MANUSCRITO EM CONSTRUÇÃO ◾ SÍNDROME DO IMPOSTOR E CRISE DE IDENTIDADE

Fotografia da minha autoria



«Palavras são, na minha nada humilde opinião, a nossa fonte inesgotável de magia»


O plano estava traçado, os receios estavam a ser desconstruídos com contrapontos lógicos e o manuscrito estava concluído, à espera de sair da gaveta. Aparentemente, estava tudo alinhado, no entanto, estagnei.


SÍNDROME DO IMPOSTOR E CRISE DE IDENTIDADE

As folhas de papel, o material de escrita e as palavras sempre foram fiéis companheiros de estrada [independentemente de qual fosse]. Mesmo que tudo fique em ruínas, acabarei por me libertar e expurgar fantasmas, se tiver onde anotar pensamentos. Por isso, ser escritora sempre esteve no horizonte, mas, a partir do momento em que assumi a intenção de tornar esse caminho mais sério, encontrei formas de me sabotar.

A Síndrome do Impostor não é uma miragem, nem um capricho: é um sacana paralisante, que nos assombra. É claro que, numa análise introspetiva, tudo isto se prende com a minha insegurança, que se agiganta e me faz duvidar das minhas capacidades. Como se torna tão audível, acredito que não tenho assim tanto para partilhar, que há muitas pessoas a fazerem o mesmo que eu - e muito melhor. Portanto, diminuo-me e o resto fica turvo.

Por consequência, o manuscrito permaneceu no lugar de onde nunca saiu. Quer dizer, minto, porque enviei-o a pessoas em quem confio. Mas nunca transpôs esta bolha de segurança. Para dificultar o processo, senti uma enorme crise de identidade a aflorar, impulsionada pelo eco das palavras proferidas por Valério Romão, aquando da Feira do Livro do Porto - e que reencontrei numa entrevista -, porque realçou a falta de experiência pessoal na poesia atual. Sendo o meu livro deste género, acusei o embate e fiquei presa à sua observação.

Reli cada verso e não me reconheci. Só não sei se por lhes faltar esse músculo ou se por ter a visão enevoada por um julgamento externo - e que nem me foi endereçado. Parte de mim, quis apagar tudo; a outra parte, respirou fundo, fechou o documento e impôs a distância necessária para pensar com clareza. Não quero, de forma alguma, que a minha escrita seja vazia. Por esse motivo, fiz aquilo que sei que faço melhor: escrever.

Um passo de cada vez, letra a letra, vou contrariando os «ses» que parecem colocar em causa a minha coragem para arriscar e para respeitar o compromisso que estabeleci comigo. Sim, há muitos autores com um talento inspirador, quase transcendente. O mais certo é que nunca alcance esse patamar e é mais do que certo que irei falhar, mas este também é o meu propósito. E não lhe faltará emoção, porque faço-o com amor.

A Síndrome do Impostor há-de habitar sempre em mim, mas, para lá do medo, encontrarei uma maneira de a silenciar. Embalada por este vaivém de vulnerabilidade, farei por pulsar o destino que se entrelaça à escrita.

16 Comments

  1. Compreendo perfeitamente o que tu sentiste. No início temos sempre receio de mostrar o que escrevemos. Quando estava a rever o meu Ao Teu Lado também senti necessidade de o deixar em pausa, por vezes também vacilo quando recebo um não de uma editora. Mas temos que confiar no nosso trabalho, não é um não que define se o trabalho é bom ou não.

    Eu adoro a tua poesia, se optares por esse género, tu sabes. Acho que é belíssima. Tenho a certeza que o livro será um sucesso. <3
    Beijinho grande, minha querida.

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    1. Sim, isso sem dúvida. Por mais lugar comum que seja, temos de transformar esses «não» em motivação, para continuarmos a investir em nós e no nosso trabalho.
      Muito obrigada pela confiança, minha querida!

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  2. Vais ver que no final tudo irá correr bem, querida! Coragem.🤍

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  3. Este teu post lembrou-me deste que escrevi aqui ha uns tempos https://matildeferreira.co.uk/2021/07/28/sindrome-do-impostor/ ... por isso entendo-te bem. Acredita que vais conseguir, demore o tempo que demorar, seja agora ou aos 35 ou 40 vais sempre a tempo de mostrar ao mundo o teu valor *.*

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  4. Fiz um artigo sobre a síndrome do impostor e é algo bem complexo!
    Aproveito para desejar uma boa semana!

    Bjxxx
    Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

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  5. Como não te compreender, mas tudo a seu tempo e um passo de cada vez que sei bem que acabamos por chegar onde queremos.
    Beijinhos
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  6. Há sempre momentos destes e está tudo bem! O importante é regressar em forças. Tenho a certeza que vais dar sempre a volta por cima destes momentos porque escreves tão bem e entregas-te tanto que tem tudo para terminar bem :)

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