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Fotografia da minha autoria |
A vontade de regressar à escrita de Ann Patchett, que me impactou tanto com A Casa Holandesa, já se fazia sentir, mas fui adiando, porque achei que a leveza de agosto combinaria melhor com a narrativa que tinha na estante.
um regresso ao passado
Verão no Lago faz-nos recuar à primavera de 2020, quando, em plena pandemia, «as três filhas de Lara regressam ao pomar da família no Norte do Michigan». Unidas na apanha da cereja, encontraram o pretexto ideal para que a mãe lhes contasse a história da sua juventude, sobretudo a parte em que conheceu Peter Duke, um ator famoso por quem se apaixonou enquanto integraram a companhia de teatro Tom Lake.
A perspetiva de mergulhar numa história de família cativa-me sempre, porque acho que é uma forma bonita de conhecermos o passado das nossas pessoas, quando as temos por perto, lúcidas e predispostas a partilhar. E, neste caso em particular, fascinou-me a forma tão serena e generosa com que Lara conduziu a narrativa. Além disso, foi interessante perceber a visão tão própria de cada personagem perante as mesmas situações.
Embora não seja parte do enredo, senti que estava com elas na quinta a ser surpreendida pelas decisões que somos obrigadas a tomar, a redescobrir quem sou, a refletir sobre dinâmicas familiares e o peso dos nossos sonhos — os que concretizamos e aqueles dos quais temos de abrir mão. E adorei perceber que uma história de amor abriu tantas portas e que nos envolveu em tantos cenários dignos de análise.
«O seu interesse pelo que dizíamos tornava-nos interessantes, encobria os nossos défices. Eu sentira falta de nós os quatro e de todos os sítios onde tínhamos estado juntos»
Ann Patchett, com a sua escrita melódica, equilibrou muito bem a travessia entre o presente e o passado, recuperando mágoas e apaziguando feridas, mostrando que há sempre várias camadas dentro da mesma história e que as pessoas nem sempre correspondem à imagem que criamos delas, mas sem a necessidade de construir vilões. Acho que não tenho palavras que descrevam com justiça a sensação que tive durante a leitura, mas achei a narrativa mais madura, de quem nos conta os factos em paz.
Verão no Lago tem um ritmo um pouco mais lento, mas envolvente. Os momentos finais destroçaram-me e colaram os caquinhos, porque a vida pode ser esta dualidade que nos tira o tapete e nos reveste de futuro. Viveria mais tempo nestas páginas, não obstante, sei que há detalhes que ficarão para sempre colados à minha pele.
notas literárias
- Gatilhos: Álcool, luto, morte; linguagem explícita
- Lido entre: 7 e 8 de agosto
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Personagens favoritas: Sebastian e a família Nelson
- Pontos fortes: A calma, a sensibilidade, a representação de diferentes tipos de amor, as reflexões
- Banda sonora: Emily I'm Sorry, Boygenius, Julien Baker, Phoebe Bridgers & Lucy Dacus | Strawberry Wine, Noah Kahan | The Lakes, Taylor Swift | Margaret, Lana Del Rey & Bleachers | Cherry Wine, Hozier
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