ENTRELINHAS || LUANDA, LISBOA, PARAÍSO

Fotografia da minha autoria

«(...) o balanço tocante de três vidas simples»

Avisos de Conteúdo: Bullying, Doença, Racismo, Machismo

As mudanças são abraçadas com o intuito de melhorarmos a nossa vida; com o intuito de redesenharmos o nosso destino. No entanto, existem sempre contratempos que nos desarmam e que, por consequência, nos fazem questionar as nossas decisões. Assim como fica patente na narrativa de Djaimilia Pereira de Almeida.

«Talvez não fosse ele quem tivesse de se entregar ao cuidado de Aquiles»

Luanda, Lisboa, Paraíso marca a viagem espacial, emocional e intimista de um pai e um filho que, impulsionados pelo ritmo de uma doença, se veem obrigados a abandonar as suas raízes, aventurando-se pelo desconhecido. Apesar disso, há um sonho que acalenta a esperança, há uma imagem de paraíso que sustenta a procura. E talvez por isso seja tão doloroso assistir ao deteriorar da utopia e à perda de oportunidades.

«Se primeiro o apartamento pareceu aceitar morrer, 

logo o silêncio deu lugar à indiferença»

Este livro, que tem um tom bastante humano, é feito de personagens lindíssimas e carismáticas, porque preservam valores e vínculos inspiradores - e com os quais nos podemos identificar com facilidade. Mesmo quando a precariedade é gritante, quase palpável, há uma vontade interior de prosseguir, de resistir e de superar; há uma capacidade subtil de sobreviver à desgraça. E isso implica reajustar expectativas e compreender que, por vezes, temos de construir o nosso lugar em locais que aparentam estar longe de nós.

«Ninguém o poderia privar de carregar o que já tinha visto»

Acompanhando a jornada dos protagonistas, sentimos o fosso entre pessoas que caminham lado a lado [e cujos elos deveriam ser inquebráveis], o ambiente de solidão e a indiferença da sociedade, bem como a sua malícia. Por outro lado, no meio de recomeços e desencontros, há um laço de amizade que introduz uma luz de confiança renovada. Com uma escrita cuidada, intensa e envolvente, este romance transborda de camadas e simbolismo, concentrando-se em temas centrais como o pós-colonialismo, em Portugal, a migração angolana, o amor, a família e a multiculturalidade. Em simultâneo, explora a ausência, a desilusão e o medo.

«Não eram vítimas uns dos outros, nem ninguém 

tinha torcido os seus sonhos de propósito»

Luanda, Lisboa, Paraíso é feito de quimeras a desvanecer, mas também nos ensina a importância de partir e de renascer. E, na tentativa de pertencer a um lugar, mostra-nos que esta história poderia ser a nossa.

«Para quê ter pressa de ir para casa?»

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