O que fala ao coração #8

«A minha ideia é que há música no ar, há música à nossa volta, o mundo está cheio de música e cada um tira para si simplesmente aquela de que precisa», Edward Elgar

Não passo um dia sem ouvir música. Esta semana, como não poderia deixar de ser, continuamos em Português. E no masculino. Com a única diferença na quantidade de elementos, porque, desta vez, a escolha recai sobre um grupo que começa a dar os primeiros passos no mundo da música, mas que já é conhecido de outras andanças. Quem os reconhece sabe que o talento é inegável e cada vez maior. Quem ainda não conseguiu identificar vai descobrir um pouco daquilo que eles são. Porque serão sempre muito mais do que aquilo que algum dia serei capaz de definir.
 

David, Eduardo, João e Tiago. Quatro nomes distintos, no talento, na idade, na naturalidade, na personalidade. Ditos em separado talvez não vos digam grande coisa, mas se vos falar em Aurora acredito que a reação seja outra e que compreendam que são tão iguais na vontade, na ambição, no trabalho e no sonho que os move. Concorreram ao Factor X sem se conhecerem (com exceção do Eduardo e do João) e sem preverem que isso iria mudar na fase do Bootcamp. Juntaram-nos. E eles criaram os Bring Us Tomorrow, mas com a passagem às galas mudaram o nome para aquele que, a meu ver, os descreve melhor. A partir desse momento foi vê-los crescer e conquistar pequenas vitórias. 

Há dias em que os ouço e custa-me crer que são tão novos, pela maturidade com que cantam, com que interpretam músicas que todos nós conhecemos, com que se dedicam ao que fazem. Não é a primeira vez que falo sobre eles (aqui), por isso corro o risco de me repetir nos elogios. E tenho a certeza que não será a última, pois acredito mesmo que as surpresas não parem por aqui. O caminho ainda agora começou. E eu estarei aqui para os ver chegar sempre mais longe. 

Nunca escondi que sou fã incondicional de música portuguesa. Ter alguém num programa deste nível com tanta vontade de a defender encheu-me o coração. O carinho foi automático e o orgulho foi aumentando de dia para dia. Confesso, nas semanas iniciais tive algum receio que com o término do Factor X este projeto lhe seguisse os passos, não por falta de talento, mas por falta de oportunidades. Se a esperança era de que acontecesse o contrário, o alivio fez-se sentir mal demonstraram toda a vontade que tinham em continuarem juntos. E ainda mais quando, na gala em que saíram, o mentor Paulo Ventura afirmou que «eu vou agarrar em vocês e vocês vão ser uma banda do arco da velha já!».

O programa acabou há uns meses e desde então têm-se dedicado aos originais. É inevitável criarem-se expectativas sobretudo quando foram gigantes semana após semana. Continuarei a dizer que aquilo que eles fizeram poucos seriam capazes. Foi preciso coragem. Saltaram sem rede e sem medo de caírem. Desafiaram-se. Superaram-se. E conquistaram o seu espaço com um carisma muito próprio. Precisamos de mais pessoas com esta garra. Não foi, de todo, um percurso fácil, não só pela dificuldade em criarem os arranjos e conjugarem quatro vozes, quatro guitarras, quatro personalidades, de forma a que tudo resultasse, mas também por serem todos de cidades diferentes - Santa Maria da Feira, Barcelos e Beja. No fim, tudo compensa, mas é preciso pulso firme para aguentar os nervos, noites mal dormidas e cansaço acumulado. Ser perseverante é uma qualidade que só quem quer vencer tem. Eles têm. E querem. 

A ansiedade em saber como seria o caminho deles depois do Factor X era enorme. E enorme era também a expectativa. Habituamo-nos a ver aquela pessoa ou aquele grupo num determinado registo, interpretando músicas que não são suas. Quando passam para o outro lado queremos que sejam ainda melhores - e, quem sabe, um dia serem as músicas deles a serem interpretadas num outro programa de televisão. Conseguiram superar todas as minhas expectativas e ser ainda mais gigantes do que aquilo que foram ao longo de nove galas. Não que tivesse dúvidas de que seriam capazes, até porque isso era impossível, mas é bom quando alguém que admiramos nos consegue surpreender assim. 

Trabalho de qualidade requer tempo, não se pode acelerar o processo. É preciso paciência, calma e ainda mais dedicação. Foi no Ai Cruzes que mostraram ao público presente dois dos seus originais e digo-vos que valeu cada segundo de espera. Não estive lá para ouvir em primeira mão, mas são duas músicas para ouvir em constante repetição. Pode não parecer, mas já não tenho palavras para descrever o orgulho que é acompanha-los, ainda que à distância. Vê-los conquistar cada vez mais admiradores. Vê-los subir mais um degrau. Sabe-los a crescer, mas reconhecer-lhes a humildade com que começaram. Saber que estes Aurora são o início de algo novo, promissor e com sucesso cravado na sua identidade. Um dia vamos mesmo encontrar-nos num desses palcos espalhados pelo país. Não prometo conseguir estar na primeira fila, mas prometo estar e saber as letras de cor. Já faltou mais. 

Não restam dúvidas quanto à escolha desta semana. O que fala ao coração é dedicado aos Aurora, com a esperança de que sejam repetentes nesta rubrica com outros originais. Nunca me cansarei de dizer isto: são incrivelmente gigantes.

Já conheciam? O que acharam dos originais? Qual gostaram mais?