Gin Envenenado

Imagem retirada do google

«(...) O pior veneno é aquele que mais lhe agrada», Eliézer Augusto

Um copo de gin. Meia dúvida de palavras trocadas em surdina. E uma gargalhada que se confundia com o mar sereno.

Dois perfeitos desconhecidos passaram a coincidir, sem saberem, os seus encontros. Não se falavam, apenas se observavam casual e inocentemente à distância. Ainda assim, tinham algo em comum: a bebida escolhida para os acompanhar na hora de desfrutar dos raios de sol, numa esplanada a um palmo de distância da praia.

Nunca souberam o nome um do outro. Nem os motivos que os levavam até ali. Mas a obsessão por parte de Jaime foi aumentando em silêncio. Benedita estava longe de imaginar que aquele olhar reprovador sempre que se fazia acompanhar por uma nova companhia masculina era para si. Da mesma maneira que o belo homem de olhos cor de azeitona acreditava que o sorriso da elegante mulher de ar jovial era inteiramente seu. 

Um belo domingo de sol, os dois voltaram a cruzar-se no mesmo lugar de todos os dias, mas a história de Benedita sofreria um reverso. Ela sentiu o fogo no olhar de Jaime. A aura negra. A energia sufocante. E olhando-o com curiosidade, ignorou a sua presença e avançou até à mesa que ocupava de forma regular - resguardada, mas com a melhor perspetiva do areal e do mar que a acalmava.

- Não sendo minha, não serás de nenhum outro.

Jaime pediu dois copos de gin. E acrescentou um ingrediente secreto, com a maior descrição possível, num deles. Calmo e seguro, chamou o empregado e pediu que levasse a bebida extra e a entregasse na mesa à sua frente. Benedita, surpreendentemente, estava sozinha. De sorriso largo, agradeceu a oferta e bebeu um pouco. Quando se preparava para levantar e juntar-se a tão simpático cavalheiro, Jaime baixou o olhar e ouviu a mulher cair inanimada. 

Aproveitando o alvoroço que se instalou em socorro de Benedita, desapareceu sem deixar qualquer rasto.