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INCONFIDÊNCIAS ◾ CONTAS DE BOOKSTAGRAM DE ELITE E OSCILAÇÕES DE MOTIVAÇÃO

by - outubro 18, 2022

Fotografia da minha autoria



«O livro é uma extensão da memória e da imaginação»


Os meus olhos brilham com mais intensidade quando escrevo e converso sobre livros. Aliás, sinto que sou mais criativa ao pensar em conteúdos desta natureza - ou, pelo menos, a predisposição alinha-se nesse sentido. Contudo, também sei que não seria totalmente feliz, caso tornasse as minhas plataformas restritas a um tema. Por esse motivo, mantenho-me reticente à criação de um bookstagram [Instagram dedicado a livros].

O conceito em si entusiasma-me e, confesso, ponderei criar uma conta para o Estante Cápsula/Alma Lusitana, por privilegiar uma dinâmica muito mais próxima. Embora não tenha descartado esta hipótese por completo, existem certos aspetos que enfraquecem a vontade de avançar: a começar pelo facto de sentir que se perde demasiado tempo a dar palco a dramas que em nada nos acrescentam. E eu gosto de deambular por rotas que me desafiem e estimulem a retirar o melhor de cada partilha, de cada convivência - em rede ou fora dela.

Como se todas as outras polémicas não tivessem sido suficientes, cruzei-me com mais uma: contas de elite.


SERÁ O BOOKSTAGRAM UMA PLATAFORMA DE ELITES?

Defendo sempre um pensamento: não são as redes sociais que são mais ou menos inclusivas, mais ou menos empáticas, mais ou menos reais, somos nós. Estas ferramentas sociais apenas têm o poder de o espelhar, de o tornar mais evidente para todos aqueles que nos rodeiam. Pelo mesmo princípio, não considero que o bookstagram, enquanto nicho, seja elitista. Considero, isso sim, que existem utilizadores que o são. E como é essa a sua essência, ela manifestar-se-á em qualquer área das suas vidas e não em exclusivo no digital.

É natural que algumas contas, pela dedicação e pelo trabalho desenvolvido, estejam mais presentes no nosso ângulo de visão ou que acabem por ser uma escolha segura para eventuais parcerias. Na minha perspetiva, isso não se enquadra no elitismo [mas posso estar errada], creio que é mais uma consequência por tudo aquilo que produzem, pela maneira como comunicam e pela quantidade de seguidores/interações que registam, porque isso tem bastante peso. É nesta consistência que se criam afinidades, que se estreitam laços e que, verdade seja dita, se constrói um nome na comunidade. Depois, importa ter presente o propósito do projeto.

Eu tenho um Instagram por lazer, mesmo que me preocupe em criar conteúdo com regularidade e pertinência, publicando, sem pretensões de maior, o que me entusiasma e que pode, porventura, revelar-se interessante para quem me acompanha. Por outro lado, há pessoas que encaram esta plataforma com outra propriedade: ou porque se querem dedicar a um tema específico ou porque procuram experimentar alternativas profissionais. Qualquer uma das posturas é válida, não podemos é faltar ao respeito, nem enveredar por um caminho de comparações e exigências, porque nunca obteremos os mesmos resultados. E, ao mergulhar nesta polémica, fiquei com a impressão de que há quem queira misturar tudo no mesmo compartimento.

O retorno é algo que leva o seu tempo. E, a não ser que já tenham uma presença online sólida, demorará até alcançarem reconhecimento. Claro que isto é tudo menos linear, mas não podemos esperar que, com um estalar de dedos, sejamos vistos e considerados. Numa troca de opiniões recente, alguém comentou que o poder de compra tinha influência, atendendo a que permite ter acesso a mais recursos e, por isso, implicar uma maior produção de conteúdo. Em parte, concordo, mas não acho que seja uma consequência tão direta. Reparem, eu posso não ter capacidade financeira para estar sempre a adquirir obras literárias, mas continuam a existir bibliotecas públicas, que podemos frequentar e nas quais é possível requisitar livros. Além disso, o conteúdo literário não tem de se restringir à partilha de uma opinião sobre uma história em específico. Por outro lado, estar sempre a comprar livros não significa que esteja sempre a ler e, muito menos, que tenho predisposição para pensar em conteúdos dentro deste género. Portanto, existem muitas áreas cinzentas.

Reforço: não sinto que o bookstagram, na sua génese, seja feito de elites. Sinto, e perdoem-me se estiver a ser injusta, é que há vários leitores [ou supostos amantes de leitura] à procura de fama e de artigos gratuitos - e que acreditam que há fórmulas secretas para obterem sucesso. Logo, em vez de se dedicarem a construir a sua identidade e a produzir com qualidade e originalidade, seguem tudo o que aqueles que consideram elites fazem. Como os resultados, no final, divergem, manifestam frustrações com estas verdades nada absolutas.


OSCILAÇÕES DE MOTIVAÇÃO

Eu sei que existem ocasiões em que a nossa motivação oscila, que o desencanto se torna mais forte, porque parece que nada do que fazemos é relevante; e também sei que magoa quando nos dedicamos de alma e coração a uma iniciativa e o retorno se afigura mínimo, sobretudo, se criadores de conteúdo mais conhecidos abordarem o mesmo conceito e a reação for de entusiasmado por parte dos diferentes públicos. Mas isso é a lei da vida, porque faz parte de um processo maior, no qual a afinidade tem uma palavra preponderante.

Não vou estar com hipocrisias, é claro que senti isso com o Alma Lusitana. É um projeto em que acredito e, por isso mesmo, entristece-me verificar que passa despercebido e que outros com um propósito semelhante tiveram uma maior recetividade. Só que isto não faz parte de uma teoria da conspiração elitista, é o resultado de muitos fatores, que me envolvem e que dependem dos gostos de terceiros. E é nesta fase que me obrigo a parar e a pensar no seu propósito. Posteriormente, liberto-me da neura e penso no quanto é bom nascerem projetos que apoiem os nossos. Que bom que é ver que há vozes que se elevam e conseguem chegar mais longe. Porque, no fundo, o mais importante é isso: conversarmos sobre livros e leva-los além-fronteiras.

Se vos parece que uma conta não merece o reconhecimento que tem e que privilegia esse aparente elitismo, então, usufruam de uma das ferramentas mais valiosas das redes sociais: o deixar de seguir. Tenho plena noção de que isto soará a um lugar comum, mas não se demorem onde não se sentem bem. Além disso, não permitam que momentos de desmotivação toldem o vosso discernimento. Porque estarem constantemente a alimentar este género de polémicas só demonstra o quanto querem pertencer a esses grupos que rejeitam.

Nem tudo é magia e pó de fadas. Nem tudo é um jogo de interesses, para ver quem se torna relevante no meio. Preocupem-se, antes, em edificar o vosso percurso com os alicerces certos e em rodearem-se de pessoas que vos inspiram, valorizando o seu trabalho sem segundas intenções. E falem sobre livros, sem deixarem que os dramas se sobreponham ao que esta comunidade tem de enriquecedor: o amor à literatura.


OITO BOOKSTAGRAMMERS A TER EM CONTA























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10 comments

  1. Ainda ontem vi uma autora abordar este tema. Partilho da tua opinião. O bookstagram deve ser criado pelo puro prazer de falar de livros, quando esse objetivo começa a falhar, as coisas podem perder o sentido.
    Eu segui uma pessoa que tinha bookstagram que usava as minhas redes sociais para criticar o facto de eu ler obras do José Luís Peixoto ou do João Tordo, só porque essa pessoa lê obras de autores jovens, muitos deles do seu circulo de amigos. O facto de eu ler obras desses autores, não quer dizer que não leia obras de autores jovens. Enfim...

    Beijinho grande, minha querida.

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    1. Acredito muito nisso. Aliás, acho que os nossos projetos, sejam eles de que natureza forem, devem partir dessa base, porque se não o fizermos pelo entusiasmo que despertam em nós, então, vamos acabar por desmotivar muito rápido e procurar um propósito que não é o mais indicado.
      A sério? Não faz sentido! Defendo que devemos fazer leituras diversificadas, inclusivas, que nos alarguem horizontes, mas se só lesses José Luís Peixoto ou João Tordo era uma escolha tua e não tens de ser criticada por isso. Vistas bem as coisas, podias fazer o mesmo com ela, ao criticá-la por só ler obras do seu círculo de amigos.
      Há algo valioso: o respeito. E, infelizmente, parece que há quem tenha falhado nessa aprendizagem

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  2. Obriga pela partilha e se te sentes à vontade neste meio porque não seguir em frente?
    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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    1. Honestamente, acho que só não avanço porque não gosto de me restringir a um único tema. Adoro escrever sobre livros, mas não quero uma plataforma em que fale apenas sobre livros

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  3. Nem sei o que diga, ando completamente a leste sobre esta polemica, apenas vi os stories do Diogo Simoes e concordo completamente com ele. Leio por por gosto e por prazer, e tenho completa abertura por novas sugestoes. So acho que hoje em dia as pessoas perdem demasiado tempo com mesquinhices quando deviam tirar o maximo partido da vida e das coisas *.*

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    1. Há muitas que me passam ao lado, esta acabei por ver por causa das partilhas da Elga Fontes [Quem Me Lera] e fico mesmo com pena que algumas pessoas desvirtuem o lado bonito de certos projetos, nichos, plataformas. Era tão melhor se nos concentrássemos no mais importante

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  4. Posso dizer que não conhecia nenhuma das contas que acabou por partilha, mas nem sempre é fácil partilhar só um tema visto que gostamos demais alguns.
    Beijinhos
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    1. Verdade, por isso é que ainda não me aventurei em algo do género

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  5. Sigo algumas destas contas e gosto muito do conteúdo.

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