada, optei por reservar uma parte da minha manhã para escrever, porque senti que era uma maneira de marcar a energia do meu dia. Além disso, podia desfrutar do silêncio da casa para, assim, perder-me nos meus pensamentos. Agora vou permitir que todas as confidências amadureçam no caderno fechado. Mas hei-de regressar às suas mensagens. E hei-de repetir o desafio, porque trouxe-me uma paz diferente. Obrigada ♥ 

Fotografia da minha autoria



«Uma mulher, outra mulher - e um homem»

Avisos de Conteúdo: Sexo, Linguagem Explícita


O que certos livros procuram contar pode retirar-nos - por completo - da nossa zona de conforto. Embora tente estar a par do tema central do enredo, há momentos em que aprecio partir para a leitura sem muitas informações. E foi o que fiz com a obra de Mónica Marques, que abracei por sugestão do Clube do Livra-te.


CONVERSAR SEM PUDOR

Para Interromper o Amor tem uma premissa cativante, focada numa realidade particular, até porque acredito na importância de narrativas que explorem os vários tipos de amor, de atração e de envolvência com a sexualidade, sobretudo, quando o fazem sem qualquer pudor, porque são assuntos transversais que deveriam ser encarados - e retratados - com naturalidade. No entanto, para mim, a sua concretização não resultou.

«Há pessoas que entram nas nossas vidas e não saem nunca mais»

Escrito a três vozes, com uma estrutura pouco convencional e ausência de uma história tradicional, permite-nos conhecer um triângulo amoroso, cuja dinâmica se estende por inúmeras provocações. Além disso, aborda a perceção do medo, da adrenalina, da infidelidade e dos limites, com apontamentos de mentira, desejo e culpa. Por oposição, senti os protagonistas com um toque de sobranceria que se revelou desnecessário.

«As pessoas que escrevem vivem nos livros que estão a escrever. Pessoas que escrevem 
vivem nos livros que ainda vão escrever e fazem dos livros as vidas que não podem ter»

A narrativa tem um ritmo célere, talvez pelos capítulos curtos, mas revelou-se desconexa, por vezes confusa, algo repetitiva e perdida em pensamentos que acrescentam pouco ao seu propósito. A escrita da autora é interessante e apreciei a franqueza sem floreados nas suas palavras, no entanto, merecia outra abordagem.


UM PEQUENO CAOS DE EMOÇÕES

Para Interromper o Amor faz-nos pensar sobre a vida, sobre amor, sobre sexo. E há passagens que transmitem a sensação de estarmos a conversar com alguém próximo. Mas também há diálogos que parecem demasiado forçados. Atendendo à temática central, tinha potencial para ser mais e despertar uma união devastadora.

«Não sei esperar por ninguém. Devia aprender a esperar. 
Saber esperar é das coisas mais importantes da vida»


Disponibilidade: Wook | Bertrand

Nota: O blogue é afiliado da Wook e da Bertrand. Ao adquirirem o[s] artigo[s] através dos links disponibilizados estão a contribuir para o seu crescimento literário - e não só. Muito obrigada pelo apoio ♥


«Já vejo o céu em fogo
Há quem diga que estou louco
Nunca me senti tão só

E a dor que mais me mata
É já não te fazer falta
É fazer falta a ninguém

[...]

Tenho medo destes muros
Pensamentos crus e duros
Sempre prontos a julgar

[...]

De onde vem esta saudade
Espalhar-se na cidade
Em forma de souvenir

Que venha quem vier por bem
Mas não se trate com desdém
Quem tratou deste lugar

[...]

E a vida fica difícil
O tempo passa tipo míssil
Derramado em suor

E o que achamos importante
Perdemos mais adiante
No fim só restamos nós»

Fotografia da minha autoria



«Data criada pelo Sociedade Portuguesa de Autores»


O meu mundo não se edifica em função dos livros [mas quase], porém, qualquer oportunidade - ou desculpa - é maravilhosa para conversar sobre eles. Afinal, têm tantas vidas dentro, que chegam a emocionar. E se há algo que aprecio é comover-me com uma excelente história, daquelas que se colam à nossa pele até ao fim.

À semelhança do ano anterior, não quis que o Dia do Livro Português caísse no esquecimento, já que procura «promover a importância do livro, do saber e da língua portuguesa». Atendendo a que, tal como mencionei nesta publicação, foi nesta data, em 1487, que se imprimiu o primeiro manuscrito no nosso país, fiz por estabelecer uma ponte entre o nosso belo idioma e as traduções que nos possibilitam alargar horizontes.

Assim, pensei num desafio bastante simbólico, que me permite homenagear o melhor destes dois universos que me preenchem. E abraçar aquilo que há de mais bonito na leitura de um livro: a sua identidade.


DIA DO LIVRO PORTUGUÊS



















Celebramos juntos? Sintam-se à vontade para reproduzirem o desafio ♥

Fotografia da minha autoria



«Não tenha medo do desconhecido»


O que está para lá do que alcançamos é sempre desafiante, porque não sabemos o que esperar. Além disso, não controlamos o seu impacto e, muito menos, a sua importância na nossa jornada. Por isso, quando se trata de abraçar o desconhecido, somos bastante cautelosos, num nível de prudência que, por vezes, nos retrai. Mas ultrapassar essa barreira pode implicar descobrir o paraíso - ou algo muito semelhante a esse conceito.

Reconheço que não sou a pessoa mais aventureira. No entanto, dentro desta esfera segura que é a literatura, gosto de arriscar em novas vozes, de procurar por nomes que desconheço e que podem escalar para o meu pódio de favoritos. Porque, verdade seja dita, o pior que pode acontecer é perceber que determinada obra ou autor não se encontra alinhada/o com as minhas preferências. Mas isso pode verificar-se em qualquer circunstância, porque não é exclusivo daqueles que descubro pela primeira vez. E, seja como for, valerá sempre a pena, pois não só me cruzo com registos distintos, como também fomento o meu perfil de leitora.

Assim, vou estando atenta a autores que se estreiam neste mercado literário, procurando, dentro da minha bolha, dar-lhes um pouco mais de visibilidade. Porque o talento não é menor por ainda não terem um nome conceituado e acho importante recordar que os nossos escritores de eleição também já estiveram desse lado da margem: mais ocultos, à espera do seu salto de fé para conquistar o público e o seu lugar de destaque.

Com paragem em Leiria, o novo tema do Alma Lusitana convida a ler livros de autores pouco conhecidos.


 O QUE VOU LER 


Par de Olhos, Inês Morão Dias: «A forma de escrever poemas patente neste livro (uma edição da resistente livraria Poetria, do Porto) nem parece de uma estreante, tal a segurança verbal, estrófica, sintáctica; em contrapartida, não saberíamos responder à pergunta 'sobre que é este livro?' E ainda que o 'sobre', em poesia, não seja um elemento determinante, é insólita a coexistência de linguagem precisa e tema vago. A não ser que o 'tema' seja a escolha do tema poético, ou antes, a escolha de uma atitude a ter em relação a temas poéticos. Tendentes à abstracção, os poemas deste livro nunca são de facto abstractos; capazes de nomear o quotidiano (o sofá, o PC, a mãe), parecem querer rasurar tudo o que seja da ordem da banalidade ou do pitoresco. (…) Por dúvida, ou por delicadeza, esta poesia hesita, faz-se mais cerebral do que gostava. E reconhece então que "o cubismo é humano”, quer dizer, que o humano está em processo, em montagem, em andamento».


 OUTRAS SUGESTÕES 

    

Cordão, Ana Freitas Reis: «Estas páginas recolhem inquietações e pulsões, ao ritmo de múltiplas respirações, na absoluta disponibilidade para o silêncio. Portanto, livro-ponto-de-escuta, livro-caminho, no qual os encontros, mais do que forma onde encaixar, suscitam deformação, o desdobramento dos percursos».

Guarda-me o Que Ficar, Inês Fernandes: «Este livro descreve a vida em prosas curtas, simples e cruas. Aqui não uso filtros. Não escondo premissas. Aqui falo de sentimentos. Dos bons e dos maus. Aqui sou fria. Sou totalmente irracional. Aqui não existem regras. Existo eu e os outros. Eu não sei se escrever me cura ou se me destrói um pouco mais. Mas não consigo levar a vida de outra forma».

Diálogos Que Nunca Tive, Carolayne Ramos: «Uma manifestação de todos os romances que concebi na minha imaginação e dos quais fui protagonista. Ao teu lado, de outros, sempre esquecendo-me de que eu poderia ter sido a minha companheira».


    

Rasura, Maria Brás Ferreira: «Aceitava de uns os cigarros dos seus maços./Com outros era-me higienicamente exigido comprar o meu/próprio maço./Entre moedas e restos de folha de tabaco/sobram-me as mãos vazias inolentes;/compõem-se os poemas - mulheres bonitas que os homens gostam de namorar/fumando».

Amor à Primeira Assinatura, Leonor Ferrão: «Teresa alcançou o seu maior sonho: publicar um livro, e não podia estar a ter mais sucesso! No entanto, a sua carreira e a sua vida entram numa montanha-russa de acontecimentos e emoções quando Simão, o rapaz que lhe partiu o coração reaparece na sua vida, com uma única intenção: difamar o seu nome e o seu livro».

Escavadoras, Marta Pais Oliveira: «Maria e Petrúcio ergueram o lar em frente a uma árvore de raízes fundas e tiveram três filhas: Violeta, Helga e Mariana, que nunca saiu de casa, nem para o parto de Lucília. Alguém começa a ver em duplicado e diz ter encontrado as almas do mundo, alguém se levanta de madrugada para reparar melhor, insânia após insónia. Há quem faça listas intermináveis contra a finitude. Petrúcio emudeceu e assiste aos avanços ameaçadores das escavadoras a esventrar a terra, rondando o terreno. Quem não aceita que lhe corrijam o problema ocular procura a lua em quarto minguante. Essa é a noite do grande incêndio».


    

Os Números Que Venceram os Nomes, Samuel Pimenta: «O que é um nome? — A pergunta ressoou por toda a divisão, embateu nas paredes e voltou ao emissor sem obter resposta. Um Nove Um Seis estava sentado na única cama do quarto número onze do hospício. Via as paredes do quarto a girar como se tivessem sido empurradas por uma criança que brinca com um globo terrestre pela primeira vez. Além disso, sentia-se como se estivesse de olhos abertos debaixo de água, estava tudo turvo. Era efeito dos fortes medicamentos. Sentado numa cadeira ao lado da cama, um médico observava-o de testa plissada, enquanto segurava uma folha no colo, onde fazia algumas anotações».

Autismo, Valério Romão: «Trata-se da primeira abordagem literária de um tema que toca cada vez mais gente em Portugal. Este primeiro romance do jovem autor dá-nos a experimentar, de um modo nunca óbvio, o impacto devastador da doença na família, mas também faz um retrato impiedoso da comunidade médica além de abordar, sempre de um modo fortemente literário, as inúmeras consequências do autismo. O romance, com um final inesperado, afirma-se como reflexão dinâmica e até aventurosa sobre a solidão, a impossibilidade de comunicar e o desespero».

Valentina, Carina Romano: «A história possibilitará ao leitor calçar o sapato de uma criança da cidade do Porto, simples, humilde e resiliente, que amadurece, confrontada com múltiplos desafios ao longo da sua infância e adolescência. A Valentina, mergulhada em cenários de negligência, permite-se caminhar em direção ao amor que, no final, é a sua salvação. O livro impulsiona a reflexão de diferentes questões e faz-nos acreditar que, se há amor no mundo, há esperança. A história é baseada em factos reais».



Ao Teu Lado, Ribeiro: «Ana e Miguel conhecem-se, por acaso, enquanto crianças. Durante umas férias de verão, percebem que apesar das diferenças que os separam, têm muita coisa em comum e descobrem juntos a essência de uma amizade imaculada. Mas à medida que crescem, os dois percebem que manter a sua proximidade é uma batalha árdua. E quando menos esperam, Ana e Miguel descobrem que o tempo acabou por engrandecer aquilo que sentem. Os sentimentos mudam, tornam-se mais fortes e explodem num amor desmedido e assolapado».

Tudo o Que Sempre Quis, Ana Rita Correia: «Salvador. Lucas. Helena. Sara e Martim. Cinco jovens que se perderam algures na estrada da vida. Todos eles têm assuntos pendentes, cicatrizes e fantasmas que insistem em persegui-los onde quer que vão. Até mesmo quando, um por um, por um motivo ou por outro, se refugiam numa pequena Vila à beira-mar sem saberem até que ponto os seus destinos estão traçados. Uma história de amor, de amizade, de dor, perdão e segundas oportunidades. Mas acima de tudo, lealdade. Ninguém é forte o suficiente ao ponto que não precise de outro alguém. O que faria com uma noite que mudou tudo? Até onde iria em nome do amor?».

Krismas: A Aldeia Luminosa do Natal, Sandra Monteiro: «Krismas era uma aldeia especial, cheia de luz e cor. Os seus habitantes eram muito peculiares, tinham características físicas únicas. Destacavam-se as mãos grandes, como a bondade que abundava em toda a aldeia. Todos os dias eram especiais em Krismas, mas a época de Natal fazia toda a aldeia andar numa grande azáfama. Preparavam-se a todo o gás as decorações para montar a grande árvore de Natal. Na noite de Natal, Krismas ficava adormecida numa magia única para receber a visita muito especial de Nicolae. Por entre tanta agitação, Marielle andava triste, pois tinha perdido o seu amiguinho Flop. Mas um sonho vem mudar o rumo da história».


  

Não Penses Mais, Ana S. Lobo: «Um romance sobre a vida. Sobre nós. Sobre as relações e emoções. Sobre o amor, amizade, família e esperança. Mas também de incerteza, medo, tristeza e traição».

Os Medos da Cidade, Vários Autores: «De Coimbra a Tomar, de Lisboa ao Porto, uma coisa é certa: todas as cidades têm os seus mistérios. Os Medos da Cidade reúne dez contos de vozes únicas portuguesas que abriram a caixa de Pandora citadina e que nos mostram os seres que vagueiam pelas nossas ruas, as sombras que habitam as nossas calçadas. Afinal, que segredos guardam as cidades portuguesas?».


 CONSIDERAÇÕES 

📖 Podem ler qualquer género e em qualquer formato;
📖 O tema pode ser interpretado de várias maneiras [um autor pouco conhecido para vocês; um autor que já conhecem e sentem que merece mais destaque; um autor que tenha acabado de lançar o seu primeiro livro];
📖 A lista anterior é um mero guia de apoio, caso estejam sem ideias para as vossas leituras, mas podem ler outra obra do vosso agrado, desde que, naturalmente, respeite o tema central e seja de um autor português;
📖 Não há prazos, obrigações, nem meses fixos. E podem ler mais do que um livro;
📖 Utilizem a hashtag #almalusitana_asgavetas para que consiga acompanhar o que estão a ler.


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads. Se quiserem aderir, encontro-vos aqui.

Mensagens mais recentes Mensagens antigas Página inicial

andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


o-email
asgavetasdaminhacasaencantada
@hotmail.com

portugalid[arte]

instagram | pinterest | goodreads | e-book | twitter

margens

  • ►  2025 (136)
    • ►  julho (12)
    • ►  junho (19)
    • ►  maio (21)
    • ►  abril (22)
    • ►  março (21)
    • ►  fevereiro (19)
    • ►  janeiro (22)
  • ►  2024 (242)
    • ►  dezembro (24)
    • ►  novembro (17)
    • ►  outubro (17)
    • ►  setembro (18)
    • ►  agosto (12)
    • ►  julho (23)
    • ►  junho (20)
    • ►  maio (23)
    • ►  abril (22)
    • ►  março (21)
    • ►  fevereiro (21)
    • ►  janeiro (24)
  • ►  2023 (261)
    • ►  dezembro (23)
    • ►  novembro (22)
    • ►  outubro (22)
    • ►  setembro (21)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (21)
    • ►  junho (22)
    • ►  maio (25)
    • ►  abril (23)
    • ►  março (24)
    • ►  fevereiro (20)
    • ►  janeiro (22)
  • ▼  2022 (311)
    • ►  dezembro (23)
    • ►  novembro (22)
    • ►  outubro (21)
    • ►  setembro (22)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (25)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ▼  março (31)
      • MOLESKINE 2022 ◾ O MELHOR DE MARÇO
      • ENTRELINHAS ◾ O QUE DIZER DAS FLORES
      • KIT BLUME JOURNALING
      • CLUBE DO LIVRA-TE ◾ PARA INTERROMPER O AMOR
      • JUKEBOX ◾ DILÚVIO
      • DIA DO LIVRO PORTUGUÊS 2022
      • ALMA LUSITANA: LIVROS DE AUTORES POUCO CONHECIDOS
      • GIRA-DISCOS ◾ ÁLBUNS QUE VIERAM ILUMINAR OS MEUS DIAS
      • STORYTELLER DICE ◾ LÍNGUA INQUIETA
      • 30 ANTES DOS 30 ◾ O MONTE DOS VENDAVAIS
      • MANUSCRITO EM CONSTRUÇÃO ◾ ALINHADA COM A POESIA
      • JUKEBOX ◾ PARA T.
      • #200 M DE...
      • ENTRELINHAS ◾ JÓQUEI
      • AS MINHAS VIAGENS DE METRO #91
      • CLUBE DO LIVRA-TE ◾ O MOMENTO EM QUE NOS PERDEMOS
      • QUATRO REGRAS QUE SIGO ANTES DE COMPRAR LIVROS NOVOS
      • ALMA LUSITANA ◾ PORTO: RAÍZES NEGRAS
      • JUKEBOX ◾ ECO
      • #199 M DE...
      • MÁQUINA DE ESCREVER ◾ CHOVE NO TERRAÇO
      • ENTRELINHAS ◾ JARDIM DE OUTONO
      • MANUSCRITO EM CONSTRUÇÃO ◾ OS MEDOS E CONTRAPONTOS
      • VOZES FEMININAS QUE ENTRARAM NA MINHA VIDA
      • ALMA LUSITANA ◾ COIMBRA: MAMI GEOGRAPHIC
      • JUKEBOX ◾ JÁ PASSOU DA HORA
      • #198 M DE...
      • STORYTELLER DICE 4.0
      • ENTRELINHAS ◾ O VÍCIO DOS LIVROS
      • PASSAPORTE LIVRÓLICO ◾ LIVRARIA DE SANTIAGO
      • 30 ANTES DOS 30 ◾ AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2021 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2020 (366)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (29)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2019 (348)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (29)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2018 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2017 (327)
    • ►  dezembro (30)
    • ►  novembro (29)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (29)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (24)
    • ►  abril (28)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (20)
  • ►  2016 (290)
    • ►  dezembro (21)
    • ►  novembro (23)
    • ►  outubro (27)
    • ►  setembro (29)
    • ►  agosto (16)
    • ►  julho (26)
    • ►  junho (11)
    • ►  maio (16)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (29)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2015 (365)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (31)
    • ►  setembro (30)
    • ►  agosto (31)
    • ►  julho (31)
    • ►  junho (30)
    • ►  maio (31)
    • ►  abril (30)
    • ►  março (31)
    • ►  fevereiro (28)
    • ►  janeiro (31)
  • ►  2014 (250)
    • ►  dezembro (31)
    • ►  novembro (30)
    • ►  outubro (28)
    • ►  setembro (23)
    • ►  agosto (13)
    • ►  julho (27)
    • ►  junho (24)
    • ►  maio (18)
    • ►  abril (16)
    • ►  março (14)
    • ►  fevereiro (11)
    • ►  janeiro (15)
  • ►  2013 (52)
    • ►  dezembro (13)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (9)
    • ►  setembro (11)
    • ►  agosto (9)
Com tecnologia do Blogger.

Copyright © Entre Margens. Designed by OddThemes