fundação serralves

Fotografias da minha autoria


A última vez que transpus os portões de Serralves foi em 2017, a propósito da Festa do Outono. Na despedida, prometi regressar em breve, mas a vida trocou-me as voltas e acabei por não voltar tão cedo como gostaria. Oito anos depois, com várias tentativas falhadas pelo meio, aproveitamos que a entrada passou a ser gratuita para residentes em Portugal no primeiro domingo do mês e alinhamos agendas para esse reencontro.

O nosso plano era chegarmos à hora de abertura, por um lado, para desfrutarmos do espaço sem pressa e sem grande confusão e, por outro, para conseguirmos fugir das horas de maior calor, já que as temperaturas prometiam ser elevadas. Assim, por volta das 10h05 entramos no Museu, onde encontrámos uma vasta oferta de exposições:

  1. Y’a Hamam Yalla Ma Tnam, Ma Tnam, de Mounira Al Solh, inspirada na infância da artista «durante a Guerra Civil Libanesa». Este conflito provocou marcas visíveis e, creio, a forma como compôs o cenário mostra-nos a dualidade entre a dor, a inocência perdida e a procura por conforto;
  2. run_it_back.exe, de Avery Singer, mostra-nos como «os nossos sistemas» têm falhas estruturais e como estas «atravessam todos os países». Portanto, aquilo que era invisível passa a ser palpável e o artista faz-nos deambular por esse universo;
  3. Provas Materiais, com curadoria de Philippe Vergne, transporta-nos para as vastas narrativas que os objetos nos podem contar, ajudando-nos a construir a nossa identidade - individual e social;
  4. AALTO, uma exposição monográfica desenvolvida com as duas esposas de Alvar Aalto. Entre mobiliário e natureza, atravessamos o extenso corpo da sua obra;
  5. This Is a Shot compila obras da Coleção de Serralves, quer as que foram adquiridas recentemente, quer os trabalhos que nunca foram expostos. Assim, representando «o enquadramento de uma câmara, o disparo de uma arma, uma oportunidade inesperada», está construída para sermos capazes de refletir sobre as diferentes maneiras de encarar a mudança.

Percorri os corredores e as respetivas salas com curiosidade, mas reconhecendo que é uma linguagem que não compreendo em pleno. A arte e a interpretação que fazemos é mesmo abstrata e gosto de pensar que, para lá da técnica, existe um lado emocional a ligar-nos a determinadas peças. Não obstante, queria sentir que o meu entendimento não é tão limitado, para ser capaz de mergulhar a fundo naquilo que estou a observar.

      

A visita prosseguiu em direção à Casa de Serralves, onde está a exposição Sussurro, de Maurizio Cattelan, cujo fascínio pelas mudanças, pelos traumas, pelos períodos de transição é evidente. Aliás, as obras selecionadas oscilam entre imagens familiares e autorretratos, fazendo-nos experienciar um misto de expectativa e de morbidez.

O último espaço interior que visitamos foi a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, na qual se encontrava a exposição Pequeno Teatro do Mundo, de Luis Miguel Cintra, que reúne peças escultóricas de arte sacra e quinquilharia, «de feição erudita ou popular».

É enriquecedor contactar com elementos que não figuram no nosso quotidiano, não só porque nos faz crescer, mas também porque «nos mostra o mundo, porque nos fala de nós próprios. Do que somos e do que seremos. Porque nos ensina a ser melhores» e, por isso, deambulei por cada um destes recantos com a humildade de quem absorve novas possibilidades para se transformar. Admito, no entanto, que a minha forma de arte favorita é a que encontro em toda a extensão do parque: na Clareira das Bétulas, na Alameda dos Liquidâmbares, no Bosque das Faias, no Jardim das Camélias, no Arboreto, no Jardim do Relógio de Sol, no Roseiral, no Lago, no Charco, no Prado, no Jardim das Aromáticas. Porque esta linguagem que parece poesia corre-me por dentro.

      

Espero não demorar tanto tempo para cumprir a promessa de um novo reencontro.

1 Comments

  1. Olá!
    É fascinante como consegues mostrar a arte e a história com tanta sensibilidade, transportando quem lê para cada espaço que descreves.

    Com carinho,
    Daniela Silva ♡
    https://alma-leveblog.blogspot.com — espero pela tua visita no meu blog!

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