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| Fotografia da minha autoria |
A possibilidade de descobrir narrativas que não estão no meu radar entusiasma-me sempre, porque continuo a acreditar que este cruzar de universos nos acrescenta, alargando horizontes. Há uns meses, o autor Raphael T. A. Santos teve a amabilidade de me enviar um exemplar da sua obra, que acabou a revelar-se uma boa surpresa.
perdido na solidão
Frágil Como Origami narra a história de Hena, que se vê confrontado com as suas angústias quando «o seu melhor amigo [lhe] pede que compareça no velório do seu pai». Este acontecimento leva-o a regressar a São Paulo e a contactar com os seus fantasmas e tudo o que aparenta continuar pendente, quase como se os ciclos não se tivessem fechado na totalidade.
Neste romance de formação, achei particularmente interessante que nos mostrasse, por um lado, as memórias que um lugar é capaz de despertar em nós, sendo capaz de abrir feridas antigas ou apaziguar certas emoções, e, por outro, que desconstruísse a imagem que temos das pessoas com quem convivemos. Em ambos os cenários, acredito que a distância tem um peso considerável (e serve como uma possível justificação), porque retira a personagem do centro do problema e fá-la analisar as situações e os comportamentos da altura com outra propriedade e racionalidade. É impressionante o que aprendemos sobre nós nos regressos e quando sabemos melhor quem somos.
«Normalmente as pessoas detestam que sejam vistas logo que acordam, mas acho interessante ver como as pessoas são quando não estão querendo parecer outra pessoa»
Sem querer revelar em demasia, para mim, a maior fragilidade prende-se com o arco temporal. Eu sei que, por se passar num curto espaço de tempo, as coisas têm de escalar de uma forma mais célere, ainda assim, preferia que algumas passagens e interações se prolongassem, que o impacto do reencontro com o melhor amigo fosse mais evidente, menos compreensível pelas entrelinhas. Isto porque sinto que a amizade e as suas metamorfoses eram um tópico muito valioso de ser abordado mais a fundo.
Frágil Como Origami permite-nos embarcar pelas recordações de infância/adolescência de Hena, enquanto nos deixa a refletir sobre perda, sexualidade, solidão, superação e conexões humanas. Gostei do significado do título e da beleza que encontrou na simplicidade, da mesma maneira como gostei que mostrasse que há pessoas que entram na nossa vida não para nos organizarem por dentro, mas para serem o amparo que nos deixa menos sós e que nos faz estar confortáveis na nossa pele.
notas literárias
- Gatilhos: Episódios de homofobia e linguagem explícita
- Lido entre: 3 e 5 de setembro
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Pontos fortes: O tom próximo e o crescimento da personagem
- Personagem favorita: Hippie
- Banda sonora: Origami, Slow J & Gson | Frágil, Pikika | Need It, Justin Bieber







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