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Fotografia da minha autoria |
O problema das expectativas é que nem sempre as conseguimos calibrar para não sairmos defraudados. Depois de ter adorado a loucura d' As Primas, esperava encontrar, pelo menos, o mesmo nível de envolvimento com o livro que me faltava ler de Aurora Venturini, apesar de saber que esse enredo era anterior, só que a experiência não correspondeu ao desejado.
uma carência gritante
A Família Caserta é uma narrativa cheia de incertezas, mistério e um traço esotérico. Através da voz de Maria Micaela Stradolini, mais conhecida por Chela, mergulhamos na biografia desta família disfuncional, porque ela decidiu explorar um baú de papéis e fotografias, como se de um tesouro perdido se tratasse, e, assim, fazer-nos compreender o que escondem aquelas memórias, o que se passa - e passou - dentro daquelas quatro paredes. Neste romance, «ambientado na alta burguesia argentina dos anos 1920», rapidamente compreenderemos que os seus problemas são de natureza emocional e, sobretudo, de um lugar de carência.
O mais curioso é que, durante o período que retrata a infância e o início da adolescência da protagonista, senti que poderia vir a gostar ainda mais desta história: a construção das personagens pareceu-me mais profunda, a própria narrativa apresentou-se mais sombria e mordaz, inquietando-me pela negligência, pelos comportamentos que se repetem pela observação, pela rejeição e pela necessidade de trazer alguma estabilidade às ausências. No entanto, foi-me perdendo, porque sinto que perdeu a coesão.
«E o diminutivo emociona-me. Choro. Mas o médico não repara, pois a minha doença produz lágrimas. Mas eu sei que choro pela novidade de uma ternura»
Gosto da escrita e da capacidade que a autora tem de explorar aquilo que é «feio para falar [de] amor», mas não me cativou o uso excessivo de realismo mágico. Aliás, se tivesse surgido de um modo gradual, acredito que tivesse outro impacto e permitisse explorar, por exemplo, o delírio com outra profundidade. Assim, fica a sensação de que os temas ficaram ofuscados por um fogo de artifício que acrescentou pouco ao enredo.
A Família Caserta mostra-nos que há imensas sombras que nos habitam e que, por vezes, é difícil libertarmo-nos da imagem que os outros construíram a nosso respeito. Explorando, ainda, tópicos como a redenção, o perdão, a procura por liberdade e os conflitos entre aqueles que nos deveriam proteger e ser os primeiros a amar, confesso que não resultou comigo.
notas literárias
- Gatilhos: Referência a suicídio
- Lido entre: 2 e 3 de maio
- Desafio: 5 autores para 2025
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Pontos fortes: O início da história e o tom de mistério
- Banda sonora: Best Of Mozart (playlist) | Beethoven: Symphony No.5, Ludwig van Beethoven, Kurt Masur & New York Philharmonic | La Violetera, Sara Montiel, Juan Quintero & Greg Segura
4 Comments
Não conhecia! :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Sinto que não perdes muito 🫣
EliminarMais uma sugestão para levar em conta.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Boas leituras!
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