As minhas viagens de metro #7

«A lua está cheia, algo que me faz pensar em ti. Pois sei que não importa o que estou a fazer, e onde estou, esta lua será sempre do mesmo tamanho da tua…até do outro lado do mundo».

Tem aqui alguém a usar o teu perfume. Seria capaz de o reconhecer ainda que estivesse bastante distante. E instintivamente caí na ilusão de te procurar por entre aquelas pessoas que, sentadas ou de pé, vão absortas nos seus pensamentos. No fundo, eu sabia que não estavas ali, que não eras tu que usavas aquele perfume, que era apenas alguém anónimo com um gosto parecido ao teu, mas há algo em mim que me faz procurar-te. Mesmo que tenha a certeza que não te vou encontrar.
 

Há dias em que acordo a pensar em ti, com uma vontade louca de te mandar uma mensagem a dizer que me fazes falta e que tenho saudades. Só que já aprendi a controlar o impulso e a esconder as lágrimas. E a aceitar que já não estás mais ali, à distância de uma mensagem banal que nos levava a falar o dia inteiro. Sinto falta disso: de nunca pararmos de conversar. De termos sempre o que falar mesmo quando estávamos um dia inteiro lado a lado. Aprendi a falar contigo sobre tudo, mesmo quando as nossas opiniões chocavam e andávamos às turras - o que faz parte. Mas também isso tive que desaprender, quando senti que já nem um «olá» te fazia diferença. 

Ontem sonhei connosco, sabias? Claro que não sabias, porque agora mais parecemos dois estranhos com um passado em comum. Custa-me frisar tantas vezes isto desta maneira, só que talvez necessite disso para compreender que não posso fazer mais nada a não ser seguir em frente. Mas sim, sonhei connosco. Sonhei que me pegaste na mão e disseste que precisávamos de falar. E quando já só estávamos os dois ouvi-te dizer que sentias a minha falta e que precisavas de mim. Só que tal como nos outros dias acordei sem uma mensagem tua e passei o dia sem te ver e ouvir a tua voz. E esta realidade constante, que eu gostava de poder mudar, tem-se prolongado nos últimos tempos. E magoa, mas eu vou ser forte. Tenho que ser forte! Não passou de um sonho, mas eu já não pedia tanto. Chegava sentir que continuas ali para tudo, que a nossa amizade que eu julgava indestrutível continua exatamente assim: inatingível e naturalmente cúmplice. 

Há aqui alguém a usar o teu perfume. Mas não és tu. E eu já não te procuro como antes. E antes de conseguir ouvir que tinha chegado ao fim a minha viagem já os meus olhos avistavam a paisagem de sempre, acolhedora, que me faz sentir em casa. Assim que as portas abriram, o vento espalhou ainda mais aquele aroma doce que tantas vezes senti na tua pele. E olho uma última vez só para confirmar que não estás (mais) ali. E que está na hora de eu mudar de carruagem e de destino e de te deixar voar para outras paragens. 

A porta fechava-se atrás de mim enquanto eu me ia afastando. E com as lágrimas a cobrir-me o rosto, senti a vida a trocar-me as voltas e a levar-te para longe de mim. Para sempre! 

M, 17.10.2013