STORYTELLER DICE ◾ FESTA DA ALDEIA

Fotografia da minha autoria



Tema 40: Patins + Cenoura + Megafone + Bola


A melodia começava a soar em surdina, revestindo o recinto de um regresso aguardado pelos habitantes de Flor-de-Luz. Após dois anos de interregno, a Festa da Aldeia estava agendada para o final de setembro.

No ar, pairava a azáfama dos preparativos; pairava o caos dos ensaios, da montagem de bancadas, tendas e zonas para restauração. Perto da capela, viam-se desfiles intermináveis de vestidos, coletes, calçado, coroas de flores e cerveja artesanal. Não podia faltar nada. Aliás, tinha de ser a melhor edição alguma vez feita.

Carolina observava o processo enternecida, até porque, para si, seria um marco especial: a pequena patinadora faria a sua estreia nas festividades da terra. Estava nervosa com o momento, claro, mas estava ainda mais ansiosa por contribuir para algo que a fascinava desde miúda. Hoje, já adolescente, sentia no peito a responsabilidade de prolongar o legado da família Sobrado, a sua, que estava disposta a não desiludir.

Terça-feira, depois das aulas, deslocou-se para o centro desportivo, a fim de se habituar ao novo par de patins e de treinar o seu número. Pelo caminho, cruzou-se com Cenoura, o gato vadio que conquistou o coração da comunidade. Fez-lhe uma festa e seguiu caminho, consciente que a seguiria. Àquela hora, teria de dividir o campo com trapezistas e malabaristas, mas estava suficientemente confortável para não ficar intimidada com o talento e a beleza das suas atuações. Em boa verdade, era também por eles que queria fazer boa figura.

Os ponteiros do relógio avançavam sem que desse conta. Por isso, só teve noção das horas, porque o Senhor Abílio entrou pelo recinto, com o seu megafone, a anunciar que faltavam dez minutos para fechar. Tão depressa reconheceu a sua voz, como se perdeu num grito estridente e numa chuva de bolas a rolar pelo chão. Teve dificuldade em perceber o que se passara, até ser atraída pela sombra de um Cenoura assustado.

Era hábito o gato acompanhar os ensaios, bem instalado nos colchões de ginástica perdidos no armazém - cuja porta estava sempre aberta. No entanto, astuto, fugia antes que aparecesse o porteiro, de quem tinha um medo inqualificável. Desta vez, adormecera profundamente e foi o susto que o fez desaparecer de um modo atabalhoado, derrubando a malabarista. Felizmente, sem danos de maior, ouviu-se uma gargalhada conjunta.

Regressando a casa, Carolina acalentou uma certeza: Flor-de-Luz era um bom lugar para visitar, melhor, para se viver. E ter a Festa da Aldeia de volta era maravilhoso. Nessa noite, Cenoura escolheu o seu colo para amenizar o sobressalto e para recuperar. E a pequena patinadora adormeceu com um novo propósito.

Comentários

  1. Adorei viajar até Flor-de-Luz. Fez-me ter vontade de lá ficar. Fantástico conto.
    Beijinho grande, minha querida!

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    Respostas
    1. Também não me importava, até porque tenho saudades de uma boa festa 😊
      Obrigada, minha querida

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  2. Oh, que história mais bonita
    Uma boa semana
    Beijinhos
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    Tem Post Novos Diariamente

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