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ESPANHA: O TEMPO ENTRE COSTURAS

Fotografia da minha autoria



«Um romance apaixonante e inesquecível»

Avisos de Conteúdo: Abuso Emocional, Aborto, Alcoolismo, Morte, Guerra


O meu fascínio por moda sempre foi parco. No entanto, quando Miranda Priestly, personagem interpretada por Meryl Streep em O Diabo Veste Prada, desconstrói o desprezo de Andrea Sachs, interpretada por Anne Hathaway, mostrando-lhe a profundidade do meio, alterei a minha perceção e, sobretudo, o meu respeito. Porque temos legitimidade para não nos interessarmos por alta costura, mas o cuidado com cada detalhe, cada ponto, cada cor é sublime. É uma arte. E pode ser, inclusive, uma forma de expressão. Portanto, fui até Espanha para ler o livro de María Duenãs, compreendendo o impacto que linhas e tecidos podem despoletar.


UM OFÍCIO QUASE POR FACHADA

O Tempo Entre Costuras é um romance centrado em Sira Quiroga, «uma jovem modista», que está longe de imaginar a quantidade de reviravoltas que lhe estão reservadas. Além disso, é também palco de várias guerras: não só as históricas, como a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, mas também aquelas que travamos contra nós, contra os nossos fantasmas e contra aqueles que se intrometem no nosso caminho.

«- E agora deixa que te abrace pela primeira e certamente 
pela última vez. Duvido muito que voltemos a ver-nos»

A instabilidade que marca a sequência narrativa e que demonstra bem o ambiente vivenciado pelas personagens faz com que seja necessário tomar decisões céleres, por vezes angustiantes, quase sempre transformadoras. Porque urge prosperar e, sobretudo, impedir que o futuro seja mais uma página incerta e deslocada de tudo o que se conhece. Assim, acompanhamos a aventura da protagonista, que se divide em tempos e lugares distintos, sofrendo as consequências de todos os conflitos políticos, amorosos e de caráter.

«Só então tive consciência da magnitude da minha solidão»

Aproveitando-se do seu ofício e de uma confiança que vai adquirindo com as vicissitudes que a obrigam a crescer, Sira é o rosto da perda, da sobrevivência e das metamorfoses. O enredo tem muitos aspetos positivos e um deles é, certamente, a evolução desta personagem - e a maneira como nos aproxima da sua realidade; a maneira como, subtilmente, nos faz refletir sobre a postura que teríamos no seu lugar. Embora existam feridas passadas que continuam a pesar, é possível ter um propósito e, talvez, encontrar a sorte no meio do azar.

«Eu não derramei uma lágrima, mas senti-o na alma»

Este livro, atendendo a que se divide por três regimes políticos e representa culturas tão díspares, poderia tornar-se confuso e, até, maçador. Contudo, a autora conseguiu transitar com muita elegância por entre os vários temas que foi abordando ao longo da narrativa. Sem pontas soltas, desfechos precipitados ou diálogos vazios, artificiais, foi mesmo interessante tentar desvendar o mistério e compreender o que estava destinado a esta[s] história[s]. Reconheço que a primeira parte [de quatro] é mais lenta, porque estamos num processo de descoberta, porque hesitamos sobre as motivações das personagens e a forma como as informações se interligarão, mas o ritmo é intrigante  e embala-nos numa certa urgência de saber que mudanças estão por vir.

«(...) não estava preparada para voltar a sentir o rasgão de uma ausência»

O Tempo Entre Costuras envolve-nos num jogo de espionagem e conspiração. Atrai-nos para um cenário de fachada, enquanto nos leva para a miséria de Madrid, para o exotismo de Marrocos e para a efervescência de Lisboa. E, no meio de todas estas transações, alinhavando todos os pespontos, há valores e uma resiliência imperdíveis - mesmo quando não sabemos o que esperar, mesmo quando não sabemos em quem confiar.


|| Disponibilidade ||

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Comentários

  1. Esta publicação remeteu-me logo para o filme A Modista. Fiquei mesmo curiosa com este livro. Obrigada pela partilha.
    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Nunca vi esse filme, mas sei que há uma série inspirada nesta obra 😊 aconselho muito este livro

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    2. Confesso que a mim aconteceu o mesmo: lembrei-me logo do filme 🎥 A Modista, a história de uma vingança.

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    3. Esqueceu-me de escrever o meu nome Teresa Palmira Hoffbauer e de elogiar a tua análise literária, que me despertou o interesse de ler o livro 📕

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    4. Tenho de adicionar esse filme à lista. Estão a deixar-me curiosa!

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    5. Muito, muito obrigada, querida Teresa!

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  2. Acredito que seja um bom livro de leitura.
    Cumprimentos poéticos

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  3. Já ouvi falar desse livro 📕 que ainda não li.
    Talvez o encontre na tradução alemã.

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    1. Esqueci de escrever que sou a anónima das margens do rio Reno!!

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    2. Aconselho, está mesmo interessante! Espero que encontres

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    3. Calculei que fosses tu, por causa da tradução alemã 😊

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  4. Gostei bastante desta sugestao por se tratar de um conto de epoca, coisa que adoro. Muito obrigada pela partilha*

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  5. Hum, parece ser mais uma boa sugestão para conhecer, ainda não tinha ouvido falar
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

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