![]() |
Fotografia da minha autoria |
Uma das mais recente aposta audiovisual da RTP faz-nos recuar a 1943, quando Portugal se declara neutro na Segunda Guerra Mundial. No entanto, numa ilha isolada de Aljezur, a realidade é diferente. Com vários ataques aéreos a acentuarem o medo, até porque a população ainda lida com um passado marcado pela bruxaria, há um tom sombrio a surgir nas entrelinhas, que nos faz questionar as verdadeiras motivações das pessoas.
Finisterra cruza, também, a história de Celeste, orfã de uma família herege e acusada de ter herdado o mesmo mal que provocou tantas tragédias. Inevitavelmente, acaba por ser expulsa do lugar que a viu nasceu e isso impulsiona-a a procurar por respostas, quer em relação à morte dos pais, quer para se conseguir vingar de todos os que a condenaram sem provas, sem misericórdia, sem lhe reconhecer qualquer humanidade.
impressões depois de assistir ao primeiro episódio
É num misto de desconfiança, superstição, mistério e resistência à opressão que o argumento se constrói, colocando a descoberto vários segredos. Longe de tudo, há coisas inexplicáveis - serão elas alucinações ou feitiçaria? - e que assumem proporções incontroláveis, uma vez que o silêncio tem peso. Aliás, sem sermos capazes de ler as intenções daquele povo, torna-se evidente que algumas situações têm de permanecer ocultas, já que as consequências poderão ser ainda mais nefastas do que imaginamos.
O primeiro episódio deixou-me intrigada e a sentir que, acima de tudo, existe uma grande incompreensão em relação à protagonista. Estarei atenta aos seguintes, para descobrir até onde é que esta história nos levará, quais os caminhos que nos reservará. Além disso, achei interessante que terminasse com testemunhos reais, ajudando-nos a identificar quais as partes desta história são um reflexo fidedigno do nosso passado.
considerações finais sobre a série
O segredo da Segunda Guerra em Aljezur foi sendo revelado num jogo de sombras, até porque era do interesse de Salazar mantê-lo encoberto. Ainda assim, há coisas que não se conseguem esconder por muito tempo, atendendo a que a falta de explicação para determinados acontecimentos pode levantar mais suspeitas do que seria desejado.
Finisterra levanta-nos o véu sobre a dimensão desse segredo e, sobretudo, sobre a caça às bruxas ocorrida em 1929. Por esse motivo, sinto, a série oscila sempre entre aquilo que nos parece credível e uma espécie de encantamento mórbido, mantendo-nos presos à dúvida. Ademais, existe sempre um confronto entre a ciência e as crenças. Num lugar onde a verdade aparenta ser moldável e moldada a cada necessidade, é curioso como há histórias que resistem na comunidade, continuando a ter poder.
O misticismo da terra, a força das superstições, o papel da mulher diminuto, sempre associado aos problemas que surgem, e o fascismo que vai subindo de tom são temas que se cruzam ao longo dos episódios. Não obstante, creio que é o medo - sobretudo, do desconhecido - o fio condutor. Por baixo de todas as ordens gritadas em praça pública, de todas as certezas que se pretendem transmitir, vamos compreendendo que é a cultura do medo que impera, porque ninguém sabe o que esperar daqueles tempos.
Enquanto o horizonte lhes apresenta uma certa realidade, há quem lhes sussurre que o que veem não passa de uma distorção. A viver nos confins do mundo, sem acesso a informação fidedigna, em quem é que estas pessoas vão acreditar? Onde é que reside a força de questionar, de colocar em causa, de exigir respostas concretas? E é deste medo e ingenuidade que se vão alimentando os poderosos, criando bodes expiatórios.
Finisterra tem um caráter ambíguo e, admito, não estou certa de ter entendido todas as suas camadas. Por outro lado, esse talvez seja um dos seus traços mais valiosos, uma vez que nos transporta para a energia daquela época e para o que a população pode ter sentido. Independentemente disso, achei muito interessante o seu retrato, a crítica que se desenha nas entrelinhas e a tentativa de quebrar os vários ciclos de violência.
O argumento «está liberto das amarras da verdade histórica», ainda que se baseie em factos reais, ainda que explore partes da identidade do nosso país. Permitindo essa liberdade criativa, acaba por explorar outras ramificações, muitas delas centradas na parte sociológica, na imagem que os outros assumem de quem somos. Celeste, para muitos, era a personificação da heresia e isso confronta-nos com outra questão: será o mal produto de uma só face ou será que, oculto em falsas verdades, nunca se revela?
Existem pontos nesta série que continuam pertinentes tantos anos depois. Por isso, foca-se no pensamento crítico e na importância de irmos refreando «a necessidade de aderirmos cegamente a qualquer dogma vigente». Finisterra grita o fim dessa cegueira.
6 Comments
Vou guardar a sugestão para ver mais tarde. Fiquei muito curiosa.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Sinto que é algo diferente do que têm apresentado 🥰
EliminarParece ser uma trama instigante e marcante. Fiquei curioso em assistir.
ResponderEliminarBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
Jovem Jornalista
Instagram
Até mais, Emerson Garcia
Aconselho! Traz perspetivas muito interessantes
EliminarTenho de terminar de ver... assustador como estivemos tao perto da guerra e revoltou-me saber que existem corpos de soldados nazis sepultados no nosso territorio. Das partes que mais gostei foram os tesstemunhos no final de cada episodio... Da que pensar e muito e eu gosto tanto disso.
ResponderEliminarSinto que os testemunhos nos ajudam a ter uma noção maior da situação e a filtrar o que, de facto, aconteceu e de que forma. Há muitas partes do nosso passado que não conhecemos, por isso, sinto que este género de conteúdos nos ajuda também nesse sentido, sem perder o traço de entretenimento
Eliminar