Entre Margens

Fotografia da minha autoria



«A vida é feita de momentos colecionáveis»


Maio, por mais que soe a um lugar comum, foi leve e passou num sopro. Aliás, enquanto organizava as minhas memórias, fiquei com a sensação que pouco tinha acontecido, mas percebi que, por entre dias de uma primavera quente, registei apontamentos que aconchegam o lado esquerdo do peito - e outros que foram mais agridoces. Portanto, contra todas as expectativas, este quinto mês revelou-se, emocionalmente, preenchido. Nostálgico. E o impulso certo para continuar a caminhada.


⚓ MOMENTOS
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A minha essência de adepta faz-me reconhecer a poesia inerente à conquista de um campeonato, porque são emoções fortes que não se explicam. Ainda assim, custou-me que essa festa não tenha sido azul e branca - e se há algo que aprendi com o Porto foi a acreditar até ao final. Por outro lado, foi de coração a transbordar de orgulho que vi a nossa equipa de Andebol a conquistar o bicampeonato. E foi de lágrimas nos olhos que celebrei esse momento: não só pelo que representa desportivamente, mas principalmente por ser a homenagem perfeita a um dos rostos que melhor representou esta casa. Foi por ti, Quintana. Obrigada por seres a estrela que orienta a nossa mística.

A final da Eurovisão deixou-me sem palavras e não pelos melhores motivos. Confesso que ainda não consegui compreender as votações, mas isso não condiciona a admiração que tenho pelos The Black Mamba, que arrasaram naquele palco. O resultado não espelha a magia da atuação.

Num apontamento breve, mencionar duas pessoas que, indiretamente, fizeram parte do meu crescimento: Maria João Abreu, de quem nos despedimos demasiado cedo, e Lucho González, que terminou a carreira.


📚 LEITURAS
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A Sibila, Agustina Bessa-Luís
Alma Lusitana || Ericeira

1984, George Orwell
Uma Dúzia de Livros 2021 || Maio

Se Eu Fosse Tua, Meredith Russo
Ler a Diferença || Identidade de Género


Outras Leituras do Mês
O Jogo do Anjo [Carlos Ruiz Zafón], Publicação da Mortalidade 
[Valter Hugo Mãe], O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo 
[Charlie Mackesy], Jardim de Outono [Dulce María Loynaz], Jóquei [Matilde Campilho] e A Força dos Afectos [Torey Hayden].


✏ PUBLICAÇÕES
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Aceitar Que Os Nossos Projetos Não São Um Autêntico Fracasso


A possibilidade presente numa folha em branco desperta-me uma motivação acrescida. E, por vezes, é no silêncio do imprevisto que as ideias florescem, potenciando uma nova rota no caminho. E eu aprecio bastante essa sensação, esse despertar sem aviso, que me leva a parar e a estruturar cada etapa daquele conceito, testando a melhor abordagem até estar pronto para ser apresentado. Mas como é que se gere, quando apenas nós partilhamos entusiasmo pelo nosso projeto?

Semana dos Autores Portugueses


A 22 de maio celebra-se o dia do Autor Português. Por esse motivo, optei por estruturar uma semana temática. Assim, mostrei-vos:
Os Lançamentos Que Me Deixam Entusiasmada
As Capas Mais Bonitas da Minha Estante
Cinco Obras Para Reler
Um Entrelinhas de Livros Perdidos na Gaveta
Exemplares de Autores Portugueses Que Recomendo de Olhos Fechados
ABC de Autores Nacionais
Artes Que Se Cruzam

Storyteller Dice || Na Curva de Um Beijo


Um café à janela
Que arrefece lentamente
Como um sonho
Na curva de um beijo trivial


🍴 À MESA
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Bolo da Cuca com Morangos


Morangos foi o ingrediente escolhido para o mês de maio, no projeto Páginas Salteadas. Portanto, partindo do livro de Charlie Mackesy, no qual existe uma personagem bastante gulosa, decidi fazer o bolo da cuca, recheando-o - e cobrindo-o - com morangos e natas. Vejam aqui.


📌 ENTRE LINHAS
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Quando pensei na semana temática de homenagem aos autores nacionais, lembrei-me que talvez fosse interessante partilhar os temas que a constituiriam, permitindo que mais pessoas participassem, se assim o entendessem. E foi com uma enorme felicidade que li as participações da Marisa, da Matilde, da Sofia e da Carolina [Uma Família de 3].

                 

Marisa Vitoriano 
As Capas Mais Bonitas da Minha Estante
ABC de Autores Nacionais

Sofia Costa Lima
Dia do Autor Português


📌 JUKEBOX
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A Surpresa: Crazy Nando [The Black Mamba]
Melhor Duo: Lembra-te de Mim [HMB & Rui Veloso]
A Diferentona: Lisboa [Kicu]
As Favoritas: Massa do Meio-Dia [João Couto] e 
Estendo o Dedo Parto a Mão [O Príncipe]
Artista Revelação: Rapaz Ego


Álbuns: Cantando Abril [Agir], Sete Fontes [Homem em Catarse], Royale [Cálculo], Cycles [Y.azz & B-mywingz], Vida Dupla [Rapaz Ego], Blooming [Himalion], Reservado [Eu.Clides] e bpm [Salvador Sobral].


🎥 VÍDEOS & PODCASTS
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Ask.tm #200
O podcast do Pedro Teixeira da Mota chegou, há umas semanas, ao episódio 200. Por isso, em jeito de celebração, sentou-se à mesa com três convidados de peso - Bruno Nogueira, Carlos Coutinho Vilhena, Ricardo Araújo Pereira -, para uma conversa que podia não terminar.


Reset
Conversar sobre os nossos fracassos não é fácil, até porque exige uma predisposição emocional e psicológica que nem sempre temos. No entanto, é necessário, porque também fazem parte do processo. E a Bumba na Fofinha tem feito isso na perfeição neste seu novo projeto.


Luís Franco-Bastos
É um dos humoristas que mais admiro, portanto, estou atenta ao seu percurso. E foi com entusiasmo que vi regressar a quarta temporada de Hotel [a sua podsérie] e que pude rever Consciente [solo de Stand Up].


✨ GRATIDÃO
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«Love is on my side»

Este mês, estou grata por ter os meus pais vacinados [a minha mãe já com as duas doses tomadas e o meu pai com a primeira]. Deixa-me um pouco mais descansada. Além disso, sinto-me agradecida por ter festejado a vitória no Andebol e pela prestação dos The Black Mamba.



«Não desalinhes as estrelas
Que tu mesmo alinhaste
Que se foda a tristeza
É minha, eu que a ultrapasse

Fotografia da minha autoria



... Cerejas!

[Uma das minhas frutas favoritas. Por isso, se me querem ver feliz, basta colocarem-me uma taça de cerejas à frente. Que iguaria divinal! Com um travo doce, têm toque a dias quentes, que aconchegam a alma]

Fotografia da minha autoria



«Nunca a beleza foi tão assustadora»

Avisos de Conteúdo: Violência, tortura, abusos, homicídio, 
suicídio, relações tóxicas, rapto, cenas explícitas


Os traços delicados de algo que consideramos belo nunca se poderiam aproximar de um plano terrorífico. Porque são conceitos tão antagónicos, que nenhum elo os confundiria. No entanto, nesta verdade tão pouco absoluta, vamos desconstruindo a harmonia que habita num «jardim com flores exuberantes», porque há segredos sufocantes. E, pior, existem coleções perigosas, escondidas numa fachada que nos engana. Portanto, deambulando por este estranho lugar, criado por Dot Hutchison, deparar-nos-emos com memórias absolutamente arrepiantes.

«Quando lhe perguntaram, ela apenas lhes virou costas»

O Jardim das Borboletas é um thriller psicológico, doentio e marcante. Além disso, é de uma beleza surreal, embora pareça errado assumir esta última característica, visto que o enredo tem contornos horríveis, que nos fazem questionar os limites do ser humano, o quanto desconhecemos aqueles que nos rodeiam e até onde as pessoas estão dispostas a ir para alimentar a sua visão distorcida da realidade. Assim, enquanto a vida continuava o seu ritmo natural, dentro de uma mansão isolada ocorriam atos hediondos. E cada descrição repugna-nos e desassossega-nos, ao ponto de querermos parar, mas sem sermos capazes disso, porque é mais forte a vontade de descobrirmos o desfecho - e as motivações.

«As coisas bonitas são de curta duração, disse-me ele da primeira vez que nos vimos»

Passei a maior parte da leitura com o coração em alvoroço, porque parece improvável existir tanta maldade - mas não é. E há uma parte de nós que procura compreender a essência de uma personagem em concreto, porque aqueles comportamentos não podem vir de um lugar de perfeita lucidez. Por isso, fazer esta desconstrução torna a narrativa ainda mais apelativa, atendendo a que a componente psicológica é um dos pontos chave desta obra: pelos episódios descritos, pelos traumas e pelo levantar do véu no que toca a uma possível Síndrome de Estocolmo.

«- Será que a "justiça" muda alguma coisa do que ele fez?»

Apreciei bastante o facto de a autora deixar bem claro, desde o início, o que aconteceu, mas sem perder a capacidade de nos surpreender com reviravoltas inesperadas. Em simultâneo, é mesmo interessante como nos faz questionar, constantemente, a protagonista. Se, por um lado, não temos qualquer dúvida que é uma vítima, por outro, tendo em conta que pondera tudo aquilo que partilha, ficamos no limbo quanto à sua verdade. No fundo, vai-nos colocando à prova, levando-nos a reconsiderar o quanto somos céleres a julgar os outros, sobretudo, se desconhecermos o mundo para o qual nos tentam alertar.

«Ficámos sentados na gruta húmida com a roupa encharcada»

O Jardim das Borboletas choca e agonia-nos, ainda para mais, quando a esperança se dissipa por entre oportunidades perdidas. Porém, apesar de toda a sua monstruosidade, o sentido de união transmite alento. Com um final surpreendente, esta história é uma autêntica obra de arte.

«A cobardia pode ser o nosso estado natural, mas ainda é uma escolha»


// Disponibilidade //

Wook: Livro [esgotado] | eBook
Bertrand: Livro [esgotado] | eBook

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«Nós partilhamos o ingrediente, tu escolhes o livro»


O Menino perguntou à Toupeira se tinha algum ditado favorito. E ela respondeu-lhe afirmativamente, reforçando que, «se não conseguires à primeira, come um bolo». Mesmo desconhecendo esta máxima, pareceu-me perfeita: porque tudo fica bem melhor, quando polvilhado de doçura.

O diálogo em questão pertence ao livro de Charlie Mackesy - O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo -, cujas páginas transbordam de amor, atendendo a que são um retrato maravilhoso daquilo que é a amizade. Além disso, através de conversas simples e tão puras, mostra-nos a importância de sermos gratos, de sabermos perdoar e de termos a capacidade de nos reconhecermos no outro, porque todos temos fraquezas e qualidades, por mais distinta que seja a nossa essência. Com ilustrações encantadoras, esta obra é mesmo inspiradora, porque nos embala numa viagem pelo mundo, mas que é feita de dentro para fora.

Assim, combinei a ternura desta história com o ingrediente do mês, para o projeto Páginas Salteadas. Visto que uma das personagens é uma enorme apreciadora de bolo, optei por confecionar um com morangos.


🍴 BOLO DA CUCA COM MORANGOS


Ingredientes para o bolo
- 2 chávenas de farinha com fermento;
- 4 ovos inteiros;
- 2 chávenas de açúcar;
- 1 chávena de chocolate em pó;
- 1 chávena de óleo;
- 1 chávena de água a ferver.

Modo de preparação
- Pré-aquecer o forno a 175ºC;
- Misturar todos os ingredientes muito bem;
- Por fim, juntar uma chávena de água a ferver e envolver;
- Levar ao forno.

Ingredientes para o recheio e cobertura
- Morangos;
- 1 pacote de natas;
- Açúcar.

Modo de preparação
- Juntar três colheres de açúcar às natas;
- Bater até ficar um preparado consistente.

Montagem final
- Cortar o bolo a meio;
- Rechear com as natas e os morangos a gosto;
- Montar o bolo, cobrindo-o com o resto das natas e dos morangos.

Notas
- O bolo deve ficar no forno mais ou menos 25 minutos, mas aconselho que, aos 20, façam o teste do palito, para garantir que não fica seco;
- Um pacote de natas é suficiente, mas podem acrescentar outro;
- Reduzo sempre ao açúcar. Portanto, coloquei uma chávena e meia, porque utilizei chocolate 100% cacau. Caso contrário, colocaria uma.

Fotografia da minha autoria



Tema: Identidade de Género

Avisos de Conteúdo: Saúde mental, Bullying, 
Suicídio, Homofobia, Violação, Violência


O nosso passado é um capítulo palpável da história que nos corre na pele, mas não tem de nos definir, nem tem de nos limitar, porque a perceção que temos de nós pode alterar-se e ninguém deveria sentir pressão para ser alguém com quem não se identifica. Sobretudo, quando persiste a consciência de se ter nascido no corpo errado. Portanto, atendendo a que o tema de maio para o projeto Ler a Diferença se centra na identidade de género, abracei o livro de Meredith Russo.

«Durante muitos anos estive do lado errado de demasiadas 
piadas, demasiadas partidas, demasiados confrontos»

Se Eu Fosse Tua é a primeira história que leio com uma protagonista transgénero. E saber que a própria autora também o é torna determinados pensamentos e hesitações mais contextualizados, pela sua pertinência e aproximação à realidade. Embora a narrativa não seja autobiográfica, creio que a experiência pessoal tenha tido peso no seu fio condutor. Deste modo, para todos os leitores cisgénero, isto é, que não são trans, é uma maneira de compreendermos melhor a luta da personagem principal, sensibilizando-nos para as suas vivências. Sem, no entanto, nos orientar num testemunho que parece uma verdade absoluta, uma vez que todos os casos apresentam contornos distintos.

«Seja o que for que não me consegues contar. - Fitou-me. - Vai ficar tudo bem»

Confesso, ainda assim, que este livro ficou um pouco aquém das minhas expectativas, porque senti falta de uma maior profundidade emocional e psicológica. Mesmo que esta mudança tenha sido desejada, não deixa de ser um processo complexo, moroso e com várias camadas. Por isso, faltou-me uma construção mais intimista, que me fizesse entender o verdadeiro impacto da situação, quer ao nível da aceitação individual, quer ao nível da gestão familiar. Em parte, é percetível, mas considero que a abordagem ficou demasiado superficial, desencadeando acontecimentos céleres, nos quais preferia ter permanecido mais tempo.

«Nunca iria libertar-me do passado»

Apesar de tudo, é inegável a importância de personagens com a voz de Amanda, pois faz-nos refletir sobre as questões de género, sobre o preconceito, sobre a discriminação. Em simultâneo, mostra-nos como a sociedade ainda não está preparada para normalizar esta caminhada e como é urgente investir em redes de apoio que auxiliem aqueles que se sentem perdidos, porque, aparentemente, não se encaixam nos padrões impostos por terceiros. No entanto, um dos aspetos que este enredo tem de mais bonito é que, contra todos os receios, há quem veja as pessoas por aquilo que elas são: seres humanos. E as respeite sem desculpas.

«(...) ao contrário da nódoa negra, a mágoa demoraria mais que alguns dias a passar»

Se Eu Fosse Tua é uma história sobre aceitação. É um retrato sobre a importância da verdade, da confiança e do diálogo. E, acima de tudo, inspira pela coragem de baixar as defesas para se permitir ser amada, porque, durante esta metamorfose, percebeu que é digna de todo o amor.

«O que podemos fazer?»


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Tema 27: Bicicleta + Café + Boca


Um café à janela
Que arrefece lentamente
Como um sonho
Na curva de um beijo trivial
Fotografia da minha autoria


Tema: Um livro que tenha sido proibido

Avisos de Conteúdo: Manipulação, Morte, 
Violência, Tortura, Cenas Explícitas


A proximidade entre a realidade e a ficção pode ser entusiasmante e angustiante, visto que há retratos sociais e políticos que não queremos viver, porque nos retiram o que temos de mais valioso: a liberdade. Além disso, não deixa de ser assustador, quando o poder cega os lideres, toldando a sua capacidade de comando. É por isso que usar a voz da literatura para expor estes contextos pode levar a que os exemplares sejam banidos. Exemplo disso é o livro de George Orwell.

«Era até concebível que observassem toda a gente em permanência»

1984 é uma crítica evidente aos regimes totalitários e às demonstrações excessivas de poder. E foi «imediatamente censurada nos Estados Unidos, por ser considerada pró-comunismo. Em contrapartida, na União Soviética, foi banida por ir contra o regime de Estaline». Atendendo a que o tema de maio para Uma Dúzia de Livros era livros proibidos, a minha escolha foi óbvia. Portanto, aventurei-me nesta narrativa intensa, que despoletou, em mim, sentimentos contraditórios.

«Quando não há testemunhos exteriores que possamos tomar como ponto 
de referência, até os contornos da nossa própria vida perdem nitidez»

O desenrolar da ação coloca-nos em confronto com inúmeras questões. Não só porque nos faz questionar comportamentos, valores e pensamentos, mas também porque demonstra o quanto somos falíveis e suscetíveis de sermos manipulados. Por outro lado, abre-nos as portas de um mundo que já não é assim tão distópico, no qual é notório que a obediência de um povo só acontece pelo medo que o mesmo sente. Assim, é necessário lutar pela sobrevivência. É preciso duvidar e resistir. Mal qual será o custo dessa atitude? E será que é uma opção viável?

«Nenhuma emoção era pura, pois em tudo se infiltrara o medo e o ódio»

Nesta viagem inter e intrapessoal, a mente humana revela-se um objeto de estudo fascinante, porque vamos desconstruindo limites, consentimentos e a empatia pelos nossos pares. Inclusive, opõe-se a emoção à racionalidade, porque o controlo é tão sufocante, que as pessoas parecem perder o foco de quem são, ocultando sentimentos e subjugando-se a algo, aparentemente, maior do que elas. E é neste clima de opressão que vamos refletindo sobre o privilégio de sermos livres - ainda que nos questionemos se o somos, ou não, na totalidade.

«Neste momento, não é viável qualquer forma de revolta física»

1984 coloca uma bandeira na democracia e no quanto é crucial o pensamento. Porque, sem ele, ficamos à mercê de terceiros. Estabelecendo uma ponte com o passado e servindo como um grito de alerta para o futuro, confesso que o final desiludiu-me. Entendo-o, mas acredito que aquele passo de resistência merecia outro desfecho.

«Como é que posso não ver o que tenho diante dos olhos?»


// Disponibilidade //

Wook: Livro | Outras edições
Bertrand: Livro | Outras edições

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«A música é a literatura do coração»


As pontes que se erguem entre várias artes permitem-nos compreender que não temos de caber em caixas unitárias, porque somos feitos de inúmeras paixões - e, inclusive, talentos. E ter a possibilidade de investir em cada uma delas deixa-nos mais completos. É por isso que é tão fascinante quando conhecemos artistas camaleónicos: porque não têm qualquer receio de explorar as vozes que habitam dentro do seu peito.

Acredito que as palavras nos movem. Sejam elas escritas ou cantadas. Portanto, entusiasma-me sempre que a literatura e a música estreitam os seus laços, levando-nos a conhecer escritores que também são músicos e músicos que encontram na literatura uma nova maneira de comunicar, uma vez que, no final, é esse diálogo que nos acrescenta.

Assim, cruzam-se as melodias e a escrita numa simbiose perfeita. E, para terminar esta homenagem aos nossos autores, viajamos por nomes que têm a sublime capacidade de interligar estes mundos artísticos.












Que escritores conhecem que também são músicos? 
E músicos que são escritores?

Fotografia da minha autoria



«Um livro é um sonho que tens nas mãos»


O meu compromisso com a literatura nem sempre foi consciente. Ou seja, investia numa determinada obra apenas pela sensação prazerosa de viajar sem sair do lugar, de conhecer novas histórias e personalidades, mesmo que só existissem naquele plano ficcional. Porque acredito que as nossas leituras podem assumir um caráter de puro entretenimento. No entanto, também fui compreendendo que as nossas escolhas têm muito impacto e aprendi a dar palco a essa voz.

Fotografia da minha autoria



«Recomendar um livro é uma receita»


A magia de nos perdermos no interior de um livro extrapola para o quanto se cola à nossa memória, quando chegamos ao final. E há poucas sensações tão reconfortantes como esta: sentirmos que um livro soa quase a um abraço apertado, porque nos deixa em paz; porque percebemos que também tem a capacidade de ser um porto seguro. Por essa razão, existe, em nós, uma vontade imensa de o recomendar a quem nos rodeia.

Tenho sempre bastantes reticências, no entanto, em afirmar que as pessoas deveriam ler determinado exemplar, uma vez que os nossos gostos e as nossas necessidades nem sempre combinam. Além disso, temos maneiras distintas de interpretar a mesma mensagem. E a verdade é que é esta pluralidade que torna o processo tão singular. Portanto, procuro aconselhar sem impor, pois acredito que é a postura mais correta e a que respeita melhor o espaço - literário - de cada um.

Se me perguntarem, ainda assim, quais os títulos que não podem deixar de descobrir, há nomes que me saltam do coração. Por isso, reuni dez de autores portugueses, porque tornaram a minha jornada mais especial.


POESIA, SOPHIA DE MELLO BREYNER


O mar embala Sophia, mas esta obra poética transcende para identidades múltiplas, de quem deambula pela morte, pelo sonho, pela exaltação, pela fragilidade, pela plenitude, pelo terror e pelas ruínas. Com versos de uma delicadeza e humanidade ímpares, é a natureza - enquanto elemento e enquanto caráter - que nos proporciona uma metamorfose emocional, partindo de um lugar íntimo, quase desconhecido, e compreendendo as dicotomias que nos correm por dentro. Tão sublime!


COMO É LINDA A PUTA DA VIDA, MEC


Miguel Esteves Cardoso é um dos autores que mais me inspira. Porque a sua escrita é pertinente e mordaz. Foge do politicamente correto. E sabe fazê-lo com inteligência e brilhantismo. No Entrelinhas #27, mencionei que li muitas das suas crónicas. O que fez com que a minha vontade de conhecer as suas obras fosse cada vez maior. E a minha primeira escolha foi, precisamente, o título que mencionei anteriormente. E aquilo que me cativou foi o seu lado mais familiar, intimista, que nos fala ao coração. O sarcasmo não é tão evidente. E há uma certa melancolia. Mas o lado tão próprio e genuíno de MEC continua a estar bem presente [Os Meus 7 Clássicos da Literatura].


PARA ONDE VÃO OS GUARDA-CHUVAS, AFONSO CRUZ


Abriga um mundo de histórias e de personagens com percursos distintos e, aparentemente, autónomos, mas que encontram uma forma de se interligarem. Tendo o Oriente como pano de fundo, através de efabulações e traços mais fantásticos, somos capazes de estabelecer uma ponte com o nosso quotidiano, porque todos procuramos algo na vida, mesmo que os nossos contextos divirjam. Além disso, é o retrato fiel do «equilíbrio desequilibrado» do universo, que nos coloca à prova e nos leva a reconsiderar decisões e a ponderar uma maneira de quebrar as barreiras que ainda envolvem o ser humano [Alma Lusitana].


FÓSFOROS E METAL SOBRE IMITAÇÃO 
DE SER HUMANO, FILIPA LEAL


Este livro é um misto de conselhos para quem entra nos quarenta e uma exposição de escultura, mantendo um tom despretensioso, sarcástico e bastante relacional. Porque, com honestidade, equilibra aspetos do quotidiano com experiências pessoais e familiares. E, assim, deambulamos por fragmentos da sua infância e sentimentos mais atuais, proporcionando-nos uma leitura intimista, que facilmente se cola à nossa pele - mesmo que a descubramos num sopro [Alma Lusitana].


A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS, VALTER HUGO MÃE


Escrita em minúsculas, numa clara utopia de igualdade, parte da vida de um barbeiro reformado para nos impulsionar a refletir sobre conceitos que nos transformam, durante o nosso crescimento: família, amizade e compromisso. Além disso, atribui voz à velhice, à solidão e ao luto. Através de um discurso poético, é impensável não ponderarmos o que nos reservará o futuro e quais as implicações de certas perdas: sejam elas referentes a um cenário de autonomia, sejam elas referentes à morte de alguém que é tudo para nós. Porque cada uma delas dilacera à sua medida, condicionando uma parte do nosso presente [Entrelinhas].


PARA ONDE VÃO AS MEIAS QUE DESAPARECEM?, MARGARIDA PORTO


A audácia de escutarmos o coração, numa história infantil que deve ser lida por todos. Porque a autora teve a originalidade e a sensibilidade de partir de um mistério presente em todas as casas, para despertar a nossa atenção e destacar uma série de valores imprescindíveis. Mostrando o quanto o amor e a amizade nos moldam, compreendemos que ser colo e aprender a deixar voar são duas demonstrações de afeto que nos aconchegam. Além disso, é uma narrativa que nos incentiva a confiar nas nossas capacidades, pois tornam-se numa ponte para descobrirmos estradas maravilhosas. Ri-me e emocionei-me com as aventuras que nos esperam, porque há magia dentro destas páginas.


DEBAIXO DE ALGUM CÉU, NUNO CAMARNEIRO


É um livro bastante especial. E, por algumas horas, senti-me a viver dentro deste prédio, que funciona como purgatório, permitindo-nos descobrir uma mensagem muito mais profunda. Ainda que o enredo se situe «numa cidade da província», podemos encontrá-lo ao virar da esquina. E, se calhar, até já habitamos nele [Entrelinhas].


RACISMO NO PAÍS DOS BRANCOS COSTUMES, 
JOANA GORJÃO HENRIQUES


A autora é jornalista, branca, ciente dos seus privilégios e sem a pretensão de falar pelos outros. No entanto, a sua consciência social fá-la querer servir de plataforma, como a própria refere, «para um grupo heterogéneo de pessoas que é alvo de discriminação a vários níveis». Embora esta obra parta de uma série de reportagens publicadas no jornal Público, em 2017, continua a ser atual e a evidenciar o mito do não-racismo. Assim, baseada em histórias reais, é revoltante a dualidade de critérios, o desrespeito e os obstáculos acrescidos, porque a cor ainda influencia o acesso aos direitos humanos. Cru, objetivo e conciso, Racismo no País dos Brancos Costumes mostra a urgência de expormos casos como aqueles que são escritos, porque, enquanto não mudarmos a estrutura, o problema continuará irreversível.


PECADOS SANTOS, NUNO NEPOMUCENO


Um thriller alucinante. Iniciei a obra curiosa, mas tentei não elevar as expectativas. E a verdade é que fui envolvida numa viagem surpreendente. Porque a cadência dos atos e os seus simbolismos prendem-nos, ao mesmo tempo que nos levam a refletir sobre as ligações interpessoais, a religião e o extremismo das nossas crenças. Para além do mais, com uma escrita rigorosa, o autor teve a sensibilidade de expor e explorar factos bíblicos sem tornar a leitura pesada e desconexa. Pelo contrário, tornou a descrição bastante apelativa e contextualizada. A certo ponto, naturalmente, somos incentivados a formular hipóteses, mas creio que nada nos encaminha para o desfecho. Deambulando entre o passado e o presente, há um ritmo misterioso e frenético que nos abraça e nos perturba, deixando-nos perplexos com as reviravoltas que a vida nos reserva e, sobretudo, com o quanto estamos longe de conhecer certas pessoas. Afinal, todos temos telhados de vidro e não imaginamos os laços que unem histórias [Alma Lusitana].


ESTAR VIVO ALEIJA, RICARDO ARAÚJO PEREIRA


É uma obra que podemos ler num sopro ou ir descobrindo aos poucos. Alia conhecimentos plurais e imaginação. E transparece uma postura de autocrítica, convidando-nos a rir de todas as incoerências que encontramos em nós e no mundo - sobretudo, no mundo. Ricardo Araújo Pereira não procura ajudar-nos a compreender aquilo que nos rodeia. Fornece-nos, antes, a melhor arma que podemos possuir: o sentido de humor. Talvez, assim, a vida aleije menos [Uma Dúzia de Livros].


Quais são os livros que recomendam de olhos fechados?

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andreia morais

andreia morais

O meu peito pensa em verso. Escrevo a Portugalid[Arte]. E é provável que me encontrem sempre na companhia de um livro, de um caderno e de uma chávena de chá


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