«A Persistência da Memória»


«Uma história de emoções à flor da pele»

Daniel Oliveira. Habituei-me a esperá-lo ao sábado, na sic, no programa Alta Definição. E por mais que soubesse que todas as entrevistas acabariam com a pergunta «O que dizem os teus olhos?» nunca saberia o que responder de imediato. Quedava-me uns segundos em silêncio nos pensamentos e só depois partia para a formulação de uma resposta. Uma afirmação muda que só eu ouvia.

Para quem estava em casa a assistir, como sempre foi o meu caso, era impossível não olhar para aquela entrevista como uma conversa. Como se os intervenientes fossem amigos de longa data a recordarem momentos passados. E em todas elas, sem exceção, emocionei-me. Fiquei de lágrimas à porta, indecisas entre permanecerem brilhantes ou rolarem pelo meu rosto. E chorei! Como se a história me tocasse na primeira pessoa. Como se aquele alguém fosse uma parte do meu coração. E se houve alguma coisa que aprendi no meio de tudo isto é que aquelas pessoas, por mais que as olhemos como um exemplo e achemos que são intocáveis, são iguais a nós. Têm histórias de vida que, muitas vezes, estamos longe de imaginar. E há alturas em que sabemos exatamente o que significam determinados fragmentos do seu passado por serem, ainda que em pequenas proporções, idêntico a um fragmento de um passado que é nosso. 

Um profissional que consegue transpor a formalidade de uma simples entrevista e nos faz chegar toda a familiaridade de uma conversa, sem perder o foco do que realmente importa, é, sem dúvida, alguém que quer marcar a diferença. Além disso, é alguém que sabe muito bem o que faz. Que respeita o trabalho que tem em mãos. Mas que consegue, ao mesmo tempo, mostrar-nos o melhor de alguém. E isso, muitas vezes, pode significar episódios não tão agradáveis da vida do entrevistado. Só que o respeito com que toda a informação é tratada é de um enternecimento que só nos leva a admirar ainda mais aquele ser humano que se sentou pronto a falar de si, sem filtros. E eu acho que é precisamente por toda a suavidade e humanidade com que as perguntas são feitas, sem haver qualquer tipo de julgamento pela possível resposta, que leva as pessoas a falar de coração aberto. 

Eu gosto desse lado genuíno. Da frontalidade dos pormenores. Da verdade dos factos. Gosto quando a minha admiração por um profissional é corroborada não só pelo talento do mesmo, mas também pelo lado humano que o caracterizam. E gosto ainda mais quando do outro lado está um entrevistador como o Daniel Oliveira. Fiquei a conhecer o seu trabalho no Alta Definição e não mais o deixei de acompanhar. Foi com surpresa e grande expectativa que tomei conhecimento do seu primeiro romance. E não podia esperar mais até o ter nas mãos. O risco de ficar desiludida era grande. É que quando admiramos o trabalho de alguém temos tendência para esperar que seja bom em todas as áreas. E o facto de ser um grande entrevistador não significa que seja um grande romancista. Mas sabia perfeitamente que se escrevesse tão bem como faz entrevistas o produto final só podia ser algo de cortar a respiração. Pela envolvência. Pela criatividade. Pela positiva. Sempre pela positiva.

Recebi o livro como prenda de Natal. Comecei a lê-lo no dia vinte e cinco à tarde. Reconfortei-me na poltrona da sala, em casa dos meus tios, e deixei-me envolver nas palavras. Da primeira à última página. Agora que penso, acho que não me mexi durante quatro horas, mas a história não me permitia pousar o livro. A vontade de saber o que vem depois, o que acontece a Camila, era demasiado apaixonante para fechar o livro e interromper a leitura. Por isso mantive-me ali, sozinha, acompanhada por aquele livro de capa vermelha e pela história de uma mulher que se lembra de tudo ao mais pequeno pormenor. Que não se esquece, por muito que tente e que queira. E que nos deixa mesmo com as «emoções à flor da pele».

Não parei de ler. Li de coração aberto. Apeteceu-me chorar em algumas partes, enquanto noutras o desejo era saltar para dentro do livro e dar uma abraço apertado àquela personagem fictícia de seu nome Camila. A história é desconcertante, leva-nos a ler com cuidado para perceber cada palavra, para acompanhar a sequência de acontecimentos, para compreender o que vai na cabeça de alguém que, à partida, não se encaixa em nós, por não termos histórias de vida semelhantes ou que em nenhum ponto se tocam. Dei por mim a tentar colocar-me no papel da Camila, a tentar perceber o que faria se a minha vida apresentasse os mesmos obstáculos, e a verdade é que não sei. 

No final da leitura, o meu livro ficou assim: todo marcado por setas coloridas. Por serem passagens da história que me marcaram a mim. Por serem, em muitos casos, uma chamada de atenção. Mas também há partes que nos fazem sorrir. E talvez rir. Pelo diálogo engraçado e provocador. Mas lá no fundo é a história de alguém que podia estar neste exato momento ao nosso lado. É a história da vida de alguém, ainda que esse alguém só exista ali, naquelas duzentas e trinta e oito páginas.    

Quanto aos outros não sei, mas eu persistirei para que este livro não me saia da memória. 



Uma (das muitas) passagem do livro que me marcou:

«- Nem eu sou o que fui, nem tu és o que foste, Camila. Somos outro a cada momento. - Disseste
- E vais assim embora, sem mais nada? Num dia está tudo bem e no seguinte é o inferno. Tudo o que aconteceu entre nós não vale de nada?
- Não é isso que está em causa, claro que vale. Farás sempre parte da minha vida, assim como eu da tua. A forma como ficarás cá dentro só a mim diz respeito mas, como já te disse, as pessoas mudam e tu não és diferente.
- Claro que sou, sempre fui a mesma contigo, não mudei.
- Claro que não és, ninguém é. Eu sou tudo o que vivemos, mais o que deixei por viver. Sou a soma dos anos, dos risos e das angústias. Não posso ser o que fui quando não sou o que era. Nem tu podes querer que eu seja a pessoa que tu gostavas que fosse.

Resignei-me no fosso do teu silêncio. Um silêncio a que a evocação obriga agora a regressar. Levantei o rosto e olhei-te mais fundo do que julgava conseguir, lembras-te? Tudo o que disseste, já se vislumbrava nos teus olhos. Desatei as cordas que te amarravam a mim e que já estavam cortadas sem termos percebido.

Deixo-te ir. Abro as mãos e podes voar.»

Comentários

  1. Sinceramente nunca vi o programa dele mas sei que é um grande profissional e montes pessoas já me elogiaram o trabalho dele. Então esse Natal querida?

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  2. Adoro o programa dele. Acho que os «famosos» deixam de o ser e passam, a ser pessoas normais. Parece tão genuíno.

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  3. enfim.
    espero q sim :p
    fogo, nunca imaginei q passa-se com 0 erradas.
    ainda bem, ora essa de nada :p

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  4. Adoro o Daniel Oliveira e estou super curiosa quanto a este livro. Mas ainda vai ter que esperar uns meses porque agora tenho imensos em casa por ler :) Mas, e depois de ler esta tua opinião, tenho a certeza que será uma excelente leitura!

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  5. O meu também foi muito bom mas passou tão depressa :o Obrigada querida <3

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  6. Fiquei curiosa em relação a esse livro..

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  7. É exatamente isso.. Ele tem poder sobre as pessoas, um poder bom.

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  8. Yo tengo dos libros muy interesantes esperándome :)

    Besos

    SHOPPING STYLE

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  9. Não conheço o livro :( mas gostei muiiiiiito das frases que te marcaram, principalmente da segunda!

    Óhhhhh, muito obrigada lindaa :) fiquei muito contente com a tua opinião *.* gosteii muiiiiiiito!

    ahh, a camisa da primeira foto comprei numa feira em carcavelos, a 5€ nas férias de verão xp ahah e mal a usei até (ainda)!

    És uma queridaaa!
    Beijinho grandee ♥♥

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  10. adoro-o e admiro po trabalho dele, ontem vi o alta definição "do ano" e adorei!

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  11. Eu adoro-o, tenho de ler o livro :) Já ouvi falar muito bem dele!
    R: Oh, muito obrigada querida! Tens toda a razão*

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  12. Tens mesmo que ver! Acho que vais gostar :))
    bjs

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  13. Eu nem o aprecio muito, mas gosto do trabalho dele que tenho visto! e a minha ignorância passou a conhecer o livro dele aqui no teu blog :x

    A minha é mesmo de verão, por isso tenho que usar com muitas camisolas se usar nestes dias xD porque é sem mangas.. aii 20€ é caritoo, nem eu dava :c tens que procurar e aproveitar se encontrares nos saldos.

    Eu também a acho fofinha pela maneira de dizer, só isso! dai até gostar de Pim x) ahah

    beijinho minhaa fofinhaa ♥ :)

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  14. Eu sinceramente mal vejo sic, é mesmo muito raro (odeio completamente, mas pronto respeito quem vê e gosta). e aos sábados quando faço bolos a única coisa de jeito que dá á'quela hora é filmes na tvi ou alta definição na sic e o que lhe conheço é dai também :)

    ah pois tenss :p mas daqui até lá pode ser que encontres outras coisas e até outras camisas :3

    Ora ai está por outras palavras o que escrevi no blog hoje :)

    beijinhossss ♥♥

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  15. ps. tens que tirar aquela coisa das palavras após comentar o teu blog.. ultimamente tenho errado nisto tudo -.-

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  16. eu para te ser franca nem vejo nda na sic :x

    és como eu! já gostei mais que agora.. agora nem ir ao shopping tenho vontade ._.

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  17. ps. yeyyyyyyyyy! tu tiras-tee :) obrigada xD ahah ♥

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  18. Querida espero que 2014 também te traga imensas coisas boas e que seja muito melhor que 2013. Um ano cheio de felicidade é tudo o que desejo, beijinho grande fofinha e boas entradas <3

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  19. Sinceramente, não vejo sequer televisão :/

    Boas entradas querida. Tudo de bom!

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  20. R: Eu só consigo ver séries no pc.

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  21. Ele mereceu, todo o meu amor e merecia mais ainda. Honestamente, não sei o porquê de ele ter ido embora assim sem qualquer motivo e duvido que algum dia saiba mas está mais que na hora de viver o presente.
    Pois tem, tem mesmo.

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  22. Também gosto muito dos seus testemunhos, das suas frases. Não li o livro, mas deve ser interessantíssimo. Um bom ano, que venha cheio de coisas boas. Um beijinho

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  23. estou muito curioso para ler este livro, mais fiquei depois de ler esta crítica. é um dos livros que vou ler no princípio de 2014. Obrigado pelo comentário, ajudou bastante :)

    http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/

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  24. r: também vi o jogo do porto e sinceramente não achei piada nenhuma

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  25. Venha ele e, de preferência, acompanhado de muita coisa boa :)
    Beijinhos*

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  26. UAU! gostei do texto!
    Feliz 2014!!

    santiroyaolhome.blogspot.com
    Santi

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  27. Arrepender-me? Por mais mágoa que sinta, não consigo arrepender-me. É o que vou fazer, viver a minha vida. Deixá-lo para trás.

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  28. Assim o espero querida. Obrigada pelas palavras, são mesmo confortantes <3

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  29. Ele fazia um trabalho fantástico nas entrevistas do Alta Definição :)

    Sem Jeito Nenhum Blog

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  30. R: Por acaso comigo é exactamente o contrário porque no computador sinto que posso ver à velocidade que quero.

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  31. por acaso, arrependo-me de não ter estado mais atenta ao programa!

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  32. Nem sempre vi as entrevistas, mas quando via adorava. E gostava muito de ter esse livro! Quando acabar de ler o livro que estou a ler, talvez seja o próximo que compre.
    Um beijinho d'A Gata para ti e, já agora, um bom ano *

    http://agatadesaltosaltos.blogspot.pt/

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  33. A minha irmã ofereceu-me no Natal e ainda não comecei a ler mas estou ansiosa!

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  34. Eu prefiro ficar pelos filmes do que o Alta Definição :p

    Aiiiii, és como euuuuuuuu! ahah eu só vou a shopping's quando tem mesmo que ser e tenho mesmo que comprar alguma coisa :)

    Assim é "melhor" de comentar! :b ahah

    Beijinhosss ♥♥*

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  35. Por acaso não conhecia esse livro. Nunca tinha ouvido falar dele :p

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  36. Tens toda a razão no que me disseste no comentário! Depois, quando agarramos a felicidade, já nunca mais a largamos. Aí (re)descobrimos o que é viver :)

    Que entres em 2014 com o pé direito querida :)

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  37. Estou a ler. Tenho pouco tempo por isso vou lendo devagar, um pouco a cada dia! Mas estou a gostar imenso!

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  38. obrigada, és sempre uma querida*
    gosto imenso do Daniel, tenho de ler o livro. Um beijinho :)

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