#Segundo

«Ninguém sai de onde tem paz»

Eles prometeram. E, como o prometido é devido, lançaram o segundo EP com mais quatro versões de quatro músicas portuguesas extraordinárias. Sétima Legião, The Gift, B Fachada e Pedro Abrunhosa foram os artistas escolhidos. O resultado? Ainda mais surpreendente do que aquilo que poderíamos estar à espera. Já devia saber de cor que os Aurora superam constantemente as nossas expectativas, mas é maravilhoso carregar no play e perceber que há sempre algo novo. Nunca percam este lado criativo que é tão vosso. E que vos distingue de todos os outros!

A Sete Mares carregará eternamente um misto de emoções. Se, por um lado, correspondeu à melhor prestação dos Aurora no Factor X, por outro, foi a canção com que se despediram do programa. Há um sentimento agridoce que se torna inevitável, mas que em nada compromete a dignidade com que a interpretaram. A pureza de cada palavra. A mensagem subliminar. É, para mim, uma das canções mais brilhantes do repertório nacional, por isso não escondo a felicidade que é ouvi-la nas suas vozes. Ter a oportunidade de a escutar ao vivo é ainda mais especial - e não sei contabilizar as lágrimas que não consigo controlar, porque há momentos que nos tocam de verdade. O cenário escolhido para o vídeo pode ser, aparentemente, óbvio, mas é de uma beleza deslumbrante. E a simplicidade e familiaridade com que o preenchem atribui-lhe ainda mais significado. Há uma fusão plena. E um crescimento notório desde a nona gala até aqui.

A Primavera tem uma letra maravilhosa. E é, também ela, uma das músicas que mais gosto de ouvir, por tudo aquilo que transmite. A versão que criaram para este EP será, incontornavelmente, a minha favorita. Uma sala tão cheia de vida de uma casa anónima, o som do piano, a ligação que se estreita sem haver necessidade de os olhares se cruzarem; o vídeo a preto e branco, cheio de um brilho tão próprio quanto fascinante; o contacto com a câmara que nos parece falar diretamente. Afiguram-se elementos distantes, que valem por si, mas que se complementam. E a magia que imana traduz a doçura de uma melodia que já sabemos de cor. E a janela aberta para o mundo espelha um conjunto de oportunidades que vão conquistando a pulso.

Não conhecia O Desamor, mas conquistou-me ao primeiro acorde. Uma escolha imprevisível, que corrobora o caráter inovador deste grupo cujo talento está à vista de todos. A história que esta letra nos conta tem direito a personagens fictícias e recria uma constante falsa esperança do ir sem partir. De nós. E a introspeção sistemática que nos obriga a fazer embalá-nos, ajusta-nos as expectativas, questiona-nos. O local escolhido para as filmagens é lindíssimo. E acompanha na perfeição esse lado utópico que tantas vezes caracteriza o amor. Uma guitarra e quatro vozes. E uma viagem imaginária que percorremos num só fôlego.

Para os braços da minha mãe é, talvez, a canção mais emotiva de todas, por ser uma realidade comum a muitos. Gravada num ambiente intimista, familiar, com o aconchego da lareira, pode muito bem simbolizar uma despedida ou o grito que liberta o sufoco de estar longe. Ninguém quer sair de "onde tem paz", deixar os seus para trás, mas a vida interceta o nosso caminho e, por vezes, leva-nos a fazer escolhas que nunca pensamos ser as nossas. Para um tema desta dimensão emocional o resultado só podia ser este, tal e qual como o apresentam. E é assim que encerram o segundo EP com chave de ouro!

Estas versões destacam-se pela criatividade, pela mistura de estilos, pela energia, pela verdade, pela roupagem visionária. Não consigo dizer se gostei mais deste EP ou do primeiro, mas isso só pode ser bom. E é! Só lamento não ter conseguido estar presente nos teatros para os escutar presencialmente e deixar-me cativar ainda mais. Mas é com um orgulho desmedido que sei que tiveram casa cheia em todos eles. Obrigada, não só por um dia terem decidido concorrer a um programa de televisão, ainda que em separado, mas também por continuarem a ser uma das razões pela qual serei uma eterna apaixonada pela música portuguesa. A nossa música. Obrigada por nunca perderem a vossa essência!