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Fotografia da minha autoria |
A minha viagem pelos livros de Emily Henry está a entrar na reta final — já só me falta o mais recente. Ainda assim, creio que descobri um dos meus favoritos da autora, a par de Pessoas Que Conhecemos nas Férias.
a metamorfose das amizades
Lugar Feliz leva-nos até ao Maine, onde Harriet e Wyn «têm passado todos os verões da última década juntamente com o seu grupo de amigos». Até aqui, tudo parece perfeito, tal como o casal que se conheceu na universidade, o problema é que este regresso os obrigará a alimentar uma mentira: é que Harriet e Wyn estão separados há alguns meses, mas ninguém sabe, por isso, terão de fingir que está tudo bem só para não estragarem o ambiente — e uma semana que se espera maravilhosa.
A proposta intrigou-me logo, até pelo facto de se distanciar do típico «enimies to lovers». Além disso, fez-me mergulhar numa alternância entre passado e presente que contrasta lugares felizes e lugares tristes. Embora todos nós precisemos de encontrar os primeiros, é inevitável passarmos pelos segundos e não há propriamente um tempo fixo para essa travessia. Aliás, como se compreende com o avançar da narrativa, há muitos picos entre esses pólos.
Tendo em conta o género de livro que é, vamos percebendo qual é o desfecho que nos espera, mas acredito que a autora construiu muito bem o caminho até lá, tornando credíveis as decisões das personagens e permitindo-nos refletir sobre temas que vão para lá do amor romântico.
«As minhas melhores amigas ensinaram-me um novo tipo de silêncio, a quietude calma de nos conhecermos tão bem umas às outras que não havia necessidade de preencher o espaço. E um novo tipo de barulho: ruído como celebração, o transbordar da alegria por estarmos vivas, aqui, agora»
Vou evitar desenvolver os motivos, para não estragar a experiência de leitura, mas fiquei rendida à forma como abordou a metamorfose das amizades, a importância de as nutrirmos sem perdermos a noção de que haverá mudanças, que entram em fases distintas quando chegamos a adultos, porque cada um dos elementos tem de lidar com diferentes circunstâncias/sentimentos/emoções. E isso, por mais que tentemos controlar, foge sempre do nosso alcance. Ficamos é com duas opções: ou permitimos que a corrente nos distancie ou aprendemos estratégias para crescermos nesse compasso.
Este grupo de amigos conquistou-me desde o início e, sendo honesta, acho que me revi um pouco em todos eles, mas mais em Harriet e na sua tendência para não querer sobrecarregar os outros com os seus problemas e as suas angústias. E isso foi um dos pontos que me fez refletir sobre a amizade, porque não se trata de sobrecarregar, trata-se de não termos de carregar o peso do mundo sozinhos. Hoje, podemos ser nós a precisar desse colo, amanhã podemos ser nós a dá-lo, é nessa dualidade que a amizade se constrói, se regenera, se torna no nosso porto seguro.
Lugar Feliz mostrou-me que não estarmos no mesmo lugar não tem de ser mau. Talvez seja assustador, até pela noção do que podemos perder, no entanto, há tanto que se pode conquistar a seguir. Há sempre dinâmicas que se alteram e, ainda assim, conseguimos encontrar pontos de felicidade, geográficos ou em pessoas. Ademais, Emily Henry voltou a mostrar o quanto é importante comunicarmos e sermos sinceros com os outros, porque, por mais que nos conheçam bem, não adivinham o que nos vai por dentro.
notas literárias
- Gatilhos: Luto, saúde mental
- Lido entre: 11 e 12 de agosto
- Formato de leitura: Digital
- Género: Romance
- Personagem favorita: O grupo (porque as suas dinâmicas potenciaram imensas reflexões)
- Banda sonora: Vacation, GoGo's | Mmm Mmm Mmm Mmm, Crash Test Dummies | Love is a Battlefield, Pat Benatar | Goodbye Earl, The Chicks | Dancing In The Dark, Bruce Springsteen
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