ALMA LUSITANA: LIVROS COM SABOR

Fotografia da minha autoria



«A cozinha é o coração de um lar»


A gastronomia portuguesa é fascinante: não só pelos temperos e pela comida em si, mas também pelos laços que se estreitam, quando estamos na cozinha ou sentados à mesa, numa partilha plural - intemporal - que nos conforta. É por isso que as memórias são sempre mais saborosas, caso as associemos a esta natureza.

Um dos meus sabores favoritos é o dos ovos moles. Portanto, senti que este tema combinava na perfeição com a cidade de Aveiro. No entanto, não queria que o tópico ficasse limitado a um contexto fechado, razão pela qual creio ser importante reforçar que o sabor pode não estar associado a uma receita. Pode, antes, aparecer representado no título, numa personagem que adore cozinhar [ou não], numa memória ou na perceção de uma narrativa tão rica em acontecimentos, que quase lhe sentimos esse travo agradável. Não obstante, obras sobre culinária também são bem-vindas. Porque a forma como cada leitor interpreta o tema é que o torna delicioso.

Esta paragem conta com uma participação especial, visto que a livraria Gigões & Anantes acedeu, prontamente, ao meu pedido e sugeriu duas obras para o tema de Aveiro, que têm outro encanto por serem de filhos da terra. Em simultâneo, reuni mais 15 livros que podem ser excelentes companheiros de viagem.


 LIVROS COM SABOR 


 SUGESTÕES GIGÕES & ANANTES 

 

O Extraordinário Caso da Mosquinha-Morta, Cláudia Cruz Santos: «A autora aveirense traz-nos agora “O Extra­ordinário Caso da Mosquinha-Morta”, que define como um romance policial. A sua terceira obra de ficção é centrada em Catarina Efigénia, uma professora de português num liceu e que tem, desde o ano lectivo anterior, duas alunas novas, gémeas, “bastante problemáticas, cada uma à sua maneira”. Parte da narrativa desenrola-se numa escola, mas passa-se também fora dos seus portões. Porque, como a própria referiu, os incidentes da vida privada acabam por ter reflexos naquilo que sucede nos espaços mais públicos».

15 [ou quem concebeu o mundo não lia romances], André Éme: «Razão e coração. Todos os dias, há milhões de coincidências que não acontecem. Mas as que acontecem ficam gravadas na nossa memória e acabamos por chamar coincidências a acontecimentos que a razão nos diz serem meras probabilidades matemáticas. A morte do Quinze – uma figura pouco querida, mas familiar – e a reunião improvável de tantas antigas companheiras em torno do seu funeral, leva o narrador a fazer uma viagem dentro de si mesmo, à boleia de um ciúme tardio que o incomoda e envergonha. Nesse caminho interior desenhado pelas memórias que se vão alinhando, os acasos tendem a ser negados, mas… até a menor probabilidade matemática acaba por poder mudar vidas – afinal, são tantas as ocasiões em que a lógica explica, mas não satisfaz!».


 O QUE VOU LER 


Com os Copos, MEC: «Viaje pelo mundo das bebidas e dos cocktails pela mão de Miguel Esteves Cardoso, um conhecido expert nesta matéria que, neste livro, encarna a personagem de um barman que o conduzirá às mais elevadas experiências do saber beber. Magnificamente ilustrado por Pedro Proença, este é um livro indispensável para quem se interesse pela arte de preparar bebidas ou, tão simplesmente, pelo seu consumo».


 OUTRAS SUGESTÕES 

  

Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett: «
Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crónica. E assim nasceu a obra que viria a ser o marco do movimento romântico em Portugal. A narrativa de viagens enreda-se na perfeição com a novela trágica de Carlos e Joaninha e ainda com todas as singulares e geniais divagações e reflexões de Garrett».

Camilo Castelo Branco e o Garfo, José Viale Moutinho: «O autor, conhecido investigador de Camilo Castelo Branco, debruça-se desta vez sobre a gastronomia na obra de Camilo. Percorrendo os inúmeros livros do escritor e textos dispersos, recolheu as invulgares citações relacionadas com alimentação e procurou descobrir o modo de confecção da época. Desde a truta de escabeche ao toucinho-do-céu, as dezenas de citações e receitas que compõe este livro certamente irão agradar tanto camilianistas como amantes da cozinha».

A Cidade e as Serras, Eça de Queiroz: «Nesta obra, Eça sugere o tema clássico do elogio da "aurea mediocritas", quando mostra que nem é o fausto, nem o conforto, nem a ciência que fazem o homem feliz, mas sim uma vida calma, simples e natural. A descrição que faz da vida do campo é mais uma forma de idealização à maneira de Júlio Dinis. Revela-se um extraordinário paisagista. As descrições da obra concretizam o pensamento de Fradique Mendes: "a arte é um resumo da Natureza feito pela imaginação"».


  

O Duende Cozinheiro, Maria João Carvalho: «Esta é uma história de amizade cuja receita secreta se encontra bem guardada no coração do pequeno duende cozinheiro. Mas esse segredo vai ser revelado neste livro a mostrar que a alegria e a generosidade são os "ingredientes" certos que, temperados com uns pozinhos mágicos, podem transformar cada criança num duende traquina fazedor de sonhos e de um mundo melhor».

A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, Mário de Carvalho: «Uma horda de cavaleiros berberes do século XII vê-se subitamente em plena Avenida Gago Coutinho por incúria da deusa Clio, que se deixa adormecer, enredando na sua tapeçaria milenar os acontecimentos de 4 de Junho de 1148 e 29 de Setembro de 1984. Um elevador não pára de subir. Um frade no seu convento resiste ao Dia do Juízo Final. Um homem simples vive um quotidiano dantesco. Um chimpanzé é capaz de reescrever a obra Menina e Moça. Um navio negro, desarvorado, muito maltratado pelo mar, dá à costa, trazendo consigo a pestilência...».

Balada Para Sophie, Filipe Melo & Juan Cavia: «A vida de Julien Dubois, pianista de sucesso, confunde-se com a história da Europa do século XX. Desencantado e misantropo, vive a reforma numa velha mansão, com um gato e uma governanta por companhia. Um dia, é visitado por uma jovem jornalista que o incita a contar a sua verdadeira história. Nas paredes da casa, saturadas de fumo de cigarro e de velhas memórias, ressoa a confissão de uma vida feita de rivalidade, desamor e arrependimento. Balada para Sophie é uma deslumbrante novela gráfica de uma das duplas mais consagradas da Banda Desenhada em Portugal».


  

Os Três Casamentos de Camilla S., Rosa Lobato de Faria: «Aos noventa anos de vida, Camilla decide percorrer os seus diários e contar as suas memórias. A sua história é a de uma mulher que, ainda que às vezes de longe, viu o tempo e os actos mudarem o mundo. É também a história dos seus três casamentos e do seu único amor. A vida de Camilla é feita de iguais medidas de alegria e desespero. A sua memória é a de uma jornada de crescimento, desde a inocente casada demasiado cedo à mulher que amou e sofreu e viveu uma vida completa. E a voz de Camilla é fascinante, tal como o é o percurso da sua vida. É a autobiografia de uma velha senhora que aos noventa anos decide contar a sua vida, incluindo o que ela possa ter de inconfessável. Desde os ambientes à narrativa, estamos perante um livro adequadamente romântico».

Contra Mim, Valter Hugo Mãe: «Na vida de alguns escritores tudo parece conspirar para a inevitabilidade da escrita. Cada detalhe, por mais errático ou disfarçado de desimportante, já é a construção do fascínio pelo texto, algo que se confunde com a sobrevivência, com toda a dificuldade e alegria. Valter Hugo Mãe, num "ano introspectivo", como diz, regressa com a história da sua própria infância e a magia profunda de crescer fazendo das palavras alimento, companhia, lugar, espera ou bocados de Deus. Este livro é uma criança às páginas».

O Sabor da Liberdade, Ana Maria Magalhães & Isabel Alçada: «Portugal esteve unido a Espanha 60 anos. Durante esse tempo foi governado pelos reis Filipe II, Filipe III e Filipe IV, que viviam em Madrid. A situação não agradava, houve tentativas de revolta fracassadas, mas no ano de 1640 um grupo de nobres resolveu preparar um golpe-surpresa, restaurar a independência e aclamar um rei português. Ana, João e Orlando chegam a Lisboa poucos dias antes de a revolução estalar. Instalaram-se no palacete da família Corrêa e acabaram por tomar parte não só nos romances e problemas daquela gente e das suas vizinhas de bairro mas também no grande acontecimento que mudou a história do país».


  

O Cavaleiro da Dinamarca, Sophia de Mello Breyner: «No regresso de uma longa peregrinação à Palestina, o Cavaleiro tem apenas um desejo: voltar a casa a tempo de celebrar o Natal com a sua família. Nessa viagem, maravilha-se com as cidades de Veneza e Florença, e ouve histórias espantosas sobre pintores, poetas e navegadores. São muitas as dificuldades com que se depara, mas uma força inabalável parece ajudá-lo».

Uma Aventura na Amazónia, Ana Maria Magalhães & Isabel Alçada: «Vai realizar-se em Manaus um congresso médico e a agência de viagens onde trabalha a mãe das gémeas é que está a organizar o evento. Por isso, a Teresa, a Luísa e o Pedro vão poder acompanhar as respectivas mães à Amazónia! Será que o Chico e o João desta vez ficam em casa? Ou vão poder desfrutar todos juntos do esplendor da maior (e mais fantástica!) floresta do mundo? Uma aventura grandiosíssima no lugar mágico do encontro das águas».

Cinderela, João Paulo Seara Cardoso: «Esta não é uma Cinderela tradicional. Há uma reescrita, um tanto ou quanto anacrónica, da história tradicional, a partir das versões de Perrault e Grimm. Personagens saídos de outros contos caem do céu para dificultar a vida a Cinderela. Há uma Bruxa Má que detesta histórias com final feliz e um Lobo Mau disfarçado de GNR a patrulhar as estradas da floresta. Os Sete Anões são chamados a salvar Cinderela da morte certa, na sua qualidade de especialistas em técnicas de salvamento de meninas envenenadas. A Fada-Madrinha é uma tia irascível e ajusta contas com a Bruxa Má, num combate de wrestling. No final Cinderela casa mesmo com o príncipe e têm imensos filhinhos, para descanso de todos».


 

A Flor do Sal, Rosa Lobato de Faria: «Fala-nos da construção de um livro sobre um marinheiro do século XV e sobre o episódio de que ele foi protagonista. Esse pescador de Cascais, Afonso Sanches (que efectivamente existiu), mais tarde baleeiro e por fim piloto de uma expedição que buscava a Índia a Ocidente, chegou casualmente às costas da América em 1481 e disso deu notícia ao rei D. João II. Porém, o rei pediu-lhe silêncio sobre o seu achamento, por estar em vias de elaboração o Tratado de Tordesilhas. Mais de quinhentos anos depois, uma escritora aproveita este facto histórico para elaborar a sua própria ficção – e a sua história cruza-se com a de Afonso Sanches, num romance sobre os mistérios da criatividade, do amor e da morte».

O Pecado de Porto Negro, Norberto Morais: «Conhecida entre os marinheiros do mundo como a Cidade do Amor Vadio, é um lugar remoto, plantado no coração dos trópicos, onde, durante o dia, dizem, cheira ao suor da vida dos homens e, à noite, ao perfume das mulheres da vida. Em Porto Negro vive Santiago Cardamomo, um jovem estivador que divide o tempo livre que tem entre os bares do porto e a cama das mulheres que nunca lhe faltam. Em Porto Negro vive Ducélia Trajero, a filha donzela do açougueiro da terra, em quem o pai deposita todas as esperanças e que sonha com Santiago desde o primeiro dia em que o viu. Em Porto Negro vive também Rolindo Face, o mesquinho empregado do açougue, que jurou a si mesmo que a filha do patrão haveria de ser sua, custasse o que custasse. Amor, ódio, ciúme e vingança misturam-se numa trama que percorre mais de meio século e envolve personagens tão diversas [...] é um mosaico de histórias».


 CONSIDERAÇÕES 

📖 Podem ler qualquer género e em qualquer formato;
📖 O tema pode aparecer representado de várias maneiras, como referi anteriormente;
📖 A lista anterior é um mero guia de apoio, caso estejam sem ideias para as vossas leituras, mas podem ler outra obra do vosso agrado, desde que, naturalmente, respeite o tema central e seja de um autor português;
📖 Não há prazos, obrigações, nem meses fixos. E podem ler mais do que um livro.
📖 Utilizem a hashtag #almalusitana_asgavetas para que consiga acompanhar o que estão a ler.


O Alma Lusitana tem grupo no Goodreads. Se quiserem aderir, encontro-vos aqui.

Comentários

  1. Acho que vou optar pelo Cavaleiro da Dinamarca. :)

    Beijinho grande, minha querida!

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  2. Dicas/sugestões de leitura que muito elogio. Penso que gostava de ler o livro: O Cavaleiro da Dinamarca.
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    Boa semana …Saudações cordiais.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  3. Tantas sugestoes deliciosas para ler e reler :) Tenho o Cavaleiro da Dinamarca ca em casa e volta e meia gosto de o reler <3

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  4. Adorei as sugestões :)

    https://sobomeuolhar7.blogspot.com/

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  5. Boas sugestões. O único da lista que li foi "O Cavaleiro da Dinamarca"
    Boa semana
    Coisas de Feltro

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  6. Que tens aí umas boas sugestões para levar e até para conhecer alguns que ainda não tinha ouvido falar
    Beijinhos
    Novo post
    Tem Post Novos Diariamente

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  7. Uma Aventura na Amazónia já está na lista ;)

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