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30 ANTES DOS 30
AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE

by - março 01, 2022

Fotografia da minha autoria



«No dia seguinte ninguém morreu»

Avisos de Conteúdo: Morte, Suicídio


A vida avança e o ser humano reconhece que, por mais longo que seja o seu percurso, por mais distintas que sejam as suas paragens, alcançaremos todos o mesmo destino: porque a morte, tão natural, é o que temos de mais certo. Mas e se até ela nos falhar? Foi com esta premissa que abracei a obra de José Saramago.


DO SONHO AO PESADELO

As Intermitências da Morte é o retrato de uma sociedade que se viu privada do seu fim. O que não deixa de ter repercussões curiosas, atendendo a que, cada um à sua maneira, passamos a vida a teme-lo e a evitá-lo a todo o custo. No entanto, quando se propõe um cenário de imortalidade, o sonho transforma-se num pesadelo.

«Algumas raras pessoas, à boca pequena, 
murmuravam que aquilo era um exagero, um despropósito»

A alegria que, inicialmente, acompanha a sensação de eternidade começa a enfraquecer assim que se compreende que as suas consequências serão mais nefastas que benéficas: porque se prolonga a dor, o sofrimento, a angustia e o desnorte. Além disso, há uma falência de certos negócios e uma total desadequação de serviços e estruturas cruciais à população. Se a Humanidade fica inextinguível, o que será feito do futuro?

«A dignidade era então uma forma de altivez ao alcance de todas as classes»

Neste ponto da narrativa é claro que se multiplicam as perguntas: qual será o custo desta realidade? Até onde estaremos dispostos a ir? Que limites morais transporemos para erradicar o desespero, fazendo a travessia? Há, deste modo, um conflito para o qual somos implicados e que nos leva a refletir sobre esta distopia.


A MORTE ENQUANTO PERSONAGEM

É muito interessante a forma como esta obra se divide, quase como se estivéssemos perante dois livros autónomos. Na primeira parte, um pouco mais exaustiva por se concentrar nas reações e neste fenómeno surreal, desconstruímos o nosso medo de morrer. Na segunda parte, por outro lado, com um ritmo mais fluído, escutamos a voz da morte, tão humana quanto nós, priorizando um tom muito mais emocional e intimista.

«(...) lançam palavras à aventura e não lhes passa 
pela cabeça deter-se a pensar nas consequências»

As Intermitências da Morte, com a sua energia dupla, mostra-nos uma crítica perspicaz e sarcástica, com maior foco na Igreja Católica. José Saramago surpreendeu-me com este enredo e, sobretudo, com o seu final.


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16 comments

  1. Confesso que a escrita de Saramago ainda não me conquistou. Já comecei a ler o Memorial do Convento e desisti, por não me conseguir adaptar à sua escrita. Talvez ainda não seja o momento para entrar no seu mundo.

    Beijinho grande, querida!

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    1. A primeira vez que tentei ler o Memorial do Convento não correu bem, só quando o reli, há dois anos, é que me perdi de encantos pela história.
      Sim, pode ser isso

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  2. Já o li e gostei, ao contrário da Ana o Saramago conquistou-me por completo.
    Um abraço e bom Carnaval.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Demorei até ter a predisposição certa para me perder na obra do autor, mas quero aventurar-me em mais títulos :)

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  3. Comprei AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE quando a minha mãe morreu.
    Conheço bem a obra literária de José Saramago.
    Embora este romance não seja o meu favorito — é uma excelente leitura 📕

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    1. Queria dedicar-me mais à sua obra, confesso
      Sim, tem perspetivas muito interessantes

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  4. O meu livro preferido do Saramago :)

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  5. Pela sua resenha é um livro muito bom pra ler, bastante interessante, ótima a sua indicação bjs.

    http://www.lucimarmoreira.com/

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    1. Há algumas passagens mais exaustivas, mas tem uma narrativa muito interessante, sim

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  6. Confesso que é um livro que eu gostava de ler
    .
    Cumprimentos cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  7. Posso dizer que não conhecia de todo, mas vou levar a sua sugestão
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

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