Entrelinhas #1


«Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria», Jorge Luis Borges


Entrelinhas surge pelo meu incurável gosto pela leitura. Pela enorme vontade que tenho em pegar num livro e mergulhar nas suas páginas, conhecer a sua história, passear de braço dado com as personagens ou, simplesmente, imaginar todo aquele enredo a acontecer à minha frente, como se desenrolasse uma fita de cassete de vídeo.
 
Aprendi a partilhar, porque acho que quando algo nos faz tão bem não devemos guardar para nós. Devemos dar a oportunidade a outras pessoas para que entendam a nossa reação, o nosso apreço e, até mesmo, a nossa paixão. Isso acontece com os livros. Quando nos fascinam de tal forma queremos falar deles a toda a hora, por isso partilhamo-los com quem está ao nosso redor, com o secreto desejo que venha a entender exatamente aquilo que nos fez sentir. 

Quando acabo um livro quase que nem me permito respirar, pegando logo noutro para não sentir a falta de uma história que me envolva. Não é tão linear assim, pois, em primeiro lugar, preciso de ficar em silêncio, a rever mentalmente tudo aquilo que li, como se necessitasse de um momento a sós para gravar todas aquelas palavras. Depois sim escolho outro livro da estante, começando do zero e abraçando uma nova realidade ficcional, com novos encantos e outros protagonistas. Por isso, decidi falar-vos do que leio. Dar-vos a conhecer as histórias que me acompanham e os escritores que me fascinam. Não terá uma periodicidade definida, mas tentarei que seja semanal, até porque a quantidade de livros lidos já é alguma. E a vontade de vos falar sobre eles é ainda maior. 



«Natalie, a filha adolescente de Jessica e Charlie Moore, morre num estranho acidente em França. 
Pai e mãe ficam destroçados. Mas Jessica sente que ficou algo por explicar, enquanto Charlie se recusa a discutir o que aconteceu naquele fatídico dia. 
Então, o casamento de ambos é abalado por mais um choque, e Jessica parte para França, sozinha, em busca de respostas.
Quando chega a uma paradisíaca vinha no coração da Borgonha, descobre muito mais do que esperava: um amor completamente proibido e uma verdade que mudará a sua vida... para sempre».


Foi o primeiro livro que li da autora, por isso, confesso, não tinha criado qualquer tipo de expectativa. Fiquei agradavelmente surpreendida pela sua escrita fluída, que nos faz querer avançar na história. Comecei-o na tarde de Domingo e quando dei por mim não conseguia parar de ler, uma vez que estava tão absorta nas palavras que, à medida que as páginas iam virando, desvendavam pequenos mistérios. 

Envolto num grande segredo, este livro tem um pouco de tudo: drama, comédia, sensualidade, sorrisos, lágrimas, desespero, tranquilidade, amor. E o melhor de tudo é que sentimos tudo isso enquanto vamos lendo, porque os diálogos estão muitíssimo bem escritos, quase ao ponto de nos fazer pensar que podiam ser amigos ou conhecidos nossos a tê-los ao nosso lado, mas também o próprio desenrolar da narrativa, que nos permite compreender toda aquela realidade. 

É incrível como uma mentira pode destruir tanta coisa: um casamento, uma amizade, uma relação de mãe e filha. É incrivelmente assustador imaginar no sufoco que se vive a partir do momento em que se escolhe guardar um segredo tão grande. E é inevitável pensar que se tudo fosse esclarecido na altura devida talvez se evitassem tantos problemas. Ainda assim, no meio de tanto sofrimento, há espaço para que cresça um amor sólido e baseado na verdade. Para que se reponham os factos e se liberte a mentira. E é quando essa liberdade chega que se percebe que de nada adiantar forçarmos algo que não nos deixa felizes. 

Sem querer levantar muito o véu, são as traições que põe fim a uma vida. Literalmente falando. É todo o secretismo - e pontas soltas - que fará com que, a partir daquele dia, a desconfiança de que ficou algo por contar seja cada vez maior. E na busca da verdade, aquilo que se vem a descobrir, é que, nem sempre, as pessoas são aquilo que aparentam ser. Por vezes, carregam em si mentiras, segredos que tentam ocultar a todo o custo. Mas é quando se descobre a verdade que nada mais há a fazer. Tudo se perde, ainda que se tente preservar alguma coisa. Porque «há segredos que mudam a nossa vida», para sempre! 


Agora deixo-vos algumas citações:

«Numa manhã de chuva, quando estava sentada debaixo da janela do tecto, escrevendo os seus pensamentos mais íntimos a respeito de Antoine, ouviu chegar um carro lá fora e, passados alguns instantes, a avó gritou-lhe que descesse e fosse ver quem tinha chegado. Natalie escreveu rapidamente mais algumas palavras no seu diário e, em seguida, depois de o ter guardado cuidadosamente na gaveta secreta, desceu. A porta da cozinha estava aberta e, como a chuva não a incomodava, saiu. Decidiu que voltaria ao seu diário mais tarde e escreveria sobre tudo o que tivesse feito nesse dia.
Natalie nunca mais voltou a escrever no seu diário»

«- Para ti também - relembrou-lhe ela, enquanto pensava que o adjetivo "difícil" devia ser o eufemismo do ano. No entanto, era escusado tentar traduzir a realidade em palavras mais grandiosas, pois, por mais descritivas, exactas ou inteligentemente metafóricas que fosse, não atenuariam o sofrimento, nem o mudariam sob nenhum aspecto. Quando muito, agravá-lo-iam, sendo, por isso, melhor manterem os velhos e fiéis eufemismos, em que começavam a tornar-se bastante hábeis.»

«- Mãe? - disse, passado algum tempo.
- Sim? - respondeu ela, escolhendo uma faca do pesado cepo de madeira para começar a cortar.
- Tenho estado a pensar.
- Em quê?
- Em casar.
- A sério? - retorquiu ela. - Tens alguém em vista? 
- Não, mas cabe-me dar continuidade ao nome da família porque sou o único rapaz. Logo, se quero ter filhos, tenho de casar.
- Não há pressa - assegurou-lhe ela
Ele ainda estava claramente absorto no seu devaneio
- Acho que devo gostar de mulheres mais velhas - disse ele, com bastante seriedade.
Jessica reprimiu uma gargalhada (...)»

«Então, finalmente, o vale ficou para trás, perdido de vista, sendo silenciosa e inexoravelmente relegado para o passado, como num sonho, mas nem por isso, porque, se fosse apenas um sonho, ela não estaria a deixar a melhor amiga para sempre, nem o seu coração estaria a destroçar-se por um homem que era errado amar. Acima de tudo, porém, não estaria a chorar uma filha que nunca devia ter perdido».

«Então, nós estamos perdidamente apaixonados? - perguntou num tom de brincadeira. Depois, com mais seriedade: - É o que parece.
- A mim também - disse ele, entrelaçando os dedos nos dela
(...)
- Reserve-nos o futuro o que reservar, mon chéri, preciso de estar contigo agora...»

Comentários

  1. Confesso que também é das coisas que mais gosto de fazer: ler. Mas, embora leia outras coisas, gosto muito, muito de autores portugueses (actuais e mais antigos), sou uma fã incondicional do José Luís Peixoto e do Joaquim Pessoa, Mas o meu predilecto foi e sempre será o Vergílio Ferreira, cujos livros revisito imensas vezes!

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  2. Gosto muito de ler mas não tenho lido muito.Que género de livros gostas?

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  3. Eu adoro ler e fico super nostálgica cada vez que acabo um livro. Neste momento tenho 3 para ler mas não consigo arranjar vontade... nem tempo. E tenho pena.

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  4. Sou viciada em ler e cada vez que termino um livro é como se ficasse um vazio, por isso percebo bem do que falas :p Esse livro que apresentas ainda não li por acaso, mas já conhecia. Gostei do teu blog, um beijinho*


    http://thefashionaddicted.com

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  5. Também gosto muito de ler mas gosto mais de ficção xb

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  6. O livro parece ter uma história bem bonita. Eu não gosto de ler :/

    Womens's Stuff

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  7. Parece ótimo!!!

    Bjos

    chuvadecamelias.blogspot.com.br

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  8. Gosto imenso de ler este tipo de livros, não conhecia o livro fiquei super curiosa em ler o livro acho que tenho de o ir procurar. Adoro a última citação.
    beijinhos
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  9. Isso é tão verdade, mas o que é curioso é que eles conseguem fazer musica pimba diferente ao que estamos acostumados e isso é que nos faz criar aquele interesse! E eu também gosto muito dele, até que foi uma das prendas que dei a minha mar no seu dia de aniversário, os dois cd's dele, que ainda ouvimos juntas e gostamos bastante**
    Tal como dizes é tudo uma questão de tempo! Só fico desanimada é quando cantores portugueses cantam em inglês com o pensamento de achar que será por isso que iram ter mais sucesso! Mas a verdade é que maior parte dos ouvintes somos nós "os portugueses"
    R: Fogo princesa, foi mesmo brilhante...parecia que finalmente tinha encontrado o meu mundo** E se gostares disso ou tiveres curiosidade de saber como é, eu incentivo-te a ires, acredita que não te vais arrepender :')

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  10. R: Isso é verdade. Parece que só eles têm os problemas todos do mundo e nós? Devem achar que vivemos num mundo perfeito. Parece que não somos gente. Enfim. Obrigada minha querida!
    Adoro ler mas confesso que o tempo que tenho não me permite muito que o faça. O pouco que vou lendo ou é aqui no blog ou então pequenos excertos dos livros que tenho empilhados no quarto que queria ler e ainda não consegui.

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  11. Fiquei super curiosa! :o Parece-me ser um bom livro. Tenho que o ir procurar na biblioteca aqui da zona ;) Boa partilha!

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  12. R: mas desta vez custou-me mesmo muito. Para a próxima terei mais sorte

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  13. Espero que sim :)
    Parece que partilhamos o mesmo gosto pela leitura :p
    Bom fim-de-semana *

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  14. Tenho lido tão pouco. Agora queria ver se lia o 1984.

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