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Fotografia da minha autoria |
Os títulos têm um poder surpreendente, porque ficam a ecoar. E, depois, provocam outro fenómeno fascinante que é encontrá-los nas mais diversas ocasiões, como se só existissem aqueles livros no mundo ou todas as pessoas à nossa volta os estivessem a ler. Foi o que me aconteceu com a segunda obra de Mariana Salomão Carrara.
uma tragédia a unir vidas distintas
Não Fossem as Sílabas do Sábado não vem com delicadezas, uma vez que começa logo com um tom de tragédia: Ana, no dia em que contaria ao marido que estava grávida, perde-o num acidente trágico. No meio da desgraça, conhece Madalena, uma figura que também está ligada ao acidente em questão. Apesar de estarem em patamares diferentes nesta história, une-as a dor, a sobrevivência e um futuro interrompido.
Estava intrigada com a premissa e com a forma como conheceríamos o desenrolar dos acontecimentos e fui completamente arrebatada. Não acho que seja sempre intuitivo acompanhar a escrita da autora, porque tem uma cadência muito específica e a narrativa não é linear, mas sinto que fiquei presa por causa desse aspeto. Quando estamos a sofrer, independentemente de ser ou não por causa de um processo de luto, a nossa vida desorganiza-se, os pensamentos deixam de seguir uma certa ordem e tendemos a oscilar, a recuperar memórias desconexas, a tentar encontrar algum alento na perda, por isso, fez-me todo o sentido que desse voz a esta desorganização interior, porque trouxe mais credibilidade para o enredo.
Outro ponto que me cativou foi a construção da amizade entre as personagens femininas, atendendo a que não segue uma estrutura comum. Embora existiam vários fatores que, numa primeira interpretação, poderiam distanciá-las, isolá-las uma da outra, encontraram uma maneira de existirem para lá da ausência, da solidão, das trajetórias que nunca chegaram a ser traçadas por culpa da imprevisibilidade do destino. Ademais, achei comovente como foram cuidando uma da outra, cada uma à sua maneira, sem cobranças.
Não Fossem as Sílabas do Sábado é sobre desamparo, sobre silêncios e sobre recomeços. Com uma narrativa intimista, que tem tanto de vulnerabilidade como de lucidez, falou-me mesmo ao coração e mal posso esperar para ler mais livros de Mariana Salomão Carrara.
notas literárias
- Gatilhos: Luto
- Lido entre: 20 e 21 de abril
- Formato de leitura: Físico
- Género: Romance
- Pontos fortes: A estrutura pouco linear, que sinto que espelha bem as oscilações do luto
- Banda sonora: Wrecked, Imagine Dragons | Where's My Love, SYML | Sozinha Lá Fora, Ana Moura | Desmancha-Prazeres, Eu.Clides | Sábado, Léo Teclas
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mariana salomão carrara
não fossem as sílabas do sábado
6 Comments
Fiquei muito curiosa.
ResponderEliminarVou guardar a sugestão.
Beijinho grande, minha querida!
Foi uma excelente surpresa!
EliminarQue bonito é quando um livro nos desarruma por dentro e, ainda assim, nos acolhe com ternura — senti cada palavra tua como um eco da emoção que a leitura deixou.
ResponderEliminarCom carinho,
Daniela Silva
alma-leveblog.blogspot.com
E este desorganiza-nos bem por dentro!
EliminarFico contente que isso passe para vocês :)
Não conhecia, mas agradeço a sugestão! :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Obrigada pelo retorno, Marta :)
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