ESTANTE CÁPSULA ◾ O RAPTO, DORA FONTE

Fotografia da minha autoria



«Angola ficou lá. Escondida, desconhecida»

Avisos de Conteúdo: Linguagem e Cenas Explícitas, Morte, Homicídio


A minha visita à Fonte de Letras, em agosto do ano passado, materializou-se na compra de um livro [e de um saco de pano alusivo à livraria], porque seria impossível voltar para casa sem uma recordação desta natureza. Deste modo, optei por arriscar numa autora que desconhecia, mas que tem raízes portuenses: Dora Fonte.


UMA LONGA E DESUMANA CAMINHADA

O Rapto é o espelho de uma tragédia divida em duas frentes: a guerra angolana, que ecoava com impacto, e o ataque da UNITA em Sumbe, que fez com que a autora, o seu marido e os restantes moradores do prédio onde ficaram alojados fossem feitos prisioneiros e embarcassem numa realidade surreal e difícil de esquecer.

«Mas nós ansiávamos ir. A nossa vida estava parada, queríamos trabalhar, conhecer 
a cidade, os nossos alunos, os nossos colegas, a nossa rua, a nossa casa. O Sumbe»

O casal partiu de Portugal com o intuito de cooperar no ensino, mas viu-se envolvido em algo muito mais complexo. Ao que tudo indica, eram os únicos professores voluntários destacados para esta zona que há muito estava a ser observada pela UNITA. Após o ataque, «fizeram uma longa caminhada, durante três meses», desde a costa até Jamba. Como se esta circunstância não fosse angustiante o suficiente, ainda lhes foi reservada uma espera de mais três meses. Ou seja, meio ano sem notícias, sem qualquer nota de esperança.

«A imagem do terror estampava-se-lhes nos olhos»

O clima de desconfiança foi-se sobrepondo, adensando o pânico, as perdas e a carência. Sem conhecer os contornos deste enredo, fui surpreendida pela dureza e pelo desgaste do relato. Por um lado, é impressionante a desumanidade desta extensa jornada, por outro, ainda que isso não valide a tortura invisível de inocentes, acabamos por compreender o propósito; acabamos por perceber que há uma tentativa de lutar por igualdade.

«O medo enfiava-se-me na pele, nas entranhas, transformava-se em pânico»

Marcada por vivências desesperantes, nas quais é inevitável que se perca a fé no futuro, esta narrativa mostra, também, uma força de espírito inspiradora. Contado na primeira pessoa, O Rapto deixa-nos mais perto de sentir a realidade de cada um dos rostos que fez parte deste pesadelo, «em cativeiro, até à libertação».


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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Comentários

  1. Acredito que seja um livro fascinante de ler
    .
    Saudações poéticas e cordiais
    .
    Poema: “”Queria ter um sonho””…
    .

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  2. Hum, vou mais uma vez levar a sua sugestão, ainda não conhecia de todo
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

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  3. Mais uma sugestao com uma tematica pela qual tenho bastante interesse :) Muito obrigada pela partilha, minha querida *.*

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  4. Desconheço por completo. 🫣
    Obrigada pela sugestão. 🤍

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    Respostas
    1. Também só fiquei a conhecer quando visitei a Fonte de Letras. Acho que, de outra forma, nunca me cruzaria com este livro

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  5. Nesta altura prefiro leituras mais soft.
    Isabel Sá
    Brilhos da Mod

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