ESTANTE CÁPSULA JUKEBOX (4)
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Fotografia da minha autoria |
A banda sonora de uma viagem literária
As leituras de abril foram, em parte, pensadas de forma estratégica, atendendo a que queria, no mês do meu aniversário, rodear-me de autores que já são indispensáveis. No entanto, também me permiti explorar novidades literárias e vozes que nunca tinha lido antes. Neste equilíbrio, voltei a construir uma playlist que demonstra bem a miscelânea que habita em mim - e que impulsiona uma viagem sempre surpreendente.
DEUSES E AFINS, AFONSO CRUZ
Um Deus, Xutos & Pontapés ▫ A associação foi feita, em primeiro lugar, pelo título. Depois, senti que a canção espelha as preces e as crenças que todos temos, por mais distintas que elas sejam, tal como acontece na narrativa em questão. Portanto, existe um elo entre aquilo que acreditamos e aquilo pode ou não ter existido.
AS ÚLTIMAS LINHAS DESTAS MÃOS, SUSANA AMARO VELHO
Motion Sickness, Phoebe Bridgers ▫ “I'm on the outside looking through”. Foi assim que senti a protagonista, não porque se distanciasse da sua história, mas porque passou a vida a observar e a questionar-se sobre as razões de certos comportamentos. E entre a revolta (não ódio) em relação à mãe e o querer tê-la funcional, foi construindo os seus alicerces, perguntando o que aconteceria, caso as coisas fossem de outra forma.
MAR ALTO, CALEB AZUMAH NELSON
Could Heaven Ever Be Like This, Idris Muhammad ▫ O autor parece que pensou em mim (e nesta dinâmica), visto que, no final do livro, disponibilizou uma playlist de músicas para escutarmos. Embora sinta que qualquer uma delas pudesse ser a escolhida, optei por esta, porque a relação entre os protagonistas parece transcender-se, porque a forma como se observam é terna, é doce e imprevisível. Além disso, mesmo quando não verbalizam um com o outro, o silêncio encarrega-se de comunicar por eles - um pouco como este tema, no qual há partes sem letra, mas a melodia continua a embalar-nos num ritmo frenético, intenso e familiar.
O DICIONÁRIO DAS PALAVRAS PERDIDAS, PIP WILLIAMS
Runaway, Aurora ▫ Este tema, parece-me, cumpre os requisitos necessários para acompanhar a narrativa: pela ideia de pertença, pela ideia de voltar sempre a casa, pelos constantes avanços e recuos que a protagonista foi abraçando no decorrer da ação e que estão tão presentes na letra da música. Ademais, a ideia subtil de estar à escuta (não do oceano, mas de palavras ditas por tantas mulheres anónimas) é uma parte crucial do enredo. E Esme continuou a correr, sem nunca esquecer o caminho de regresso: ao seu lar, ao que a move, a si.
O TORCICOLOGOLOGISTA, EXCELÊNCIA, GONÇALO M. TAVARES
Terra Firme, Benjamim ▫ Uma associação feita pela sensação de estar suspensa. Na música, ao presente, já no livro, aos diálogos surreais que nos transportam para tantos lugares e para lugar nenhum. Além disso, nesta terra firme, parece que andamos muitas vezes em contramão, sem compreendermos bem qual a rota a seguir.
TUDO É RIO, CARLA MADEIRA
Lisboa, Anavitória & Lenine ▫ A letra, ainda que de um modo subtil, consegue ter traços provocantes e demonstrar o desejo do outro - e um certo tom perverso, tal como a narrativa de Carla Madeira. Além disso, há um querer constante, esse desejo de ter o outro perto, por mais que este se afaste e que até procure algo diferente; porque o amor também consegue ser doentio, possessivo e é neste limbo que avançamos na leitura.
BLOOM #1, KEVIN PANETTA
Summer Mood, Best Coast ▫ Houve algo a mudar neste verão. E neste constante ir e vir, que se reproduz em ausências, inseguranças e saudade, existe um amor a crescer. De todos os temas partilhados em anexo, por cortesia dos artistas desta novela gráfica, senti que este era o mais indicado, pela mensagem concisa, pela aproximação à estação do ano com mais ênfase na obra, pelos próprios tons das tiras que o elevam.
M TRAIN, PATTI SMITH
Frederick, Patti Smith ▫ Ainda não tinha começado e já sabia que, para esta leitura, só podia ter uma artista associada. Oscilei entre alguns dos temas de Patti Smith, mas senti que este lhe assentava melhor. Embora os textos não sejam apenas sobre Frederick, há muito dele nesta obra e naquilo que ela é. Além disso, é um tema que mostra todo o seu lado aventureiro, cuidadoso e que encontra sempre uma maneira de regressar a casa.
NA TERRA SOMOS BREVEMENTE MAGNÍFICOS, OCEAN VUONG
Fast Car, Tracy Chapman ▫ Sinalizei algumas referências musicais que apareceram ao longo da narrativa, mas, ao escutá-las, senti que não se adequavam, porque queria uma melodia mais saudosista. Esta história é profundamente triste, com uma personagem que comunica muito através do que fica por dizer, quase como se falasse de outra pessoa que não ela. Ainda assim, tenta encontrar uma saída, um propósito, por isso, e por também referir detalhes que são explorados no livro, creio que este tema se aproxima mais da mensagem.
PARA QUE O FOGO ACONTEÇA, FILIPE HOMEM FONSECA
Estrada, Pedro Mafama ▫ Uma associação, talvez, um pouco questionável, mas este livro pareceu-me uma longa estrada, que se percorre para fugir e, ao mesmo tempo, uma estrada que nos leva de volta a lugares que conhecemos de cor. Em simultâneo, houve uma quadra que me recordou dos versos “Cada subida é uma descida acentuada/É uma paisagem com perigo de derrocada”. Por isso, e porque “há dias quentes e noites frias/No deserto que é a vida”, fez-me todo o o sentido tecer este elo entre as palavras escritas e as cantadas.
QUERO MORRER, MAS TAMBÉM QUERO COMER TTEOKBOKKI, BAEK SEHEE
Afraid, The Neighbourhood ▫ Fui procurar por este livro no Spotify e perdi-me numa playlist com o mesmo nome (versão em inglês). De entre todas as hipóteses disponíveis, embora não me tenha arrebatado de imediato, achei que esta era a que se enquadrava melhor: pelo medo de ser substituída, pela mentira, pela imagem do outro, pela própria vontade de morrer. A protagonista luta contra os seus fantasmas e, nesta música, também.
O LUGAR DAS ÁRVORES TRISTES, LÉNIA RUFINO
Um Lugar, Rui Massena ▫ Escolhi um instrumental, porque queria que fosse o silêncio (das palavras) a assumir uma posição de destaque e porque queria que a melodia transmitisse um certo mistério e um infindável número de cenários para a sua continuação. Nem sempre linear, nem sempre claro, tal como a narrativa, segui embalada neste tema com a mesma urgência com que voltei a folhear as páginas do livro da Lénia.
Adoro esta conjugação de livros e música.
ResponderEliminarVou ter em conta as tuas sugestões para ouvir.
Beijinho grande, minha querida. Bom fim de semana.
Que bom, minha querida, fico mesmo feliz por saber isso. Obrigada!
EliminarBom fim de semana
Que belas escolhas para ouvir ao final do dia em estado de recuperacao *.*
ResponderEliminarOh, fico feliz por fazer companhia! Uma excelente recuperação, minha querida
EliminarAcredito que sejam todos bons livros de ler
ResponderEliminarFim de semana de Paz e Amor.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Cruzei-me com excelentes leituras
EliminarObrigada e igualmente, Ricardo
Que acaba mesmo por ser umas exlentes escolhas, nem todas conhecia
ResponderEliminarBeijinhos
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Obrigada, Sofia
EliminarTambém gosto de conjugar a música e a leitura!
ResponderEliminarBjxxx
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Sinto que nos permite explorar outras camadas do enredo
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