ESTANTE CÁPSULA
MAUS, ART SPIEGELMAN

Fotografia da minha autoria



«A história de um sobrevivente»

Avisos de Conteúdo: Holocausto, Suicídio, Depressão, 
Saúde Mental, Tortura, Linguagem Explícita


A minha viagem pelo mundo das novelas gráficas é relativamente recente e tem sido espaçada. Ainda assim, descubro sempre camadas surpreendentes nestas «histórias aos quadradinhos» e a última que li desarmou-me por completo, porque Art Spiegelman partilhou uma abordagem particular em relação ao Holocausto.


MEMÓRIAS A PRETO E BRANCO

Maus é um testemunho intimista e verídico, centrado na vida do pai do autor, que sobreviveu aos horrores de Auschwitz, divididos entre perseguições, racionamento, tortura e uma ausência plena de direitos. O massacre dos campos de concentração deixou marcas permanentes e são essas que revisitamos ao longo da história.

«Esperemos que seja verdade. Tenho medo de que nunca consigamos sair daqui»

O livro é composto por duas partes, com personagens construídas através de um processo de efabulação exímio e com um traço caricatural. No entanto, é uma narração dura, inesquecível, que nos revolta pela desumanidade gritante. Por essa razão, nenhuma palavra fará justiça ao cenário descrito, sobretudo agora, que podemos lê-lo num lugar confortável, sem sentirmos na pele os traumas e a necessidade de resistir.

«Mas eles não teriam ajudado mesmo se não pudesse pagar? Afinal, eram da mesma família...»

O sofrimento é identificado com facilidade e, para além dos relatos sobre Vladek Spiegelman, é interessante compreender como é que as suas vivências passadas influenciam as relações familiares e a própria vida do filho. Portanto, nesta leitura, verificamos como é frágil o elo entre eles, como consegue ser tão inconstante e, até, distante. Por outro lado, é um quadro das consequências do pós-guerra e das sombras da segregação.

«Comecei a acreditar. Sabes, ele deu uma nova vida a mim»

O cartoonista encontrou nesta obra uma maneira segura de expiar fantasmas e de desconstruir as suas memórias: a preto e branco, para respeitar a carga emocional histórica e humana. Em simultâneo, foi impressionante ver como existe uma certa transferência de culpa, como os remorsos são tão castradores.

«Eu preferia matar-me a passar por tudo aquilo»

Maus descobre-se num sopro, mas é um livro desolador e catártico. Sem qualquer omissão, os retratos são crus e levam-nos a questionar se aqueles que conseguiram sobreviver não se terão perdido para sempre.


🎧 Música para acompanhar: Never Again, Stephen Melzack


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Comentários

  1. Desconhecia este livro. Apesar de abordar uma fase negra da história, fiquei curiosa para ler. Não leio muitos livros sobre o Holocausto, mas apostaria neste, por ser um testemunho tão pessoal.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. É um livro valioso, não só por se focar no Holocausto, mas também por todos os temas que explora em paralelo; e é mesmo interessante compreender como é que este período afetou a própria relação entre pai e filho. Aconselho muito!

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  2. Já vi e ouvi muito sobre este livro, mas ainda não li.

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    1. Sou suspeita, porque gostei bastante, mas é extraordinário

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  4. Quero muito ler *.* Esta no meu carrinho de compras da Amazon :)

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  5. Que ainda não tinha ouvido falar desse livro, mas vou levar mais um vez a sua sugestão
    Beijinhos
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    Tem Post Novos Diariamente

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  6. Respostas
    1. Aconselho muito, foi uma surpresa extraordinária
      Obrigada e igualmente!

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