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Fotografia da minha autoria |
«Uma herança que a deixa intrigada»
Avisos de Conteúdo: Morte, Suicídio, Abandono, Depressão, Linguagem Explícita
As relações familiares são, tantas vezes, costuradas com linhas demasiado finas, que não suportam o peso dos segredos, nem da verdade. Mas por mais que a última magoe, acredito que a omissão e a mentira nos desagregam muito mais, porque resiste sempre uma chama de insegurança - e porque, para quem as carrega, há uma pressão incalculável. É este contexto que encontramos no livro de estreia de Susana Amaro Velho.
LINHAS PARALELAS QUE SE CRUZAM
As Últimas Linhas Destas Mãos conta-nos a história de Alice, presa a um amor visceral, corrosivo, que nos concede espaço para deslindarmos memórias tão ternas e, em simultâneo, tão pautadas pela culpa e pelo desgosto. Após a sua morte, a filha Teresa «recebe uma herança que a deixa intrigada» e que é tão esclarecedora dos efeitos que os laços familiares exercem em cada elemento, podendo minar as interações.
«As mãos dela perderam as linhas. Perderam o traço, o percurso,
o que nos define e o que liga cabeça, vida e coração»
Este livro é feito de várias vozes, de várias perspetivas sobre o mesmo assunto e de uma carga emocional intensa, que se cola a nós e nos faz sentir cada momento de dor, de frieza, de desnorte. Houve alturas em que a história me pareceu um pouco repetitiva e demorada na concretização, mas talvez o objetivo seja mesmo esse, porque a mágoa não desaparece num estalar de dedos, porque tendemos a regressar a pensamentos similares, quando as situações ainda não tiveram um desfecho apropriado - e enquanto persistir a dúvida.
«As palavras saem de dentro de nós»
Acompanhar esta narrativa é embarcar numa jornada intimista, que levanta inúmeras questões sobre parentalidade, famílias disfuncionais, abandono, depressão e, sobretudo, amor: reconhecido, vivido e/ou sentido em silêncio. Além disso, mostra-nos o quanto podemos ser incompreendidos pelos nossos, caso a nossa linguagem não esteja alinhada. E isso, embora seja válido, pode trazer dissabores, construindo muros.
«O vazio e o silêncio resistem sobre o barulho das vozes dos outros»
Cada personagem tem um propósito, compondo este quadro unido pela aura misteriosa das cartas e pela escrita. Há uma sombra que todas elas carregam, mas no meio da desgraça também existe uma luz de esperança, porque as linhas que as entrelaçam podem permanecer depois da perda - emocional ou física.
«Acho que com o tempo perdoamos tudo, se quisermos»
As Últimas Linhas Destas Mãos é sobre tudo o que foi supracitado e é sobre muito mais do que isso: é sobre perdão, sobre lembranças que nos transformam e sobre reencontrarmo-nos na dor. Estive um pouco indecisa na pontuação - apesar de não ser o mais importante -, no entanto, o final tirou-me as dúvidas, porque compreendi toda a comoção e porque percebi que a poesia desta história me marcou pela sua honestidade.
🎧 Música para acompanhar: Motion Sickness, Phoebe Bridgers
📖 Da mesma autora, li e recomendo: O Bairro das Cruzes e Inquieta
8 Comments
Mais um livro que me cativou pelo titulo *.* Muito obrigada pela sugestao, minha querida :)
ResponderEliminarÉ maravilhoso, minha querida!
EliminarJá ouvi falar muito da autora. Obrigada pela sugestão, minha querida.
ResponderEliminarBeijinho grande!
Aconselho qualquer um da autora. A forma como constrói as narrativas e as personagens é mesmo fascinante
EliminarAcredito ser um livro deslumbrante, fascinante de ler
ResponderEliminar.
Deixando saudações cordiais
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Poema: “” Desígnios da vivência ””…
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Bastante, Ricardo!
EliminarOh, que me parece ser mais um bonita história até para ler.
ResponderEliminarVou levar mais uma vez a dica
Uma boa semana
Beijinhos
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Tenho pena que esteja esgotado, porque é uma história fantástica. Dura de ler em várias partes, mas fascinante de compreender
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