ENTRELINHAS ◾ MATAR O SALAZAR
Fotografia da minha autoria |
«O atentado de julho de 1937»
Avisos de Conteúdo: Referência a violência e tortura
A série O Atentado, transmitida pela RTP, em 2020, abriu portas para explorar um acontecimento pouco mencionado. Portanto, com vontade de conhecer os seus contornos, aventurei-me no livro de António Araújo.
O CONTEXTO DA OBRA
Matar o Salazar transporta-nos para o dia 4 de julho de 1937. Nesta data, António de Oliveira Salazar voltou a sair na sua viatura oficial para assistir à missa de domingo, celebrada numa capela particular de Lisboa. No momento da chegada, é detonada uma bomba de grande potência, mas deixa incólume o chefe do Governo.
«A pressão para apresentar resultados, a par de uma grande
dose de amadorismo, acaba por levar à captura de um conjunto de homens»
A tentativa falhada de o liquidar potencia, então, um clima de instabilidade, colocando-nos perante um processo complexo e elucidativo acerca do ambiente da época e da rivalidade entre as polícias do Estado Novo.
METODOLOGIAS ANTAGÓNICAS
Esta narrativa, para além de nos aproximar da verdade dos factos e das motivações inerentes ao plano, mostra-nos que existiram dois métodos de ação completamente antagónicos. Se, por um lado, temos a PVDE a privilegiar a tortura e a coação, por outro lado, encontramos a PIC, que procurou sempre reconstruir a veracidade das provas através de «testemunhos prestados de livre vontade» pelos vários intervenientes.
«Existiram, sem dúvida, contactos individuais entre os autores
do atentado e personalidades que, sem desempenharem papéis de primeiro plano,
se moviam num indefinível e difuso "submundo oposicionista"»
Em simultâneo, é percetível que este caráter tão oposto espelha bem a divisão da sociedade e o poder exercido neste clima ditatorial. Na tentativa de apurar o[s] culpado[s], cria-se uma autêntica caça ao homem e um desfecho revoltante, até porque há inocentes a pagar por um crime que não cometeram. Portanto, é curioso como, de repente, a missão que prevalece com mais força já nem é tanto restituir a verdade e impedir que um golpe destes se repita, mas, antes, abafar tudo o que acontecia nas instalações da PVDE. Até que custo?
PODER VS FRAGILIDADE
O atentado, que fica também marcado pela eclosão da Guerra Civil de Espanha, fortalece a imagem de Salazar, gerando uma onda de solidariedade. E é neste ponto que se compreende o poder do Estado Novo. Não obstante, face aos acontecimentos e às práticas hediondas que começam a ser expostas, é inegável que existe um traço de fragilidade a assumir protagonismo, evidenciando as tensões existentes em Portugal.
«(...) formaram-se vários subgrupos com personalidades muito diversas,
que desenvolveram acções cada vez mais afastadas das respectivas direcções políticas»
Matar o Salazar é um retrato fascinante de um momento histórico, cujo processo judicial apenas veio a ser conhecido em 1996. Pautado por iniciativas violentas e penosos interrogatórios, faz-nos questionar valores e entender as repercussões que este ato despoletou. Porque foi um grito de revolta e a tentativa de conquistar um rasgo de liberdade. Porém, até que ponto se consegue fazer justiça, quando a arrogância e o amadorismo das entidades competentes sobressai? Tudo, aqui, falhou. Menos a voz de uma minoria que abalou o sistema.
«(...) havia o sério risco de os italianos descobrirem o fiasco monumental da operação»
16 Comments
Infelizmente conseguiu escapar, como seria o Portugal hoje se o atentado tivesse resultado?
ResponderEliminarUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Foi a pergunta que coloquei logo. Nessa hipótese hipotética, será que teríamos conseguido alcançar a liberdade mais cedo?
EliminarObrigada e igualmente, Francisco
Confesso que não sou apreciadora de livros históricos, ainda assim este despertou-me alguma curiosidade. Quem saiba não lhe dê uma oportunidade.
ResponderEliminarBeijinho grande, minha querida!
Aconselho, até porque acho que está escrito de uma forma apelativa
EliminarNão conhecia :)
ResponderEliminarSe tiveres curiosidade, aconselho
EliminarMais uma excelente sugestao <3 Eu gostei muito da serie e lembrei-me das discussoes que eu tinha com o meu pai, por causa dele defender que "devia haver um Salazar em cada esquina" :( valia-me o bom senso da minha mae que sempre foi uma defensora dos valores do 25 de Abril e sempre foi uma pessoa de esquerda exatamente por nao querer voltar a viver na escuridao de uma ditadura. Hoje gostava de dizer ao meu pai a piada que mais tenho ouvido dizer sobre a frase que ele dizia: "oh pai, mas quem costuma estar nas esquinas sao as prostitutas... se calhar é melhor começar a pensar melhor nas coisas que se dizem sem pensarem, penso eu de que...
ResponderEliminarInfelizmente, confundem respeito com medo. E as coisas no tempo de Salazar pareciam funcionar [e vou colocar este pareciam dentro de muitas aspas] era somente porque as pessoas tinham receio do que lhes poderia acontecer. Ter uma sossegada presa pelo medo nunca será favorável.
EliminarNem posso ouvir falar em Salazar. Que esteja lá em paz nas catacumbas da desgraça
ResponderEliminar.
Saudações amigas
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Compreendo perfeitamente, Ricardo!
EliminarMais uma vez ainda não conhecia de todo, mas parece ser outra opção boa para conhecer
ResponderEliminarBeijinhos
Novo post
Tem Post Novos Diariamente
Vale muito a pena ler!
EliminarMais uma sugestão de leitura que vou levar!
ResponderEliminarBjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Boas leituras, Teresa
EliminarFiquei com curiosidade, já apontei! :)
ResponderEliminarwww.amarcadamarta.pt
Oh, que bom *-*
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