ALMA LUSITANA ◾ BRAGANÇA:
O FUNERAL DA NOSSA MÃE

Fotografia da minha autoria



Tema: Um livro de/sobre famílias

Avisos de Conteúdo: Suicídio, Morte, Referência a Abuso Sexual, Linguagem Explícita


A família é a minha fortaleza e, por isso, aprecio narrativas que se concentrem nestes elos, desconstruindo as suas dinâmicas, os seus dramas e os laços que os unem, porque considero interessante compreender como é que, dentro de quatro paredes, as pessoas se relacionam. Mesmo que a narração seja ficcional, há histórias e memórias para partilhar. E no livro da Célia Correia Loureiro encontramos um ambiente familiar muito peculiar.


OS SEGREDOS DO PASSADO

O Funeral da Nossa Mãe tem uma premissa intrigante - três irmãs juntam-se para o enterro da mãe e, «a seu pedido, vão esmiuçar os segredos» do passado. No entanto, a minha ligação à narrativa tornou-se demorada, talvez por não ter estabelecido um vínculo profundo com as personagens. Embora conseguisse compreender alguns comportamentos - e compreender que todos temos uma forma própria de lidar com a perda e com o processo de luto -, faltou-me um traço mais emotivo, que me aproximasse destas irmãs tão distintas entre si.

«As palavras que lhe chegaram não foram proferidas com tato»

A escrita da autora é maravilhosa e ressalvo que o enredo tem imenso potencial. Ainda assim, senti que, por vezes, se perdeu em descrições demasiado longas, com ideias repetitivas e assuntos que não acrescentaram muito à ação. Inclusive, houve aspetos que me pareceram um pouco incongruentes: com o local, com a época e com a personalidade dos protagonistas. Por oposição, creio que um dos pontos chave desta história prende-se com o facto de não existirem personalidades modelo, quase perfeitas. Muito pelo contrário, mostra-nos a humanidade que as fez errar, silenciar medos, ocultar sentimentos e tomar decisões delicadas em prol dos seus futuros. E, por esse motivo, acabamos a refletir sobre o quanto podemos desconhecer aqueles que estão próximos de nós. Afinal, todos temos telhados de vidro e o passado nem sempre fica onde deveria permanecer.

«Uma mulher que chora daquele modo, tem de amar»

A narrativa transporta-nos para uma aldeia do Alto Alentejo e, curiosamente, só fui capaz de desbloquear na leitura quando fui passar uns dias à aldeia da minha tia. Apesar de não estarem próximas - a nível geográfico e nas suas características -, penso que foi o ambiente em si que me permitiu dar forma às pessoas e aos momentos, sendo capaz de validar certos aspetos e de retirar mensagens tão sublimes e fascinantes.

«- Tens razão, mas ninguém vai condená-la. Cada pessoa cura as suas dores como pode»

O Funeral da Nossa Mãe é sobre amor e sobre o quanto podemos magoar e sair magoados de vários tipos de relacionamento. Abordando dramas familiares e famílias disfuncionais, compreendemos que existem muitos segredos por desvendar e pontas soltas. Preferia um final fechado, mas é um livro que vale a pena pelos temas centrais e por demonstrar que a Célia tem o que é necessário para ser uma ótima contadora de histórias.

14 Comments

  1. Já ouvi falar muito do trabalho da Célia, mas ainda não fiquei atraída a ler as suas obras.

    Vou levar a sugestão.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Aconselho imenso o Demência, porque é um livro extraordinário!

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  2. Quero muito ler pois nao consegui ir ao funeral da minha mae que morreu no inicio da pandemia :(

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  3. Que ainda não conhecia de todo, mas acho que acaba por ser mais uma boa sugestão para fazer
    Beijinhos
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    Tem Post Novos Diariamente

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