ALMA LUSITANA || LISBOA:
O ANO DA DANÇARINA

Fotografia da minha autoria



Tema: Um livro que mencione outras expressões

Avisos de Conteúdo: Stress Pós-Traumático, Morte, Machismo, Preconceito


A história parece repetir-se. E há acontecimentos que, embora apresentem uma distância temporal considerável, continuam a ecoar na mente da humanidade, sobretudo, na daqueles que os sentiram na pele. Portanto, é nesse compasso das memórias que nos permitimos recuar ao passado e descobrir, através da visão criativa de Carla M. Soares, um período bastante conturbado da História - mundial e do nosso país.

«Olhar nenhum, porém, podia tê-lo preparado para 
o que o esperava no interior da estreita enfermaria»

O Ano da Dançarina é um romance histórico, que nos transporta para 1918, que ficou marcado por vários episódios memoráveis [e nem todos pelos melhores motivos]. Ainda que eu não tenha qualquer vínculo com o ano em questão, a escrita da autora, sem grandes floreados, mas cuidada e pertinente, fez-me sentir que deambulava por Lisboa e pela realidade vivenciada pelos seus habitantes. Além disso, deixou-me predisposta para compreender o impacto da guerra - quer ao nível físico, quer ao nível mental - e dos seus fantasmas.

«(...) mas a dor continuava a ser uma tortura latejante e a mão da mãe 
era suave no seu cabelo, a sua voz um embalo que há muito não tinha»

O enredo parte de uma figura central - Nicolau, um jovem tenente-médico -, que regressa a casa ferida e traumatizada, e cujo processo de recuperação não será linear e isento de medos e contratempos. Por outro lado, torna-se percetível que a mesma retorna a um país fragilizado, pautado pela agitação social e pela instabilidade política gritante. No meio deste cenário caótico, é a família que assume um papel preponderante. E a dos Lopes Moreira revelou-se um exemplo de união, perseverança, ousadia e sobrevivência. Pertencendo a um estatuto privilegiado, não se deixaram corromper, mantendo a humildade e a empatia pelos demais. Em simultâneo, foram um rosto pioneiro de certas mudanças - e na tentativa de tornar os direitos mais equilibrados.

«E, para a alma, não sei que bengala me servirá»

Esta obra leva-nos, então, numa dança ora leve, ora intensa pelo stress pós-traumático, pela gripe espanhola e pela forma como a mulher era vista e minimizada, em Portugal, no século XX. Através dos cinco irmãos - sempre acompanhados pela doce e carismática mãe -, somos confrontados pela impotência, pela vida boémia, pela doença, pelas desigualdades, pelos preconceitos e pelo desejo de emancipação. Sem esquecer uma história de amor fracassada, o desgosto que é a origem de determinados comportamentos e as feridas que demoram a sarar, a narrativa é tão emocional e humana, que nos faz sentir a fúria e a dor dilacerante da perda.

«De manhã, mal conseguia sacudir as teias da consciência, despregar 
da cama o corpo exausto e obrigar-se a olhar de frente para a vida. Ou 
para a morte, não estava certo de qual tinha maior peso na sua existência»

O Ano da Dançarina tem duplo sentido, o que torna este livro ainda mais fascinante. Com um trabalho de pesquisa louvável e temas envolventes, senti-me a caminhar perto de protagonistas cativantes, apaixonantes e com muitas camadas intra e interpessoais para explorar. De mãos dadas às cicatrizes das várias batalhas que travaram [e que tanto nos ensinam], compreendi que os Lopes Moreira ficarão no meu coração para sempre.

«O seu rosto perdeu a expressão de inocente reprimida e tornou-se sério»


Disponibilidade: Wook | Bertrand

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18 Comments

  1. Já ouvi falar muito da autora e desta obra, porém, nunca me aventurei por não apreciar o género histórico. Vou levar a sugestão.

    Beijinho grande, minha querida!

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    1. Estava mesmo curiosa e superou todas as minhas expectativas!

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  2. Mais uma excelente sugestao com temas bastante fortes. Gostei e vou levar, muito obrigada pela partilha, minha querida <3

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  3. Acredito que seja um livro muito interessante de ler
    .
    Cumprimentos poéticos.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  4. Acredita que ainda não tinha ouvido falar desse livro, mas sim, mais uma boa sugestão para conhecer
    Beijinhos
    Novo post
    Tem post novos todos os dias

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  5. Também gosto de romances históricos!
    Boa semana!

    marisasclosetblog.com

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  6. Já tinha ouvido falar da autora, mas ainda não tive a oportunidade de ler nada dela!


    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

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  7. Vou tomar nota porque parece ser o meu estilo, ou pelo menos um deles. Gosto quando há pesquisa do autor sobre uma determinada época.
    beijinhos
    Coisas de Feltro

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    1. Fiquei mesmo impressionada, ainda para mais, porque percebe-se essa pesquisa, mas não é maçadora nas descrições.

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  8. Não conhecia, mas vou guardar a sugestão.

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  9. Muito bom!! A autora lançou agora um novo livro, " Gente feita de terra".
    Não é um romance histórico mas estou a gosta muito

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    1. Já o tenho na minha lista de desejos, fiquei mesmo curiosa com a sinopse

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