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Fotografia da minha autoria |
A minha última visita à Livraria Arquivo teve direito a compras literárias. Como estava a precisar de poesia, optei por trazer o mais recente livro da Inês Morão Dias.
um constante impasse
Soco e Sono compila versos de várias naturezas, sendo uma «coleção de solilóquios, dúvidas, meditações e até subtis divertimentos», passando pela arquitetura e, até, por bizarrias, atendendo a que tão depressa exploram o banal e o que é quase protocolar.
Durante a leitura, na qual mergulhei num sopro, senti um certo tom idílico, por vezes esotérico, de quem vai sonhando pelos fragmentos da vida, de quem vai mergulhando nas entrelinhas e fazendo esse malabarismo entre «o mundo real» e a «irreal ideia de mundo». A pergunta que ecoa é: será fácil sermos capazes de identificar a fronteira?
«o problema são as
certezas que convidam a que fiquemos quietos,
muito quietos»
Socorrendo-se de diferentes estruturas - textos curtos e longos, itálicos, hipóteses, acontecimentos -, achei igualmente interessante o lirismo das metáforas a contrastar com linhas sem filtros, sem margem para duplos sentidos. Ademais, balançando entre a objetividade e as questões subjetivas que norteiam o «eu» - neste caso, nem sempre o eu poético -, a autora agarra-nos a mão e leva-nos a reconsiderar as certezas que «nos convidam a fazer quietos», os sonhos, o que não se cumpre, os nadas que se prolongam e as memórias que procuramos criar e/ou preservar no decorrer da nossa travessia.
Soco e Sono é fugidio, porque, ao aparentar ser uma espécie de montagem, uma espécie de manta de retalhos, pode nunca nos dar respostas concretas. Pode, inclusive, nem nos mostrar a verdadeira temática dos seus versos, deixando-nos a navegar por mar incerto. Não fui arrebatada por todos os poemas, mas quero ler mais desta poetisa.
notas literárias
- Lido a: 12 de agosto
- Formato de leitura: Físico
- Género: Poesia
- Pontos fortes: A versatilidade de temas e de estruturas
- Banda sonora: Meia-Romã, Capicua | Inês, João Couto | Esquinas, Dino d' Santiago & Slow J | My Body is a Cage, Arcade Fire
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